A organização da Rio-2016 começou em julho a testar não só a estrutura para os atletas, mas também a paciência da população para os Jogos Olímpicos. A final da Liga Mundial de vôlei, no Maracanãzinho, mês passado, foi o primeiro dos 45 eventos-teste que o comitê da Olimpíada fará até maio de 2016, três meses antes da cerimônia de abertura. Já as provas qualificatórias de triatlo e paratriatlo no último final de semana (1° e 2), em Copacabana, foram o primeiro teste de disputas a céu aberto, as que mais preocupam a organização.
O diretor de Esportes do Comitê Rio-2016, Rodrigo Garcia, explica que as provas disputadas do lado de fora de estádios e ginásio geram mais preocupações por duas razões. A primeira são os fatores externos, como o clima e o comportamento do público – um exemplo é a invasão do padre irlandês que agarrou o brasileiro Vanderlei Cordeiro da Silva e mudou o resultado da maratona nos Jogos de Atenas-2004. A segunda razão é pela complexidade de se tentar alterar o mínimo possível a rotina dos moradores durante as provas. “As provas outdoor são o maior terror da organização. É onde tem tudo para dar errado pela complexidade da operação”, argumenta Garcia.
Sabendo disso, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, pediu semana passada para que a população carioca seja compreensiva nos eventos-testes. Para a realização das provas de triatlo e paratriatlo, ruas de Copacabana foram fechadas por cinco dias. Linhas de ônibus tiveram de ser alteradas e o estacionamento em algumas vias ficaram com horários restritos.
Para organizar toda essa operação, a prefeitura do Rio mobilizou 2,5 mil agentes de trânsito. E para o próximo final de semana (8 e 9) a operação será retomada, agora no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, que recebe o terceiro evento-teste dos Jogos Olímpicos: o Mundial júnior de remo.
“O Rio não é só festa. As pessoas também têm que trabalhar. Mas como Copacabana sempre é escolhida para os eventos, seja revéillon, parada gay, passeatas, provas esportivas, é o morador do nosso bairro que sempre enfrenta as consequências”, enfatiza o presidente da Associação dos Moradores e Amigos de Copacabana e Adjacências (Amacopa-AD), Marcos Jardim Freire.
A reclamação do presidente da Amacopa-AD não é em relação ao país receber os Jogos Olímpicos. Mas sim da forma como a prefeitura realiza esses eventos. “Eles vêm com o pacote pronto, não ouvem a população. E Copacabana tem muitos moradores idosos. Então deveria ter um tratamento melhor”, afirma.
Morador da Avenida Atlântica há 20 anos, o aposentado Albino Dias Figueiredo, 82 anos, admite as dificuldades nos dias de eventos em Copacabana. “Esses dias mesmo, recebi a visita da minha filha que mora no interior e ela teve que ir embora às 7 da manhã porque senão só conseguiria sair no fim da prova, lá no fim da tarde”, explica. Mesmo assim, Figueiredo acredita que vale o esforço da família para receber a Olimpíada. “Eu aprovo a Olimpíada. Se todo mundo colaborar um pouco, não tem problema”, considera.
Já a também aposentada Maria Helena Ottoni, 74 anos, se irrita só de pensar que o bairro vai receber mais provas até os Jogos em agosto do ano que vem. “O trânsito já é caótico e eles ainda fecham a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, que é o principal acesso do bairro. Sem contar a dificuldade para a gente andar”, reclama a moradora do bairro há 30 anos. “Eu não tenho nada a ver com Olimpíada. Não vai trazer nada de bom para o país”, considera a aposentada, que ficou indignada por ter de andar três quarteirões a mais da praia para casa por causa dos desvios da prova de triatlo.