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Silvio e Silvinho Neiva Dias com a central improvisada de distribuição de cerveja: lucro garantido na clandestinidade. | Leonardo Mendes Júnior/ Gazeta do Povo
Silvio e Silvinho Neiva Dias com a central improvisada de distribuição de cerveja: lucro garantido na clandestinidade.| Foto: Leonardo Mendes Júnior/ Gazeta do Povo

Os vendedores ambulantes de Fortaleza reforçaram a insatisfação com a Fifa e a organização da Copa das Confederações. Margem de lucro baixa, demora na distribuição de mercadoria e bebida quente irritaram os comerciantes, que resolveram contra-atacar atingindo um dos pontos que a Fifa mais preza: a exclusividade dos seus parceiros comerciais dentro do estádio e nos arredores.

Basta circular pelo lado de fora da Arena Castelão, onde Espanha e Nigéria se enfrentam neste domingo (23), para encontrar nas mãos dos torcedores latas de cervejas concorrentes da Brahma e da Kaiser, as únicas com comercialização autorizada. São latas de Skol, Heineken e Devassa, que enchem os isopores de garotos que circulam a poucos metros por portão de entrada gritando "cerveja! cerveja".

Silvinho Neiva Dias é um desses jovens. Ele passa de bicicleta vendendo cerveja concorrente sem ser importunado por policiais ou funcionários do COL. "A margem de lucro é muito ruim. Com a Brahma a gente não ganha nem 80 centavos. Com as outras marcas o lucro é quase todo nosso, sem falar que é o que o pessoal quer beber", contou à Gazeta do Povo.

Quando o isopor fica vazio, ele pedala até uma rua que desemboca no estádio, onde seu pai, Silvio Neiva Dias, o espera com uma caminhonete cheia de isopor, gelo, cerveja e água. Os dois moram em Curitiba, onde têm uma loja de carros, mas passam o meio do ano sempre em Fortaleza. Viram na Copa das Confederações uma boa maneira de juntar dinheiro para que Silvinho possa comprar seu primeiro carro, mas sem se render às imposições da Fifa.

"A Fifa impõe uma parceria não condizente com as normas do país, que só interessa a ela. Uma caixa de cerveja que você compra por 15 reais no mercado é 22 na mão da Fifa. Eu não aceito isso", diz Neiva Dias, que pretende alugar um ponto para a Copa do Mundo, mas do seu jeito. "Tudo certinho, dentro da legalidade, mas onde eu possa vender o que eu quero."

Na esquina onde funcionava o ponto de reabastecimento de Neiva Dias, havia três policiais fazendo segurança. Eles não só fizeram vistas grossas para a comercialização conflitante com os direitos da Fifa, como um deles ainda fez piada quando Neiva Dias enroscou o fundo da caminhonete no meio-fio. "A culpa não é do motorista, é a da calçada que se mexeu", brincou o policial.

Cinco horas debaixo do solSem a mesma alternativa, outros ambulantes tiveram de esperar quase cinco horas pela mercadoria. A promessa era de que eles estariam com tudo na mão para começar a vender às 9 horas da manhã, mas o caminhão só apareceu para distribuir cerveja, refrigerante e água perto das 13 horas.

"Os ambulantes estão sendo humilhados. Chegamos aqui às 7 da manhã, ficamos até agora sofrendo no calor e vem o produto quente pra gente vender nesse sol", reclamou Jean Carlos Silva. "E só pode vender o que eles querem", completou.

A burocracia também irritou os vendedores. Para receber a credencial, eles tiveram de realizar exames médicos, apresentar certidão de antecedentes criminais, participar de uma série de reuniões e ainda pagar uma taxa de R$ 62. Tudo para, além das dificuldades, encarar um movimento fraco.

"Não tem organização nenhuma. Vamos começar a vender em cima da hora do jogo pra ninguém comprar", criticava Alana Coelho, outra vendedora.

Espanha e Nigéria fazem, neste domingo(23), o segundo jogo do torneio em Fortaleza. Na próxima quinta-feira (27), o Castelão ainda recebe uma semifinal, entre os espanhóis e a Itália.

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