Brasileiro
Vitória em Santos anima Marcelo Oliveira
No fim da manhã de ontem, sentado na primeira fileira do ônibus que fazia o trajeto entre Santos e São Paulo, Marcelo Oliveira atendeu ao telefone após três toques. O treinador do Coritiba estava rouco. "Gritei um pouquinho mais do que o normal ontem", justificou, no dia seguinte à convincente vitória sobre o Santos, na Vila Belmiro.
O segundo sucesso consecutivo do Alviverde no Brasileiro veio no momento exato para o comandante. A instabilidade apresentada pela equipe na competição fazia com que a pressão por bons resultados aumentasse a cada rodada. A campanha do vice-campeonato na Copa do Brasil elevava ainda mais a expectativa sobre o rendimento coxa-branca.
Nesse caso, a falta de voz se tornou sinônimo do que Oliveira mais prega: trabalho. Qualquer outro fator, como a insatisfação de alguns torcedores, é indiferente para ele.
"Não tenho a menor preocupação, a minha preocupação é trabalhar. Meu apego é o trabalho. Como estou trabalhando muito, não estou preocupado com esse tipo de coisa, de falou ou não falou", respondeu, incomodado.
"Em todo lugar, só recebo apoio da torcida. No campo, em todos os jogos apoiando. Nunca houve isso [instabilidade no cargo], muito menos internamente", continuou, culpando a cultura do futebol brasileiro por esse tipo de situação.
Segundo o treinador, que definiu o triunfo sobre o Peixe usando as palavras "emocionante, persistência e superação", seu trabalho é como o de uma única peça em uma engrenagem. Não é totalmente responsável pelas vitórias ou derrotas.
"É um trabalho em conjunto. Futebol não é ciência exata, não dá para botar um computador ali", declarou.
O que dá consistência ao discurso de Oliveira é o comportamento do Coritiba em campo, apesar de resultados ainda pouco lineares. Na autocrítica, a produção agrada. "Quem joga bem pode descansar a cabeça. Quem joga mal está mais distante da vitória. Quem está produzindo bem certamente daqui a pouco vai ganhar", disse.
Com mais 21 partidas até o fim de seu contrato, o mineiro de 56 anos sabe que tem total confiança da diretoria para ir além e permanecer na próxima temporada. Mesmo assim, mantém a cautela.
"Estou muito feliz aqui, com o clube, com as pessoas, pela competência, pela seriedade. Mas é cedo, porque o futebol é muito dinâmico. Fico feliz com manifestações no sentido de permanecer. Vamos aguardar", fecha, rouco, já pensando no time que vai escalar domingo contra o Avaí, em Florianópolis.
Fernando Rudnick
Mesmo após a divulgação de detalhes do projeto, Vilson Ribeiro de Andrade trata apenas como uma "hipótese" a possibilidade de o Coritiba trocar o Couto Pereira por um "novo Pinheirão". O projeto envolve o clube, a Federação Paranaense de Futebol (FPF) e um grupo investidor tudo mantido cautelosamente em sigilo.
"Evidentemente, se surgir um fato novo e for uma proposta superinteressante para o clube, nós vamos reavaliar. Eu seria hipócrita de dizer que o Coritiba não vai estudar. Mas não posso falar hoje em uma situação que não existe", despista o dirigente, que justifica a posição lembrando das obras de melhoria do Couto Pereira que têm sido feitas em sua gestão.
Ao tratar do apego emocional da torcida com o Alto da Glória razão forte para barrar qualquer mudança , Andrade mostra que, para ele, uma possível transferência não seria traumática, quebrando outra barreira para a concretização do negócio. "A vida é interessante. Quando a obra do novo estádio do Porto foi iniciada, eram muitas as contestações. Hoje ele é visto como o maior empreendimento para a cidade", diz.
O mesmo valeria para uma construção onde hoje está o velho Pinheirão. "Para a cidade seria uma solução interessante. É uma região degradada. É uma área muito importante, para empreendimento imobiliário ou estádio", ressalta.
Um grupo de investidores planeja gastar cerca de R$ 1 bilhão em um complexo imobiliário, que, além do novo lar coxa-branca, contaria com shopping, hotel e condomínio residencial no Tarumã. A intenção é erguer uma praça esportiva para 45 mil pessoas, ao custo de aproximadamente R$ 440 milhões, nos padrões atuais exigidos pela Fifa.
O problema é que o empreendimento depende da assembleia marcada pela FPF para o dia 1.º de setembro, que tratará da venda do Pinheirão. Por isso o silêncio entre os coxas-brancas. Falar abertamente da ideia pode esquentar demais o encontro, transformando-o em campo para disputas políticas e clubísticas, dizem os representantes alviverdes.
"Tem um investidor. Isso é certeza, se não a Federação não faria uma assembleia. É a análise que eu faço. Agora, eu não posso falar em hipóteses, pois não sei se será aprovada [a venda]. Antes da reunião o Coritiba não se pronuncia. A assembleia é soberana. Se não aprovar, tudo cai no vazio", afirma Andrade.
De certo, somente a disposição em não comprometer o caixa alviverde, seja qual for o futuro. "Estive em Portugal e visitei o Sporting. O clube comprometeu seu orçamento por 20 anos. Eu fui o maior defensor do Atlético em não comprometer o seu patrimônio para fazer o estádio para a Copa. O Coritiba jamais, de forma nenhuma, vai considerar uma proposta que comprometa o seu patrimônio. Eu seria irresponsável", crava o dirigente.
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