Rudimar Fedrigo, formador de lutadores e responsável pela Chute Boxe.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Uma das primeiras ações de marketing do UFC após o anúncio da vinda a Curitiba foi uma chamada promocional na internet. No vídeo de 1min42s, a cidade é tratada como “solo sagrado das artes marciais”. Afirmação precisa, mas que só virou realidade por causa de um fator primordial: a academia Chute Boxe.

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Fundada em 1979, a escola formou atletas bemto antes de o MMA (artes marciais mistas) ser tratado como vale-tudo – nome que pegou na década de 1990.

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O precursor, Rudimar Fedrigo, um descendente de agricultores italianos, começou dando aulas ao ar livre na Praça Oswaldo Cruz, na região central da capital. Seus conhecimentos vieram diretamente de Nelio Naja, o introdutor do muay thai no Brasil.

No início, os alunos eram apenas amigos e conhecidos. Quase quatro décadas depois, neste sábado (14), a partir das 19h45, o ‘mestrão’ verá sua metodologia invadir o octógono na Arena da Baixada.

Entre os 24 lutadores do card principal, seis tem laços com a escola: Werdum, Cyborg, Shogum, Cummins, Serginho Moraes e Massaranduba. “A sensação é de que o método que criei é muito bom e funciona. Já foi colocado à prova diversas vezes. E já conquistamos praticamente tudo o que era possível”, diz Fedrigo, 53 anos.

No auge da Chute Boxe, na metade dos anos 2000, a academia rivalizava com a Brazilian Top Team, do Rio de Janeiro, como a grande fábrica de campeões.

Além da técnica apurada, o segredo do time curitibano, no entanto, estava no nível de agressividade concentrado em um simples treino. O nocaute era liberado.

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“Era porrada de verdade toda a hora”, conta José Pelé Landi-Jons, integrante da equipe original de vale-tudo da academia e ainda na ativa aos 42 anos, nos EUA.

Eleito melhor técnico de MMA do mundo pela segunda vez em 2015, Rafael Cordeiro, 42, também fez parte da turma de Pelé. O curitibano radicado californiana Huntington Beach competiu até 1999. Depois, passou a revelar lendas como Wanderlei Silva, Anderson Silva e Maurício Shogun.

A influência da Chute Boxe pode ser vista em dois cinturões do UFC atualmente. O peso-leve Rafael dos Anjos e o peso-pesado Fabrício Werdum, pupilos de Cordeiro, carregam o DNA do muay thai curitibano.“Eu olho para o card principal do UFC Curitiba e falo: esse já foi meu aluno, esse treinou comigo, esse já foi meu aluno”, cita Cordeiro, dono da Kings MMA, fundada em 2010.

O próprio Werdum, principal estrela do UFC 198, veio aprender na fonte. O gaúcho morou na academia dois anos. “A Chute Boxe deixou um legado muito importante. Tenho orgulho de dizer que fiz parte desse time”, diz.

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Cria da academia, a curitibana Cris Cyborg é a única representante com vínculo direto com a Chute Boxe no UFC 198. Uma marca tão fundamental que está tatuada na panturrilha esquerda dela. “Aprendi o primeiro soco lá”, fala Cyborg, reconhecida como a mulher mais agressiva do MMA. “Me ensinaram a não escolher adversário, a estar sempre pronta para a guerra com qualquer um”, acrescenta a lutadora, dona de 13 vitórias por nocaute.

É inegável que a grife Chute Boxe é reconhecida em todo o mundo, mas o tempo de vacas gordas passou.

Tirando Thomas Almeidas, revelado na Chute Boxe São Paulo, do técnico Diego Lima, não há nenhum outro talento perto de um cinturão importante.

Uma responsabilidade que Fedrigo confirma sentir. Ainda mais por nenhum atleta da matriz, Curitiba, estar em destaque.

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“O pessoal pergunta ‘cadê os novos talentos da Chute Boxe?’. É uma cobrança boa, que faz a gente se mexer. Logo logo vamos ter uma nova safra de campeões”, promete o mestrão.