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Zé Roberto pretende continuar na seleção após a Rio-2016. | Divulgação CBV/
Zé Roberto pretende continuar na seleção após a Rio-2016.| Foto: Divulgação CBV/

José Roberto Guimarães, 61, é o único brasileiro a conquistar três ouros olímpicos, embora não ostente qualquer medalha pela conquista.

Isso não diminui em nada suas façanhas. Referência do vôlei nacional, o técnico tentará nos Jogos Olímpicos do Rio, de 5 a 21 de agosto, levar a equipe feminina brasileira ao tricampeonato consecutivo --ele também foi ouro em Barcelona-1992, mas com o time masculino.

Zé Roberto, como é conhecido, afirmou que não tem pensado nas marcas que pode alcançar.

Em entrevista, o técnico diz se preocupar com o futuro do Brasil e do esporte brasileiro após 2016. Afirmou que tem como objetivo continuar na seleção feminina depois dos Jogos Olímpicos e que os Estados Unidos são o maior rival na busca pelo ouro.

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“O Rio vai ser o maior desafio de nossas vidas”, concluiu.

TETRACAMPEONATO OLÍMPICO

“Eu não penso muito em termos de tetra, tri ou qualquer outra coisa. Nossa missão é muito mais importante. Eu penso jogo a jogo, nos dias que faltam, na preparação, isso me deixa agitado e muito preocupado. Não temos ingerência sobre as jogadoras quando elas estão no clube. Tento me comunicar com técnicos, preparadores, para saber de alguma coisa. Hoje [terça], por exemplo, tive contato com a Sheilla. Minha preocupação é essa, com estado físico e psicológico delas, de como estão se preparando.”

REGRESSIVA

“É contagem dia e noite, é complicado. Sabemos da responsabilidade, da expectativa, que o time vai jogar em casa, que é bicampeão olímpico. Há um trabalho de base, que começou no momento em que caiu a última bola em Londres, com um ataque da Fernanda Garay. Comemoramos um dia e já no dia seguinte já estávamos pensando.”

APRENDIZADO

“Se não tivesse acontecido 2004 [derrota na semifinal para a Rússia], não teria os ouros [de Pequim e Londres]. Aquilo mudou todo o processo de treinamento. 2012 foi um ciclo bastante difícil também, em função de termos ganhado uma Olimpíada. Você é o time a ser batido, muita gente se inspira no time do Brasil e quer jogar da mesma forma. Os outros times também querem ganhar uma medalha de ouro.”

CRISE NA CBV

“As denúncias contra a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) não atingem a gente. Não vem de encontro. Eu sempre me limitei a fazer as coisas para as quais sou contratado. Nunca me envolvi nas coisas internas da confederação. Não chegou a atingir porque delegamos a pessoas capacitadas e vivendo o dia da confederação. Até porque eu moro em São Paulo e vou para o Rio às vezes. O planejamento está todo pronto. Já tivemos duas reuniões neste ano, com as datas, está tudo pronto.”

FAVORITAS NA OLIMPÍADA

“Eu vejo os times dos EUA hoje e acho que [o técnico Karch] Kiraly tem a melhor seleção do mundo hoje. São 250 jogadoras atuando fora dos EUA. Eu levantaria a mão para o céu se tivesse a mesma situação dos EUA. A seleção americana é a melhor. Mas Olimpíada tem uma química diferente. Eu vi alguns melhores times do mundo chegarem aos Jogos Olímpicos e sucumbirem. Mas eu pontuaria EUA, Rússia, Sérvia e China como favoritas. Pode acontecer de a Holanda complicar a vida de alguns times, se se classificar. E o Brasil.”

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PROBLEMA NA BASE

“Nós já estamos sentindo impacto na base. Alguns anos atrás tínhamos uma quantidade de equipes de base duas ou três vezes maior do que hoje. Acho que vamos sofrer no futuro. Estamos com um gap grande na base e isso vai ser muito difícil para o futuro. Quando perdermos algumas jogadoras deste ciclo, teremos dificuldades no futuro.”

SOLUÇÃO PARA BASE

“Temos tentado mudar. Pedimos que técnicos das equipes adultas colaborassem e vamos ficar mais perto da base daqui para a frente. Queremos ajudar na filosofia de trabalho, no volume de treinamento.São coisas que podem melhorar a busca. Lembro de técnicos antigos que viviam atrás de jogadoras, em pontos de ônibus. Às vezes a jogadora nem sabia andar direito e era chamada. Não sei, parece que isso parou de ser feito. Quando perdermos a Fabiana e a Thaisa [centrais], teremos sérios problemas contra equipes mais altas. Seria interessante ter um time pronto atrás desse, mas não temos.”

