José Luiz Bitencourt desembarcou no início da manhã de ontem em Pequim. Engenheiro em Santo André, na Grande São Paulo, havia ganho a viagem em uma promoção de uma indústria de informática. Não se sabe bem se era sorteio, concurso de frase mais interessante ou raspadinha.
Ele e outros dois amigos não estão muito para conversa, pois, faltando 25 minutos para começar a partida entre Brasil e Argentina, continuam na esquina do Estádio dos Trabalhadores, sem ingressos para ver o clássico sul-americano em terras asiáticas.
A semifinal olímpica faz as imediações da região ficarem superlotadas. Mas, exatamente nesta esquina, a movimentação é provocada por uma espécie de mercadão informal de entradas para a partida.
A reportagem já estava observando tudo havia mais de meia hora quando se deparou com a cena. Negociou alguns ingressos, mas não comprou nenhum. Bilhetes com preços que variavam entre 600 e 2 mil yuans (R$ 150 e R$ 500), mas que, na média, foram vendidos por cerca de R$ 160.
Não é como no Brasil. Na China, os cambistas são de ocasião e, para isso, nada melhor do que os Jogos. Os vendedores são, na grande maioria, jovens bem vestidos, normalmente estudantes que compraram tíquetes baratos no início das vendas e agora tentam tirar um lucro. Uma boa forma de ganhar dinheiro, mas que pode acabar em prisão.
Na sexta-feira passada, cerca de 100 cambistas foram presos perto do Cubo DÁgua, um dos locais de maior movimento, pois é onde se entra no complexo do Ninho de Pássaro, que conta com três locais de competição. Entre os presos estavam cinco brasileiros todos já soltos.
Mas nem os preços ou a ilegalidade pareciam incomodar os brasileiros. Com a ajuda da reportagem, chegamos ao melhor preço, 400 yuans (R$ 50), menos do que o ingresso foi vendido originalmente.
Curiosamente, quem estava comercializando era uma voluntária, que tem consigo uma maquininha para comprovar que o bilhete é verdadeiro. Mas o pessoal não está satisfeito, quer três lugares juntinhos, algo difícil.
No relógio, 10 minutos para o início da partida. O Hino Nacional já começa vazar do estádio. Olhamos nossas credenciais e damos adeus aos paulistas. Se tiveram sorte, não encontraram os ingressos para ver o jogo. (CEV e MR)