O projeto da diretoria do Paraná de unificar em 2016 os trabalhos das categorias de base e do elenco profissional no CT Ninho da Gralha, em Quatro Barras, tem tudo para ser problemático. O primeiro desafio será negociar a quebra de contrato com o empresário Geraldo Barcelos, dono do terreno em que fica o CT Racco, no Caiuá, onde o time profissional treina e faz concentrações.
Em outubro de 2014, o Tricolor firmou acordo com Barcelos para alugar a estrutura por quatro anos. Os cerca de R$ 600 mil anuais de aluguel vêm sendo bancados pela empresa de cosméticos Racco, que pertence ao torcedor paranista Luiz Felipe Rauen. A ideia da cúpula tricolor é rescindir o vínculo com Barcelos e transferir o aporte de Rauen para o Ninho.
“Existe uma multa rescisória para rescindir com o Barcelos. É um problema que vem sendo tratado”, admite Leonardo Oliveira, que assume a presidência tricolor em dezembro. “Não é uma multa gigantesca, podemos pagar. Com certeza não seria um empecilho”, garante.
Mas esse é o menor dos entraves. Casa da base paranista desde 2008, o Ninho é o epicentro de uma guerra judicial envolvendo o clube, o empresário Léo Rabello, do caso Thiago Neves e o também empresário Renê Bernardi, um dos sócios da empresa BASE, parceira do Tricolor na construção do local, inaugurado em 2008.
Em 2012, o Ninho foi dado como garantia da dívida de quase R$ 30 milhões que o clube tem com Rabello. Em 2014, porém, Bernardi obteve uma liminar em que assegura que o local não poderia ser penhorado.
“Eu salvei aquele imóvel para o Paraná. Se não fosse a cláusula que estabelecemos no contrato de parceria, na época da construção do Ninho, o Léo Rabello já teria levado a sede”, diz Bernardi, que cobra do Tricolor na Justiça cerca de R$ 11 milhões pela quebra da parceria com a BASE em 2012. “Unir a base e o profissional é a melhor coisa que o clube pode fazer”, opina.
Apesar do imbróglio, o Tricolor planeja investir alto na readequação do CT para que possa acolher a equipe profissional. A construção de um hotel não está descartada. Rabello comemora os possíveis investimentos.
“Acho ótimo, vai valorizar ainda mais o que é nosso. Você não gostaria de ter uma área e ver alguém investindo nessa área por você? É maravilhoso!”, analisa o empresário, que confia que a liminar obtida por Bernardi será cassada. “Eles estão ganhando tempo. A dívida é de R$ 27 milhões. Eles pagaram R$ 3 milhões. O terreno, aliás, nem sequer cobre essa dívida. Vai demorar, mas vai acontecer. Se não for o Ninho, vamos para cima dos outros imóveis”, prossegue.
Mesmo diante desse cenário adverso, a diretoria paranista demonstra confiança no planejamento. “Existe o imbróglio. Mas hoje a alternativa mais viável financeiramente para o clube é voltar para o Ninho. Além disso, tem o ganho imaterial de melhorar nossa revelação de atletas”, confia Oliveira, que está amparado pelo departamento jurídico do clube, encabeçado por Luís Berleze, que endossa o projeto.
“O imóvel é do Paraná. Não é temerário investir no local, até porque as benfeitorias teriam de ser indenizadas futuramente”, sustenta Berleze.
A tentativa do Paraná é de retomar a qualidade na formação de atletas. A base paranista não conquista um título relevante desde 2006. Além disso, tem sido um fracasso na revelação de atletas. O último nome relevante a sair do Ninho foi o do atacante Kelvin, em 2010. Nas seleções de base a presença paranista também é nula, enquanto os rivais Atlético e Coritiba frequentemente têm jogadores convocados.