Ouro para transformar o esporte
Arthur Zanetti quer transformar a medalha de ouro conquistada ontem nos Jogos Olímpicos em impulso à ginástica artística no Brasil.
A disputa das argolas, na ginástica artística, é uma prova que exige força e impulsão. O paulista Arthur Zanetti mostrou, ontem, que também é uma prova de estratégia. Pensando cada detalhe de sua participação, conquistou o ouro inédito para o país nos Jogos de Londres. A ginástica artística nacional esperava pelo alto do pódio há pelo menos três ciclos olímpicos.
A vitória de ontem é fruto de meses de planejamento do técnico Márcio Goto e de uma execução perfeita do ginasta de 22 anos. Um jogo de xadrez, com elementos de ousadia e sorte. O primeiro passo foi garantir Zanetti como último a se apresentar na final, o que o permitiria ir para sua série ciente do desempenho de seus rivais.
Para isso, o estreante em Olimpíadas decidiu mudar sua série na eliminatória, diminuindo a nota de partida (avaliação máxima que indica a dificuldade da sequência) para 6.500 pontos, abaixo dos principais concorrentes, o chinês Yibing Chen (tetracampeão mundial e ouro nas argolas nos Jogos de Pequim-2008) e o italiano Matteo Morandi, que competiam com partida de 6.800 pontos. Deu certo. Zanetti classificou-se em quarto, exatamente como havia combinado com o técnico.
Na decisão, fez o inverso, voltando a nota inicial de sua série para os 6.800 originais. "Não quer dizer que complicamos a série para a final. Descomplicamos [na eliminatória]. Quando recebemos os dados da competição, soubemos que, com o sorteio dos oito finalistas, quem se classificasse em primeiro iria abrir a final. Eu não queria isso, então tiramos um elemento da série dele, para ele passar em quarto e competir por último", explicou o treinador, sobre a medida arriscada.
Levando ao ginásio a sequência que treina diariamente desde março, Zanetti somou 15.900 pontos, um décimo acima de Chen, que abriu a competição com impressionantes 15.800. Morandi, o bronze, teve 15.733.
"Fiz minha série de sempre, foi uma série maravilhosa, eu estava bem seguro do que ia apresentar. Havia dias em que eu pensava nisso, de poder ser o primeiro a ter esse pódio. Que podia ser um bronze, uma prata. Mas eu queria um ouro", contou Zanetti, que definiu a série olímpica em março, depois de ser vice-campeão mundial com 15.600 pontos, derrotado pelo chinês. "Ficamos a um décimo do Chen. Naquele momento, decidimos: ou sobe a nota de partida ou vamos ficar atrás de novo", contou Goto.
A estratégia do treinador teve ainda um prólogo pré-Londres. Ele tirou Zanetti do Pan-Americano da modalidade, em julho, com o intuito de manter o atleta bem conceituado para sua estreia olímpica. Um mês antes, em junho, ele havia conseguido o ouro na etapa de Ghent (Bélgica) da Copa do Mundo com sua melhor marca, 15.925. "Não queria [correr] o risco da nota dele baixar. Queria que chegasse aqui, perante a arbitragem, como um cara que está com uma nota muito alta", lembrou. Planejamento nota 10.
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