A natação mundial vai frear em 2010. Saem os velozes supermaiôs para a reedição das sungas e bermudas. Os trajes tecnológicos levarão consigo uma profusão de recordes e deixarão um retrocesso de tempos nas piscinas. A temporada será de incerteza e adaptações.
Feitos de poliuretano, os maiôs foram banidos pela Federação Internacional de Natação (Fina) após causarem uma revolução na modalidade. Desde o lançamento do LZR Racer, em 2008, desenvolvido com tecnologia da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), mais de 250 recordes foram superados, marca jamais vista na história da natação. Só no Mundial de Roma, esse ano, foram 43.
Sem as roupas especiais a partir de 2010, os atletas terão de rever seus objetivos e mudar até a forma de preparação. Ao perderem vantagens como o baixo atrito com a água e a flutuabilidade, graças a placas de teflon acopladas aos trajes, o esforço será cada vez maior.
Estão permitidos no máximo bermudas cobrindo dos joelhos ao umbigo para os homens e maiôs e macaquinhos para as mulheres. O grande teste em 2010 será em agosto (de 18 a 21), no Pan-Pacífico, disputado na Califórnia, nos Estados Unidos.
Para o técnico Alberto Silva, do Pinheiros, o programa de competição dos atletas terá de ser revisto, uma vez que a recuperação após as provas será mais lenta diante da força extra exigida. Assim, façanhas como as oito provas disputadas por Michael Phelps, na Olimpíada de Pequim, e por Thiago Pereira, nos Jogos Pan-Americanos de 2007, ficarão mais difíceis de ser encaradas.
O impacto no cronômetro será inevitável. Ícone da natação brasileira, Cesar Cielo pretende buscar seus tempos conquistados em 2007, antes da febre dos novos maiôs. O alvo a ser batido é o aposentado Alexandr Popov. Usando sungas, bermudas ou calças permeáveis, o russo dominou o recorde mundial dos 50 m livre com 21s64 por oito anos, entre 2000 e 2008. Nos 100 m livre, Popov deteve o recorde mundial de 48s21 entre 1994 e 2000.
Nas projeções de Cielo, será possível nadar os 50 m com menos de 21s64 e talvez acima dos 21s08. Bem mais, porém, do que os 20s91 conquistados esse mês e que lhe renderam o recorde mundial, o último da era tecnológica e que provavelmente persistirá por um bom tempo. Para os 100 m, ele projeta algo perto dos 47s00, enquanto o seu recorde mundial é de 46s91.
Há quem defenda, contudo, o fim das marcas impulsionadas pelos trajes turbinados. O australiano Eamon Sullivan, medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Pequim nos 100 m livre, disse que "seria incrivelmente estúpido" manter os recordes feitos durante a temporada de 2009, com o uso da melhor geração dos maiôs, o X-Glide, da Arena.
Ele considera que, na Olimpíada de Londres, a natação terá voltado à sua normalidade sabendo o quão veloz cada atleta pode ser.
Já focado nos próximos Jogos Olímpicos, o fenômeno Michael Phelps aderiu à sunga antes mesmo da proibição das roupas.
"Tudo que acontecer entre hoje e 2012 tem a ver comigo dando meu melhor para a Olimpíada. Começar o mais cedo possível com os novos trajes foi algo óbvio", justificou Phelps, que desde novembro tem competido sob as novas exigências.
O paranaense Henrique Rodrigues comemora o fim dos modelos revolucionários. Ele mostra os dedos marcados pelos cortes provocados ao vestir o traje para reforçar sua satisfação. "É muito apertado. A demora para colocar um maiô novo pode chegar a uma hora. É preciso fazer tanta força que machuca as mãos", explicou.
Ele conta que no Mundial de Roma, seu xará Henrique Barbosa rasgou o maiô e precisou ser ajudados por meia dúzia de pessoas para conseguir vestir outro a tempo de competir nos 100 m peito. "E se suar, o maiô não sobe. Então tivemos de emprestar uma sala com ar-condicionado para conseguir vesti-lo", relembrou.
Para Rodrigues, 2010 será um ano de ressaca de resultados. "Mas acho que em dois anos as empresas devem aparecer com algo mais surreal ainda", completou.
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