Não foi em Toronto que o Brasil quebrou um tabu que já dura 44 anos e voltou a disputar uma final individual na esgrima dos Jogos Pan-Americanos. No Canadá, foram três oportunidades, nenhuma delas bem sucedida. Nesta quarta-feira, foi a vez de Ghislain Perrier, no florete, ser derrotado na semifinal e ficar com o bronze.
Ghislain nasceu em Fortaleza, mas foi adotado por um casal francês quando tinha um ano de idade. Até hoje não conhece seus pais biológicos, assim como não conhece muito mais do que “obrigado” e “eu sou muito contente com essa medalha”. Diante da possibilidade de competir pelo país natal, resolveu mudar a cidadania esportiva em 2013, tornando-se um dos principais nomes da esgrima nacional, o primeiro a ganhar medalha em uma etapa de Copa do Mundo.
Em Toronto, acabou derrotado na semifinal por 15 a 12 pelo norte-americano Gerek Meinhardt, oitavo do mundo e medalhista de bronze no Campeonato Mundial, há apenas seis dias. O brasileiro garantiu o bronze porque, nas disputas individuais de esgrima, não existe jogo pelo terceiro lugar.
Sem apoio
“Espero que essa medalha faça eles olharem diferente por mim. Não recebo o mesmo apoio que os outros atletas, e sou o número um do país”, reclama o esgrimista.
Ele ganha cerca de R$ 4.000 da Confederação Brasileira de Esgrima (CBE), mas não tem o apoio da Petrobras, ao contrário de outros atletas da seleção.
“A Petrobras se recusa a conceder-me porque eu sou o melhor atleta do Brasil em florete, mas eu aprendi esgrima na França. Isso é totalmente discriminatório, eu sou brasileiro, nasci em Fortaleza, eu tenho um CPF brasileiro, passaporte e até mesmo uma conta bancária”, afirmou à Folha de S.Paulo antes da disputa no Pan.
Segundo a Petrobras, Ghislain está fora do programa de apoio da empresa porque ele visa investir no “desenvolvimento de atletas brasileiros que careciam de recursos para seu aprimoramento técnico”.
A justificativa da Petrobras em relação a Perrier é que “face sua vida esportiva ter sido toda trilhada na França, ou seja, polo de referencia mundial da modalidade, era de que ele não se enquadrava a esse fundamento do programa de desenvolvimento”.
Em contato com a Folha de S.Paulo antes do Pan, Perrier também reclamou do Pinheiros.
“O clube não me ajuda. Ele é feliz em falar dos meus resultados na imprensa ou nas redes sociais, mas isso não me ajuda em nada”, disse.
“Nathalie está na mesma situação. O clube Pinheiros nos considera como brasileiro ou estrangeiro?”, questionou. “Enquanto isso, outros atletas de nível inferior têm bolsas”, reclamou.
Em resposta, o Pinheiros disse que “como os demais atletas do clube, ele pode usufruir da estrutura do Pinheiros para treinamento e preparação. Desconhecemos e não fomos notificados oficialmente sobre qualquer descontentamento do atleta em questão.”
Outras provas
Na segunda-feira, o Brasil subiu pela primeira vez ao pódio na esgrima em Toronto com o bronze de Renzo Agresta, que, no sabre, venceu no caminho o vice-campeão mundial. Na terça, foi a vez de Nathalie Moellhausen terminar em terceiro, na espada.
Em Guadalajara, o Brasil também ganhou três medalhas, todas de bronze, mas duas delas vieram nas disputas por equipes, que começam apenas nesta quinta-feira. Como cada país tem apenas uma equipe, as chances de o Brasil ir ao pódio são maiores.
Eliminados
No florete masculino, o Brasil também foi representado nesta quinta-feira por Guilherme Toldo, número 51 do ranking mundial, que foi eliminado por Massialas, melhor do mundo na atualidade. Ele volta a competir no sábado, por equipes, com Ghislain e Fernando Scavasin.
Entre as mulheres, a caçula Gabriela Cecchini, de apenas 18 anos, medalhista em Mundial Cadete, foi quem chegou mais longe. A gaúcha perdeu nas quartas de final, para Lee Kiefer, dos Estados Unidos, quarta do mundo. Já Bia Bulcão parou na canadense Kelleigh Ryan, nas oitavas de final. Por equipes, elas terão a companhia de Taís Rochel.
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