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| Foto: YASUYOSHI CHIBA/AFP

Na mídia americana, previsões sombrias sobre a Olimpíada do Rio estão por toda parte. Dos jornais aos blogs, passando por esquetes humorísticos, os Jogos são quase sempre sinônimo de zika, poluição, crime, desorganização, ameaça de terrorismo, infraestrutura inacabada e outras calamidades lembradas diariamente aos americanos.

Diante do bombardeio de más notícias, muitos desistiram de viajar. A estimativa inicial de que 200 mil americanos iriam ao Rio para a Olimpíada caiu pela metade, segundo fontes do governo citadas pela imprensa do país.

Não é para menos. Se antes a maior preocupação era ser infectado pelo zika, o vírus agora é mostrado como apenas um dos muitos problemas que deveriam levar os torcedores a pensar duas vezes antes de fazer as malas.

Guia da Olimpíada Rio-2016

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“Que bagunça. Zika, águas poluídas, caos político, recessão beirando a depressão, instalações inacabadas, crime”, escreveu Christine Brennan, repórter com experiência de 16 Jogos Olímpicos (de verão e inverno), no “USA Today”, jornal de maior circulação do país. “De todas as Olimpíadas que eu cobri, nenhuma teve tantos problemas tão perto da cerimônia de abertura. Talvez desta vez temas graves superem o que a cidade sede tem de melhor. Ou talvez sejamos todos sortudos de novo”.

Mesmo quem tenta relativizar as mazelas do Rio e lembrar que problemas mais graves marcaram outros Jogos, adota um tom soturno, como o editor Nico Hines, do site “The Daily Beast”, que descreve uma “atmosfera de guerra” devido à violência policial e de “peste”, por conta da zika e das águas poluídas.

Hines acha que o Rio está longe de entrar no “hall da vergonha” olímpica, que para ele tem no topo da lista dos piores os Jogos de Munique em 1972, quando 11 israelenses foram mortos por terroristas palestinos. Mas ele não anima muito o torcedor ao começar o texto dizendo que “os quatro cavaleiros do apocalipse parecem estar cavalgando a caminho do Rio”.

Otimistas

Embora o tom em geral seja negativo, muitos dos relatos e análises sobre a Olimpíada deixam um brecha de esperança de que a Olimpíada pegue no tranco, e que no fim das contas eles sejam considerados um sucesso, pelo menos relativo. Afinal, a expectativa está no chão.

“Com a epidemia de zika no topo, relatos de condições terríveis na vila olímpica, baixa venda de ingressos, violência policial, uma presidente afastada que enfrenta um impeachment e uma delegação russa esvaziada pelo escândalo de doping, as notícias sobre as águas contaminadas do Rio certificam que a Olimpíada do Rio será uma das mais desordenadas e desoladoras nos 120 anos desde que os jogos modernos começaram em Atenas”, prevê o “New York Times” em editorial.

O baixo astral é tão grande que causou indignação entre alguns atletas americanos que já estão no Brasil, como Hope Solo, goleira e uma das estrelas do time de futebol feminino dos EUA, que considerou “lamentável” a cobertura da imprensa.

“Acho que a mídia americana tem sido muito dura com os brasileiros’‘, disse Solo em Belo Horizonte, onde a modalidade será disputada. Para a ganhadora de duas medalhas de ouro olímpicas (2008 e 2012), a visão negativa da imprensa americana não é novidade, pois o mesmo aconteceu em olimpíadas anteriores. “Não sei porque, mas gostamos de fazer sensacionalismo com tudo e amedrontar as pessoas. Quando os Jogos começam, tudo segue conforme o planejado e acaba sendo um lindo torneio. E eu não espero menos aqui”.

Não faz muito tempo, Solo não escondia o medo de ir ao Rio, assustada com o vírus da zika. Em fevereiro, ela disse que se tivesse que bater o martelo naquele momento, sua decisão seria ficar de fora de sua terceira Olimpíada. “Jamais correria o risco de ter um bebê doente”, disse Solo, 34. “Nenhum atleta competindo no Rio deveria ter que encarar esse dilema”.

Ao ser convocada para a seleção olímpica dos EUA, porém, ela decidiu que iria “a contragosto”, e depois postou numa rede social fotos usando um chapéu antimosquito e exibindo o “arsenal” de repelentes que levaria na bagagem.

Os percalços da Rio-2016 viraram um prato cheio para os comediantes que comandam os principais talk shows da TV americana, que para muitos servem de canais de informação para saber o que está acontecendo no noticiário até mais que a imprensa.

Num esquete, ao comentar os atrasos das instalações olímpicas e as investigações de corrupção no Brasil, Stephen Colbert, do programa “Late Show”, vê um lado positivo para os que foram condenados. “Para sorte deles, as prisões só ficarão prontas em 2036”, ironizou.

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