Às 19h15 desta sexta-feira (5), os olhos dos 70 mil sortudos “in loco” e de 3 bilhões de pessoas acompanhando pela tevê estarão voltados para o gramado do Maracanã. O estádio, velho conhecido de eventos históricos, ganha uma nova missão. Esta, talvez a sua mais difícil: provar que o Brasil, em plena turbulência econômica e política, é capaz de dar espetáculo.
A cerimônia de abertura da Olimpíada 2016 será muito mais do que o pontapé inicial dos Jogos. E cabe ao Rio de Janeiro a dura tarefa de impressionar o mundo. E com um desafio extra: suceder a altamente tecnológica, cara e bem sucedida abertura de Londres, em 2012, com bem menos dinheiro. O orçamento brasileiro é só um terço do que foi o dos ingleses.
Mesmo aqui dentro, há seus desafios. E esta é a chance de finalmente despertar o clima olímpico, ainda discreto entre os brasileiros.
Mas as respostas para todas estas perguntas só serão reveladas na noite de sexta. Até lá, cabe listar como a Rio-2016 se prepara para abrir os primeiros Jogos Olímpicos na América do Sul. E isto aqui é o que já se sabe:
O tema
Não é de surpreender: o tema da abertura é a história do povo brasileiro. Episódios como a chegada dos colonizadores portugueses e a influência dos escravos africanos são itens certos na apresentação. Estes assuntos tiveram curadoria de pensadores, artistas e intelectuais, entre eles o antropólogo Hermano Vianna e os músicos Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Neste domingo (31), cerca de 15 mil voluntários e convidados assistiram a um ensaio geral -- teve de caravelas portuguesas a uma réplica do 14 Bis.
Os criadores
A cerimônia deve durar três horas e meia: das 20 horas às 23h30. A partir das 19h15, haverá uma séries de pré-shows.
Os momentos que compõem a solenidade são a entrada dos chefes de Estado e governo (cerca de 45 estão confirmados, segundo o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério do Esporte); a entrada bandeiras brasileira e olímpica; a execução dos dois hinos, o Nacional e o da Olimpíada; e o desfile de aproximadamente 10,5 mil atletas -- um dos momentos mais esperados.
A direção artística é de um grupo que inclui Fernando Meirelles, famoso por filmes como Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel. Também estão no time Andrucha Waddington (diretor de Eu Tu Eles), Daniela Thomas (Terra Estrangeira) e Rosa Magalhães (carnavalesca que venceu cinco títulos do carnaval carioca com a Imperatriz Leopoldinense).
“Nunca fiz nada nessa escala, nem nunca mais farei na vida. Tudo é muito grande, o palco é muito grande. E a expectativa é de que 3 bilhões de pessoas assistam à abertura. É uma responsabilidade enorme”, avaliou Meirelles ao site da Rio-2016.
Deborah Colker (foto), um dos nomes mais respeitados da dança no Brasil, é a responsável pelas coreografias e promete “coisas novas e inusitadas’. São seis mil voluntários comandados pela coreógrafa.
A festa
O orçamento para a festa brasileira, de R$ 100 milhões, equivale a apenas um terço do que a Inglaterra gastou há quatro anos. Com o dinheiro curto, o que se espera é uma festa que prime mais pela criatividade do que tecnologia. “[O dinheiro] Sempre é pouco. Mas trabalhamos com a melhor matéria-prima. O que os diretores buscam é o espanto. Isso se consegue mesmo com zero tecnologia”, disse à Agência Estado Leonardo Caetano, diretor de cerimônias da Olimpíada.
Os diretores do evento terão a ajuda dos artistas que criam esculturas gigantes para o festival amazonense de Parintins e a potência das baterias das escolas de samba do carnaval carioca.
O palco, de 128 por 63 metros -- praticamente todo o gramado do Maracanã–, iluminado por 3.400 refletores, receberá apresentações de músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil (foto), Ludmilla e Anitta.
Traje de gala
O desfile dos atletas é ponto-alto da cerimônia. Serão mais de 200 delegações. A brasileira já teve seu uniforme de gala definido. Criado pela estilista Lenny Niemeyer, tem detalhes que remetem ao “clima tropical”.
