“Na última Copa do Mundo, o Complexo Poliesportivo Pinheirão recebeu um dos maiores públicos da competição: 80 mil pessoas compareceram ao estádio para assistir à vitória da Espanha por 3 a 0 sobre a Austrália, pelo Grupo B. Pensado originalmente para abrigar até 120 mil torcedores, o estádio passou por uma grande reforma para receber jogos do Mundial, reduzindo sua capacidade original. Mas os milhares de torcedores que passaram por lá não puderam deixar de se encantar com a modernidade de suas lojas, restaurantes e a bela arquitetura da praça esportiva encravada no Tarumã.”
Saiba mais sobre a história do futebol paranaense
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Inaugurado há 30 anos, no dia 16 de junho de 1985, com um amistoso entre as seleções do Paraná e Santa Catarina, o Pinheirão ficou longe de cumprir o destino imaginado por seus idealizadores. O parágrafo acima, obviamente, é ficcional. Pelo menos parte dele. Quando José Milani, presidente da Federação Paranaense de Futebol, idealizou o estádio, ainda na década de 60, pensava em criar uma espécie de Maracanã curitibano, com capacidade para 120 mil torcedores.
Quando o estádio virou realidade de fato, já sob a gestão de Onaireves Moura, a megalomania continuava vigente: lojas, restaurantes e órgãos do governo funcionariam no estádio. Os estabelecimentos privados receberiam financiamento do Sistema Financeiro de Habitação com prazos a perder de vista para se instalar no longínquo Tarumã. Nada disso deu certo.
Bagatela
Valor gasto com o estádio na primeira fase foi de um 1,3 bilhão de cruzeiros (cerca de R$ 1,7 milhão). Só para comparar, a Arena da Baixada saiu por R$ 346,2 milhões.
A sanha por emplacar o sonho monumental, que nunca deu em nada, consumiu Moura por todo o tempo em que o cartola comandou o futebol paranaense. Até houve bons momentos. Em 1986, a seleção se despediu do Brasil rumo à Copa do Mundo no México com um amistoso contra o Chile (1 a 1) realizado na praça esportiva. No mesmo ano o dirigente conseguiu convencer o Atlético, clube que presidiu no início dos anos 80, a se mudar para lá.
Assim, em 1986 o Furacão começou a mandar suas partidas por lá. Frio, naquela época longe de tudo, e com as arquibancadas distantes do gramado (bem diferente da Baixada, que foi abandonada pelo clube), o palco se converteu em um martírio para a torcida rubro-negra.
Trambolho
O Pinheirão, em 1985, era assim: capacidade para 50 mil pessoas (25 mil deles em pé no setor chamado de geral). Havia apenas 2.300 cadeiras cobertas.
Até que em 1991 o clube decidiu voltar para casa. Foi à Justiça para romper o contrato de 100 anos com a FPF – ação que posteriormente renderia R$ 15 milhões ao Atlético – e iniciou os planos para remodelar o Joaquim Américo. Volta liderada pelo presidente José Carlos Farinhaki.
Não foi um problema para Moura, que desfrutava do poder de deputado federal. Eleito em 1991, terminaria cassado em 1993 por falta de decoro parlamentar, acusado de liderar a compra de deputados do PSD (não o atual) para aumentar o tempo da legenda no horário político.
Sem o Furacão, o Pinheirão servia ocasionalmente para a disputa de clássicos entre o trio de ferro e virou reduto do Paraná a partir do final dos anos 90. Correligionário de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, Moura conseguiu trazer a seleção para mais dois amistosos: em 1991, com a Argentina (1 a 1), e em 1996, diante de Camarões (2 a 0).
Derrota para o estado vizinho, confusão com uniforme e show abriram estádio
A festa de inauguração do Pinheirão (16/6/1985) foi uma espécie de alerta ou presságio para os anos vindouros. Com muito atraso, Onaireves Moura deu o pontapé inicial do jogo que inaugurou oficialmente o estádio: Seleção do Paraná, basicamente um combinado Atletiba, contra a Seleção Catarinense.
Leia a matéria completaO estádio ainda passou por uma reforma importante no começo dos anos 2000. A arquibancada avançou 20 metros na direção do campo e outro setor foi elevado em dois metros, melhorando a visualização do jogo pelo público. Ganhou também as cores do Paraná, que seguia como mandante no estádio.
Em julho, porém, Moura sofreria um duro golpe. Foi preso por sonegação fiscal ao deixar de recolher R$ 525 mil aos cofres da Previdência Social. Valor referente aos 5% da renda das partidas realizadas no Paraná, de dezembro de 1995 a julho de 1997.
A redenção ocorreria em 2003, quando a seleção brasileira passou pelo Tarumã novamente. Desta vez, para um embate pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Num Pinheirão maquiado para comportar o evento, o time de Ronaldo Fenômeno empatou por 3 a 3 com o Uruguai.
Tudo corria normalmente até o Brasil decidir pleitear a organização da Copa do Mundo de 2014. Foi quando iniciou uma disputa de bastidores para a escolha do estádio de Curitiba, candidata à cidade-sede. Mario Celso Petraglia, pelo lado do Atlético, e Onaireves Moura, com o Pinheirão, partiram para a batalha.
E em 30 de maio de 2007 foi desferido o golpe que lacrou o Pinheirão e enterrou o presidente da FPF. O estádio foi lacrado pela Justiça por causa de dívidas de cerca de R$ 22 milhões, com a prefeitura de Curitiba (IPTU) e o governo federal (INSS).
Criador, Onaireves Moura caiu dias antes da criatura. Pediu afastamento da Federação após o anúncio de Paulo Schmitt, procurador do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), de que o órgão faria representações contra ele. Tombou disparando contra Petraglia e Schmitt, reclamando de perseguição por causa da Copa.
Meses depois, o STJD determinou a suspensão de seis anos de Moura das funções administrativas na FPF. O cartola deixou o posto para nunca mais voltar. Em 2011, em entrevista à Gazeta do Povo, o cartola anunciou: “Dei baixa no futebol”. A última notícia é que vive e trabalha com venda de aço em São Paulo.
O mesmo ocorreu com o Pinheirão. Leiloado em 2012, o estádio continua fechado, um cemitério esportivo e túmulo da era da megalomania do futebol local.
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