"Essa medalha vai mudar muito minha vida agora", disse a judoca Sarah Menezes, na tentativa de prever o que o primeiro ouro conquistado por uma brasileira no judô representa.
O discurso projeção para melhores dias nas finanças e no reconhecimento como atleta veio com a mesma convicção que mostrou nas cinco lutas até ser tornar campeã olímpica na categoria 48 kg. O segredo do triunfo a piauiense conta com a mesma desenvoltura que luta. "O fundamental foi a minha cabeça". E a mente foi de fato o ponto-chave do triunfo.
Aos 22 anos, a piauiense interrompeu ainda um jejum de 20 anos sem ouros do país no tatame Rogério Sampaio foi o último, em 92 e se tornou a segunda mulher do país com o título individual olímpico (a saltadora Maurren Maggi venceu em Pequim).
Ainda emocionada com a façanha, Sarah garantiu em entrevista que entrou para a última luta convicta da vitória. "Vim num crescente. Na final, estava me sentindo tão bem como se fosse um treino", contou ela, referindo-se ao combate ante a romena Alina Dumitru, campeã em Pequim-2008. Uma rara frieza.
"Acho que a minha vitória foi como a do Aurélio Miguel [Jogos de Seul, em 1988, quando Sarah não era nascida], uma competição bem estratégica. Pensei muito cada combate, não me arrisquei, não ganhei nenhuma luta por ippon", conta.
Estratégia e convicção, a garota exibe desde quando começou a praticar judô, a contragosto dos pais, que achavam o esporte masculino demais. Prova disso está no fato de negar propostas para treinar fora de Teresina, onde nasceu. A nova herói do esporte nacional não abre mão de seguir sob o comando do técnico da infância, Expedito Falcão.
Para continuar treinando no Piauí, Sarah recebe ajuda de custo da Confederação Brasileira de Judô e conta que, há poucas semanas, recebeu do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tatames para montar uma Associação de Judô na sua cidade natal.
Na arena de Londres, ela confidencia, porém, que nem todos os momentos do título foram de serenidade e aí entrou a força cerebral da nordestina. Depois de vencer a vietnamita Ngoc Tu Van na primeira luta; bater a francesa Laetitia Payet na segunda; e a chinesa Shugen Wu pelas quartas de final; viu a ansiedade aparecer. "Aí eu falava para ela: sai para lá".
Antes de enfrentar a belga Charline van Snick, na semifinal, viu Alina vencer a japonese Tomoko Fukumi e percebeu que ficaria com o ouro. "Eu tinha um bom retrospecto nas últimas vezes que enfrentei a romena".
Há quatro anos, nos Jogos da China, Sarah, então mascote da seleção, foi eliminada no primeiro combate. A lição lhe deixou à vontade para aplicar ippon, wazari e yoko nos receios.
Parte da tranquilidade "adquirida" foi resultado ainda do trabalho com uma psicóloga. Nem mesmo a infeliz declaração de dirigentes da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) de que "uma medalha no primeiro dia de competições facilitaria o caminho para mais medalhas", a deixou pressionada. Hoje, ela volta ao tatame para ajudar a amiga Erica Miranda a se aquecer para as disputas da categoria até 52 kg.
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