Meio ambiente
Durante a cerimônia, os atletas olímpicos irão plantar 15 mil árvores que, daqui a um ano, serão levadas para Deodoro -- região na zona norte carioca, que recebe provas como o Ciclismo BMX. Os esportistas receberão um tubo com a semente para ser plantada. Esta floresta receberá o sugestivo nome de “Floresta dos Atletas”.
Quem vai acender a pira olímpica?
A personalidade responsável por oficialmente dar início aos Jogos é sempre um dos maiores segredos olímpicos. Até agora, três nomes são os mais cotados: o ex-iatista Torben Grael; o ex-tenista Gustavo Kuerten e o atleta do século, Pelé (foto).
Segundo a agência de notícias Reuters, Grael é o favorito. Ao ser entrevistado, ele se reservou a dizer que a “acender a pira seria um reconhecimento muito bacana”. O atleta já conquistou cinco medalhas na vela em Olimpíadas, duas delas de ouro, em 1996 e 2004, na categoria star.
Por outro lado, o Rei do Futebol é o atleta brasileiro mais conhecido e, sem dúvida, o que causaria mais impacto. Pesa contra ele o fato de não ter disputado olimpíadas.
O responsável por acender a chama olímpica é geralmente um nome de grande destaque. O pugilista Muhammad Ali foi o escolhido em Atlanta-1996; o ginasta chinês Li Ning, que ganhou três ouros na Olimpíada de 1984, acendeu a chama olímpica em Pequim-2008.
Nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, sete jovens atletas, com idade entre 16 e 19 anos, acenderam a chama olímpica. Cada um deles foi nomeado por um ídolo do esporte britânico.
Duas piras?
Leonardo Caetano confirmou ao canal SporTV que haverá duas piras olímpicas. Uma será acesa no Maracanã, no momento da transmissão do evento para a tevê. A outra chama, que permanecerá acesa durante todo o evento, ficará na região da Candelária. Ainda não se sabe como será o deslocamento do fogo olímpico entre um ponto e outro, uma distância de cerca de 7 km.
Diversidade
A modelo internacional Lea T (foto) vai fazer história ao ser a primeira transexual a ter um papel de destaque em uma cerimônia de abertura olímpica. Ela confirmou o convite em entrevista à BBC. Sem revelar qual será sua função, Lea disse que “a mensagem será muito clara: inclusão”. “Todos, independentemente de gênero, orientação sexual, cor, raça ou credo, somos seres humanos e fazemos parte da sociedade. Meu papel na cerimônia, num universo micro e representativo, ajudará a transmitir esta mensagem”.
Lea T, filha do ex-jogador da seleção brasileira Toninho Cerezo, já estrelou campanhas da Givenchy, Benetton, além de participar de editoriais de moda nas revistas Vanity Fair e Vogue.
Porta-bandeira do Brasil
Pela primeira vez após 21 edições olímpicas, o Brasil terá uma atleta do pentatlo moderno como porta-bandeira da delegação na cerimônia de abertura dos Jogos. A pernambucana Yane Marques, 32, foi escolhida por votação popular na Internet e seu nome foi anunciado na noite deste domingo (31) no “Fantástico”, da TV Globo.
Yane será a segunda mulher a ter tal honra. Em Sydney-2000, Sandra Pires, campeã olímpica do vôlei de praia quatro anos antes, conduziu a bandeira na festa de abertura.
Poucos políticos
O clima político parece ter repelido nomes de peso da política brasileira. A presidente afastada Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula anunciaram que não irão ao evento. a justificativa de ambos é que não há clima político para dividir o espaço com Michel Temer (foto), presidente interino -- este, sim, confirmado no evento. Outros ex-mandatários, como José Sarney e Fernando Henrique Cardoso também recusaram o convite.
No cenário internacional,não será muito diferente. Segundo o El País, somente quatro chefes de estado do G20 (os 19 países mais ricos do mundo e a União Europeia) confirmaram a presença na solenidade: François Hollande (França), Mateo Renzi (Itália), Maurício Macri (Argentina) e Peter Cosgrove (Austrália). Menos de 50 representantes dos 207 países que participam dos Jogos irão ao evento.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”