Entenda o caso
Veja como o Alviverde foi rebaixado no tapetão em 1989:
4/10/1989 Na vitória do Coritiba por 2 a 1 sobre o Sport, um torcedor se aproveita da reforma do Couto Pereira para invadir o gramado e bater em Rafael Cammarota, goleiro do time pernambucano. O clube é punido com a perda de um mando de jogo. Na sequência, a CBF determina que o confronto com o Santos seja disputado em Juiz de fora (MG). A diretoria alviverde aceita a punição, mas pede que a partida seja disputada no mesmo dia e horário de Sport x Vasco (25/10) o Coxa disputa com a equipe carioca um lugar na segunda fase.
20/10/89 O Coritiba consegue uma liminar permitindo que a partida com Peixe seja jogada simultaneamente à do Vasco com o Sport.
21/10/89 Reunião de diretoria no Couto Pereira decide que o Coritiba não vai a Juiz de Fora.
22/10/89 O Santos entra em campo e é declarado vencedor por W.O.
23/10/89 A CBF cassa a liminar e suspende o clube por 1 ano de competições oficiais.
12/89 Jacob Mehl, sucessor de Bayard Osna, costura acordo com Ricardo Teixeira. O Coritiba retira a ação na Justiça Comum. A CBF permite que o Coxa dispute a Série B em 1990. O clube só voltaria à elite em 1996.
O Coritiba tem motivo de sobra para riscar o dia 22 de outubro do calendário. Há 20 anos, uma passagem confusa mudou radicalmente a trajetória do clube. Um dos melhores times da história coxa, com chances de bordar a segunda estrela amarela sobre o escudo alviverde, terminou marginalizado, sem poder entrar em campo e condenado ao rebaixamento. Vítima de uma estratégia de defesa que mais tarde se mostrou errada, do tapetão e da poderosa caneta de Ricardo Teixeira, o então novato presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
O enredo, com direito a reuniões secretas, advogados, procuradores e liminares, começou na noite de 4 de outubro de 1989. Curiosamente, com a participação de um antigo ídolo coritibano, o ex-goleiro Rafael Cammarota, campeão nacional em 1985.
Um torcedor se aproveitou da reforma do Couto Pereira (os fossos estavam sendo construídos) para invadir o gramado e tirar satisfação com o camisa 1 do Sport, que havia discutido com o zagueiro coxa-branca Berg. O Coritiba venceu o jogo (2 a 1), seguiu bem posicionado no campeonato, mas foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) a perder um mando de campo.
O clube não reclamou da sentença, que passava o confronto com o Santos para Juiz de Fora (MG). Pediu apenas que o jogo, inicialmente previsto para ocorrer em 22/10, um domingo, fosse empurrado para a mesma data de Sport x Vasco, dia 25/10, quarta-feira Coxa e Vasco disputavam um lugar na segunda fase. "Uma questão de isonomia", diz Maurício Cardoso, supervisor de futebol à época.
A CBF, porém, ignorou o pedido. O descaso serviu de senha para a diretoria alviverde agir nos bastidores. Apesar de suspenso por ter invadido o campo contra o Apucarana, pelo Paranaense, o presidente Bayard Osna coordenava as ações. A primeira medida foi contratar o advogado Michel Assef para representar o Coritiba no Rio. "Obtivemos uma liminar", diz Mauro Maranhão, braço direito de Bayard. A decisão provisória, concedida pelo auditor do STJD, Paulo César Costeira, na antevéspera da partida, permitia ao Coxa não entrar em campo.
Na manhã de sábado, enquanto jogadores e comissão técnica chegavam ao Couto Pereira para viajar, a diretoria discutia o que fazer. Bayard, Maranhão e João Carlos Vialle (diretor de futebol) optaram por não entrar em campo. "Fui o único que votei contra", ressalta Vialle. O Santos foi proclamado vencedor por W.O.
Os cartolas só não esperavam a reação da CBF. A entidade cassou a liminar, eliminando o clube do Brasileiro. A "caneta" ainda rendeu a suspensão de competições por um ano. O Coxa teria de voltar, em 1991, pela Terceira Divisão.
De férias antecipadas, o clube usava dinheiro de bingos promocionais para quitar a folha salarial. "Ganhei a causa, mas a CBF dissolveu o tribunal", afirma Assef. "Faz tanto tempo. Não lembro de mais nada", emenda Costeira.
Contudo, prevaleceu um acordo, costurado por João Jacob Mehl, sucessor de Bayard, e Teixeira. O Coritiba abria mão de seguir com a ação na Justiça Comum. Já a CBF abrandaria o castigo, autorizando a equipe a disputar a Série B na temporada seguinte só voltaria à elite em 1996.
Fim melancólico de quem sonhava com o título brasileiro, que, por ironia, ficou com o rival carioca. "Para nós foi algo terrível, sacanagem mesmo. Pelo baile que demos no Vasco no Rio (1 a 1), tínhamos time para ser campeão", revolta-se Tostão, o craque do time.
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