Saber que o dedo polegar opositor permitiu ao ser humano distinguir-se de outros animais, por permitir a manipulação de ferramentas, não passa de cultura inútil para grande parte das pessoas. Não para a enfermeira Tânia Regina da Silva, 43 anos. Desde domingo ela não conta mais com esse dedo, nem com o indicador e o médio da mão direita.Viu sua vida mudar radicalmente por essa ausência.

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Ela teve os três dedos amputados depois de uma bomba caseira explodir em sua mão. O artefato foi atirado pela janela por "torcedores" do Coritiba que emboscaram o ônibus em que ela estava com a mãe, de 56 anos.

"Nem acompanho futebol. Nunca iria imaginar que um bando atacasse um ônibus indo para Piraquara, longe do estádio. Jogavam pedra atrás de pedra. Só ouvi os gritos. Atiraram aquela coisa soltando uma fumaça azulada. Caiu no meu colo e rolou para as pernas da minha mãe. Só pensei em jogar aquilo longe", conta sobre a reação de pegar a bomba.

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O ataque aconteceu na linha Vila Macedo–Piraquara, na entrada de Pinhais (região metropolitana de Curitiba).

"Na hora, nem senti a dor. Passei a mão no rosto, senti o sangue e só então percebi que era mão que estava machucada". A enfermeira foi levada ao hospital Evangélico para a amputação dos dedos. Ela segue em observação, sem data para recebe alta.

"Só tenho chorado. Como vou continuar trabalhando?", fala. Tânia cuida de pacientes particulares e sabe que não poderá atendê-los por um bom tempo.

"Só peço que Deus me ajude a superar", diz, enquanto começa a exercitar a mão esquerda, que terá mais trabalho daqui para frente. "Preciso agora de um advogado e um cirurgião plástico. Não tenho como pagar nem um nem outro", pede.

Além de Tânia, permanece internado na UTI do mesmo hospital Anderson Moura, 19 anos, em estado gravíssimo por traumatismo craniano. As outras 18 vítimas de lesões em decorrência dos tumultos após o jogo Coritiba e Fluminense, no domingo, já receberam alta.

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