SELEÇÃO APÓS 2016

“Eu deixo a coisa em aberto. Não fecho a situação. Se ganharmos a medalha, não quero parar não. Penso em continuar com a seleção. Tudo depende de resultado. Estou em forma ainda (risos).”

ZIKA

“A preocupação com a zika é sempre grande. Mas a gente tem um certo histórico disso. Não com zika, mas com dengue. Como treinamos em saquarema, ficamos muito ligados o tempo inteiro, e lá nunca tivemos um caso. A Sheilla teve, mas não em Saquarema. Elas estão conscientes disso há um tempo. É uma preocupação grande, mas é o nosso povo que tem de se conscientizar de não deixar água parada, entulho. São cuidados que a gente tem e está todo mundo ligado nesse assunto. Eu acredito que vai dar tudo certo, porque caso contrário será uma grande frustração, uma grande vergonha que pode acontecer nos Jogos Olímpicos. Pode ser uma coisa muito ruim para a imagem do nosso país.”

CONFIANÇA

“Acho que vamos realizar uma das melhores Olimpíadas da era moderna. A melhor que fui foi Barcelona. China foi excepcional, Londres foi muito boa, mas a felicidade que Barcelona teve, de fazer a Vila Olímpica na praia... Mas acho que o Rio tem tudo para estar ali com Barcelona. Quanto ao povo, acredito que vamos dar um show.”

CRISE NO BRASIL

“A crise econômica é complicada. A situação como país muito difícil. O que acontece no Brasil me deixa triste por causa da credibilidade, da confiança e do futuro. Não sei o que vai acontecer no Brasil depois dos Jogos. Não sei quantos clubes teremos na Superliga no ano que vem. Hoje, estão todos em um compasso de espera muito grande para sentir a economia.”

CRISE NO ESPORTE

“Eu me preocupo com o esporte brasileiro pós-Olimpíada. O legado mais importante do Rio será a história, de ter os melhores do mundo competindo no Brasil, de nossos adolescentes estarem vendo e presenciando esse fato, de se espelharem neles. Vamos estar em um momento muito particular da vida brasileira. É preciso de investimentos, mas não sei como eles ficarão depois dos Jogos. Estou um pouco cético em relação ao que vai acontecer no futuro. Ouço alguns economistas falando e eu fico muito preocupado. Todos nós estamos em uma situação difícil. Todos os dias se discute e quando ouvimos ficamos mais tristes e incrédulos. Os reflexos da economia serão sentidos. Clubes serão diminuídos. Meu medo é que as jogadoras saiam do Brasil.”

SAÍDA DA SELEÇÃO?

“Já tive propostas de seleção e de clube, para 2016 e para após 2016. Ser técnico de clube, sim, me atrai. Não fecho portas para nada. No futuro, não sei o que vai acontecer. Mas voltaria a ser técnico de clube. Em 2014, eu quase fui para o Dinamo Krasnodar [da Rússia]. Estava com contrato pronto, tudo esquematizado. Queria fazer como nas Olimpíadas anteriores, quando treinei clubes da Itália e da Turquia. Mas eu declinei. Eu queria estar mais voltado para a seleção brasileira, para ver campeonatos, tranquilo com a cabeça voltada para meus adversários.”

ANO RUIM DE ESTRELAS

“É preocupante que algumas jogadoras tenham desempenho irregular na Superliga [como Jaqueline]. Eu nunca fechei questão sobre a equipe do Brasil. Se aparecer uma menina nova e bem, não tem como, eu levo. Mas tem que surgir.”

CÓDIGO DE CONDUTA NA SELEÇÃO

“Não podemos ter musa, dondoca, linda maravilhosa. Importa o quanto de erro e acerto ela comete, os pontos. Isso importa. O resto preferimos deixar lá fora, porque não contabiliza.”

HOMOSSEXUALIDADE NO ESPORTE

“O que digo é que respeitem os muros da seleção. Dentro da seleção, nós somos uma família só. Um tem que responder pelo outro. Fora, cada uma faz o que quer.”

PROJEÇÃO DE MEDALHAS

“O COB (Comitê Olímpico do Brasil) tem que fazer essa projeção, de 27 medalhas. Mas a gente não tem que ficar pensando nisso. A pressão já vai ser enorme. Acho que o Brasil vai ser uma potência olímpica daqui a 20 anos, não agora. Não faço esse tipo de conta. Acho que o vôlei tem condição de brigar, o basquete, o handebol [por medalhas].”

POTÊNCIA OLÍMPICA

“Acho que o Brasil estará entre os três melhores países da Olimpíada em 20 anos. Temos habilidade, talentos em todas as modalidades de esporte. Se tivermos recursos e se fizerem a coisa como deve ser feita, temos condição de ser uma potência no futuro.”

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