Protagonistas da maior vitória e da maior frustração do Brasil em Pequim até ontem, César Cielo e Diego Hypólito inspiraram o ouro de Maurren Maggi no salto em distância. Foi a primeira medalha dourada do país no atletismo desde Joaquim Cruz, em Los Angeles-1984. E o sétimo pódio brasileiro em provas de salto.
Assim como Cielo não olha para os rivais nas raias ao lado enquanto está nadando, Maurren também tem uma superstição. Não gosta de ver ou tocar em medalhas ganhas por compatriotas, seja a premiação de ouro, prata ou bronze. Abriu uma exceção para Cesão.
"A única medalha que fiz questão de ver e olhar foi a de ouro do Cielo. Nela passei a mão e disse: Vai me dar muita sorte", contou.
Já o ginasta acabou virando amigo da campeã olímpica na Vila. Se entenderam tão bem que Diego só não ficou para ver a prova da nova amiga porque não conseguiu trocar a passagem para voltar.
"Foi incrível o que aconteceu entre a gente. Nos encontramos, conversamos muito. Ele me ajudou demais, me falou da experiência que teve, me deu força. Ia ficar para me ver, mas não conseguiu. Quero mandar um beijo muito grande para ele", disse a campeã olímpica.
Mas a principal força veio do Brasil, a lembrança da família e principalmente da filha Sofia, de 3,5 anos. Maurren chora ao lembrar as últimas palavras da garotinha. "Foi muito difícil para eu sair de casa. Ela falava que não queira que eu fosse. Eu dizia que ia buscar mais uma medalha e (chorando) ela disse: Não precisa mamãe, você já tem, fica comigo. Mas eu vim, e tive de fazer isso valer a pena."
Outro pedido da filha também não pode ser atendido. Sofia queria uma medalha de prata, mas vai receber a de ouro.
"É porque ele gosta de brincar com as minhas jóias, que são prateadas. Mas acho que agora ela já deve ter entendido que o ouro é bem melhor."
O primeiro contato com a família foi após a entrevista coletiva. Falou com a mãe ao telefone, depois com o pai. E marcou para a volta um churrasco de comemoração. "Pode comprar a picanha", ordenou.
Em São Carlos, no interior de São Paulo, a ansiedade pela prova de ontem fez com que os pais e irmãos de Maurren passassem a noite em claro. Reunida na frente da televisão, a família secou a russa Tatyana Lebedeva.
"Pedi a Deus que, se a Lebedeva saltasse mais que a Maurren, que a minha filha saltasse mais longe ainda depois", confidenciou o eufórico William. Fã dos Beatles, ele batizou a filha em homenagem a Maureen Cox, ex-mulher do bateirista Ringo Star.
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