Das três tonalidades da bandeira alemã, duas pintam a maior parte dos uniformes de Bayern de Munique e Borussia Dortmund. O vermelho bávaro significa bravura; o amarelo prussiano simboliza generosidade. Os dois rivais, que decidem hoje, a partir das 15h45, a Liga dos Campeões da Europa, em Londres, fazem apenas a quarta final do torneio entre clubes do mesmo país desde 1955, a primeira do país. Cenário que só foi possível por causa da determinação alemã tradução para a terceira cor do estandarte germânico, o preto.
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Há vários fatores que explicam o ressurgimento do país mais rico da Europa como potência futebolística. O mais convincente deles tem relação com a cultura nacional, que prega pela organização e eficiência em todos os aspectos, independentemente do tempo necessário para se chegar ao objetivo. Foi assim, por exemplo, na Copa do Mundo de 2006, marcada pelo planejamento e bom uso dos recursos. Várias praças esportivas foram reformadas, diminuindo os custos, que bateram R$ 4,2 bilhões. Em 2014, a estimativa é de que o Mundial supere R$ 26 bilhões.
"O povo alemão é organizado. Cheguei cinco anos antes da Copa e havia obras e até estádios prontos", constata o atacante Ewerthon, revelado pelo Corinthians e que defendeu o Dortmund entre 2001 e 2005. "Lá, tudo é projeto. Tudo que fazem é em longo prazo. E dá resultado", crava o meia Lincoln, do Coritiba, com sete anos de experiência na Alemanha.
A mesma teoria é replicada na Bundesliga, a liga mais rentável do mundo há cinco anos, segundo a consultoria Deloitte. O segredo para lucrar mais de R$ 300 milhões anuais está na simplicidade e, claro, determinação.
Além de uma polpuda fatia de direitos de televisão dividida de forma bem mais igualitária do que no Brasil, a competição tem os estádios mais cheios do mundo. A taxa de ocupação é de 93%, enquanto a média de público bate 45 mil espectadores por jogo.
O preço do espetáculo também é uma atração. Ao contrário de Premier League (Inglaterra) e La Liga (Espanha) onde um tíquete não sai por menos de R$ 96 , na Alemanha o torcedor paga R$ 48 para assistir in loco a uma partida da Bundesliga. Essa quantia vale para os setores mais em conta dos estádios, onde os fãs seguem à risca a tradição de assistir aos jogos em pé.
"Eles gostam, sentem prazer de assistir e torcer dessa forma. São os verdadeiros torcedores que vão apoiar. Os outros veem a partida como um teatro", relata o paranaense Giovane Élber, ídolo do Bayern e vencedor da Champions em 2000/01.
"Cada um torce por sua equipe, não vai pensando em guerra. As torcidas se confraternizam lá fora. E, além disso, há o conforto dos estádios", concorda Paulo Sérgio, ex-companheiro de Élber em Munique.
O apreço demonstrado pela liga para com seus clientes se multiplica em euros. Os clubes germânicos arrecadam muito com a chamada experiência do dia do jogo, que leva em conta despesas com alimentação e produtos licenciados. Para o Bayern, representa 22% da receita, praticamente o mesmo número dos rivais (20%).
A mesma lógica se aplica aos patrocinadores. Quanto mais competitivo o campeonato, mais fortes os clubes, que atraem mais investidores, que pagam mais. Um círculo virtuoso refletido diretamente na bola. "O Uli Hoeness [presidente do Bayern] costuma falar que para comprar um jogador o clube não precisa pedir empréstimo. É só tirar da poupança. Essa organização influencia demais em campo", fala Élber. "Não há loucuras financeiras em termos de contratações", emenda Paulo Sérgio.
Regras duras alertam os times que descuidam da saúde financeira. O próprio Borussia foi um deles. Ameaçado de rebaixamento por causa de dívidas, os prussianos se reconstruíram, cortaram custos, venderam jogadores e apostaram na formação de atletas da base. Hoje estão em Wembley, a um passo do título mais cobiçado do mundo.
"Quando cheguei [2001], o clube vivia um bom momento financeiramente. Mas perderam muito dinheiro na bolsa de valores. Meu salário reduziu em 20%. Perceberam que não era viável continuar daquela forma e me venderam, como muitos outros", relata Ewerthon.
A aposta nos pratas da casa não foi uma solução encontrada apenas pelos aurinegros. Depois do fracasso na Eurocopa, em 2000, a Deustcher Fussball-Bund, órgão responsável pelo futebol no país, investiu em 390 centros de treinamento de base em todo o país.
Funcionou perfeitamente. Atualmente, 70% dos jogadores da Bundesliga são forjados em casa. Reus, Götze, Lahm, Schweinsteiger e Müller são alguns exemplos. Ao todo, dez titulares da final em Wembley fazem parte da seleção nacional e estarão na Copa 2014.
"Fico contente. Pois uma coisa é certa: a Alemanha vai ganhar", vibrou a chanceler federal Angela Merkel via Facebook, depois de a dupla alemã eliminar os poderosos Barcelona e Real Madrid nas semifinais. Já ganhou. Hoje, Londres se vestirá de amarelo e vermelho. E preto.
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