O curitibano Alexandre Ramos, 24 anos, viu sua vida mudar após a tarde de 6 de dezembro de 2009. O lutador, apelidado de Sangue por sair dos treinos sempre machucado, ainda enfrenta as consequências de ter participado da briga generalizada no Couto Pereira após o jogo contra o Fluminense. Expulso da academia UDL onde foi readmitido um ano depois , proibido de frequentar estádios por três anos e marcado como delinquente, o pupilo de Maurício Shogun garante que o passado repleto de confusões nos estádios ficou para trás. Eliminado no programa de estreia do reality show The Ultimate Fighter, Sangue conta como foi o tempo em que era "viciado em briga", situação que quase o matou.
Sua cabeça mudou mesmo após o quebra-quebra de 2009?
A parada é que eu aprendi que o esporte salva, véio. Esporte salva todo mundo, desde um viciado em drogas... E eu era um viciado em briga.
Você ia ao estádio só para brigar?
Eu ia para ver o jogo, mas brigava pelo time. O que podia fazer pelo time era brigar com os outros. Não é uma coisa certa, mas era como eu pensava. Na época eu gostava disso, era um modo de me divertir e de um monte de gente também. Hoje sou focado só na minha carreira. A luta me salvou.
Não fosse aquele incidente você ainda estaria brigando?
Acho que não. Era moleque e não pensava no meu futuro, não me imaginava como lutador que hoje sou. Quero ser um lutador top, e não dá para se envolver nesse tipo de coisa. Na academia tem toda uma disciplina que você tem de seguir. Você tem de se controlar. Sempre tive problema de ser hiperativo e qualquer coisa me tirava do sério.
Quando você entrou para a Império Alviverde? Por que você quis fazer parte da organizada?
Com uns 16 anos... Sempre fui louco pelo Coritiba e queria representar de algum jeito. Fazia parte da equipe do material da torcida e ia de graça para os jogos. Meu trabalho era cuidar das faixas, das bandeiras. Por gostar de sair na porrada, também protegia os nossos materiais nas viagens.
Você participou de várias brigas então?
Participei, infelizmente, de vários acontecimentos. Já fiquei vários dias no hospital. Briga de torcida sempre existiu e não vai ser hoje que vai parar de existir. Ainda mais em clássico.
Brigou muito em Atletiba?
Atletiba foi o que mais participei, né? [risos]. Indo pro jogo, um Atletiba normal, com teus amigos, os caras pegam, te veem com roupa da organizada e quebram o ônibus onde você está. Aí se o cara não te derrubou nas primeiras pedradas, você vai atrás dele.
Como você foi até parar no hospital?
Foi em um jogo que teve as três torcidas no mesmo horário. Aí aconteceu de estar voltando e rolou uma confusão em um tubo. Chegou a polícia e separou a galera. Me perdi de quem ia para casa comigo. E aí descendo uma rua e cruzamos com a torcida inteira do Atlético. Como nunca fui de correr, fui enfrentar, mas não deu pra gente.
Apanhou muito?
Fiquei esticado no chão. Na verdade, o bom senso de um cara que já me conhecia foi o que não deixou que me matassem. Na hora em que estava apanhando no chão escutei a voz dele mandando a galera parar. E nisso uma mão lava a outra. Em outro Atletiba levamos a melhor em uma confusão e esse mesmo cara que me protegeu foi um dos que ficou no chão. E daí não deixei massacrarem ele.
Você chegou a se envolver com drogas?
Não gostaria de falar sobre isso.
Você se arrepende dessa vida de brigas?
Cara... É sempre um aprendizado. Tudo na vida vem para você aprender, né? Isso com certeza foi um grande erro, mas com certeza se não tivesse feito esse, teria feito outros. Todo mundo erra. Graças a Deus eu estou vivo. Tem muita gente que fica pelo caminho. Me reabilitei, mudei meu pensamento.
Continua indo ao estádio?
Uma das coisas de 2009 que sobrou na Justiça foi não frequentar estádio por três anos. No fim do ano acaba a punição, mas quero ficar ali tranquilinho, só torcer e cantar. Não quero participar de mais nada. Ainda mais com a minha profissão.
Você preocupa com essa marca de 2009?
Eu dava bastante atenção para o que os outros falavam. Não estou me comparando, mas se nem Jesus Cristo agradou todo mundo, não vou ser eu quem vai agradar. Tenho meus amigos e quem quiser chegar para somar pode vir. Quem quiser atrapalhar só desejo tudo de bom. Minha meta é treinar para ser campeão e nada vai me desfocar. Aprendi que meu maior inimigo sou eu mesmo. Então as artes marciais me fazem segurar minha onda, cuidar mais da minha cabeça. Antes eu era muito explosivo, fazia tudo pelo impulso. E a vida não é assim.
O Shogun te ajudou a mudar de pensamento?
Ele fez o trabalho dele. Enquanto faixa-preta de artes marciais ele preza pela disciplina. É um exemplo de atleta, uma pessoa que não fala mal de ninguém. Ele fez certo, ficou bravo comigo, porque é uma coisa que eu não deveria ter feito. Mas eu reconheci meu erro, ele confiou em mim e com certeza um dos meus motivos de não voltar a fazer nada de errado é por causa dele. Muita gente o criticou, mas ele viu que sou outra pessoa e me readmitiu. É um pai pra mim.
O que você diria para quem está nessa vida de briga de torcida?
Diria que torcida organizada é outra coisa, não é briga. A torcida existe pra empurrar o time, cantar o jogo inteiro, viajar para apoiar o time, fazer trabalhos sociais. Inclusive meu plano é de abrir uma academia para quem é viciado em drogas para tirar a galera dessa vida. Não dá futuro, você vive um ano brigando, mas uma hora ou outra podem te pegar e te matar.
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