O ensino a distância democratizou o acesso aos cursos de graduação no Brasil| Foto: Bigstock

Por muito tempo, a expressão “estudar por correspondência” foi utilizada de forma pejorativa para se referir a um profissional sem habilidades. Porém, com o passar dos anos, muito mudou em relação à educação a distância e a modalidade foi recebendo avanços e ganhando notoriedade. 

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O primeiro registro de EAD no Brasil aconteceu em 1904, quando o Jornal do Brasil registrou um anúncio de profissionalização por correspondência para datilógrafo. Depois disso, houve a utilização de rádio, material televisivo, revistas, gibis e várias formas de viabilizar o estudo a distância. 

“No final da década de 1990, com a abertura econômica e a liberalização do ensino superior privado, houve um crescimento dos cursos de EAD. Mas como ensinar a distância num país tão grande? Tinham enormes carências educacionais e acreditava-se que até o ponto da internet não estar tão disseminada, o aluno teria dificuldade de estudar a distância”, explica Hugo Eduardo Meza Pinto, que atua com educação a distância desde 2000, e é professor da Faculdade Estácio Curitiba e doutor pela USP. 

Em 1996 foi criada a Secretaria de Educação a Distância (Seed) pelo Ministério da Educação e então a educação a distância surge oficialmente no Brasil. Com o passar dos anos, algumas evoluções educacionais e tecnológicas, proporcionaram crescimento ao EAD. “O surgimento das metodologias ativas, assim como uma nova pedagogia e a consolidação da internet, facilitaram a evolução do EAD. Outro ponto que favoreceu foram os baixos valores do ensino a distância, já que há muitas pessoas com dificuldade econômica que não conseguem pagar os ensinos presenciais”, afirma Pinto. 

Acesso à educação

A educação a distância tem uma relevância social, já que permite o acesso ao sistema para pessoas que se encontram distantes das instituições de ensino superior ou não têm muito tempo disponível para isso. O aluno pode fazer graduação, pós-graduação ou tecnólogo sem sair de casa, ajustando os horários como for adequado. 

O advogado Luis Gustavo Magnani cursou pós-graduação em Direito Processual Civil na modalidade EAD e acredita que o ensino a distância é uma chance de se especializar. “É mais uma opção para atender à demanda que não seria suprida pelos cursos presenciais, então torna realmente universal o acesso à educação”, conta. 

Uma opinião é unânime: a internet revolucionou o ensino a distância. De acordo com Mary Murashima, diretora de soluções do Instituto de Desenvolvimento Educacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV IDE), a qualidade das conexões melhorou muito ao longo dos anos e favoreceu os cursos que usam a rede para a veiculação de material. “Outro ponto que alavancou o EAD foram as vídeos-aulas. A possibilidade de trazer a visualidade do conteúdo, não apenas pela leitura dos materiais, mas também vendo o professor na interface foi um ganho para a modalidade”, explica. 

A flexibilidade é uma das razões que mais atraem novos alunos. “Escolhi o ensino a distância por ser a melhor opção no momento. Iniciei o curso superior aos 51 anos, com uma vida profissional já muito bem definida e comprometida com as devidas demandas, enfim, uma vida em andamento inadequada às necessidades do estudo tradicional”, conta Cintia Napoli, diretora do Balé Teatro Guaíra, que cursou graduação e pós-graduação pelo prazer do aprendizado. 

Vantagens 

Há muitas questões que beneficiam o mercado da educação a distância. Além dos crescentes avanços da tecnologia, os valores acessíveis atraem cada dia mais alunos que não conseguiriam pagar por uma universidade presencial. 

Segundo Murashima, uma vez produzidos os materiais para o EAD, independe do seu custo, ele alcançará milhares de alunos, simultaneamente. “É bem provável que a gente possa utilizar várias das estratégias da modalidade a distância para facilitar o processo de aprendizagem aos cursos presenciais”, explica. 

O perfil dos alunos também já não é mais o mesmo de anos atrás. Antigamente havia uma maior necessidade de estar presencialmente na sala, hoje em dia a população está mais conectada e acostumada com o ambiente digital. Junto com a evolução do mundo, está também o da educação e o mercado de EAD está crescendo exponencialmente acompanhando essa demanda. “Podemos dizer que o EAD não é uma aposta, é uma realidade. É só ver a quantidade de cursos que abriram nos últimos anos, principalmente a partir de 2017, quando o MEC liberou o processo de expansão do EAD”, confirma Pinto. 

Novo modelo de ensino 

Foi-se a época em que o ensino a distância era visto com maus olhos pelo mercado de trabalho. Hoje um aluno de EAD, apresenta características que interessam muito o empregador. Mary Murashima, diretora de soluções do Instituto de Desenvolvimento Educacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV IDE), conta que os alunos cresceram com a conectividade. “Eles aceitam um outro modelo de comunicação, enquanto as gerações passadas estavam dependentes dos processos presenciais. Saber lidar com mídias, plataformas, viver no espaço de virtualidade é uma competência que o mercado de trabalho valoriza”, conta. 

Os novos perfis de alunos, juntamente com instituições de qualidade, mudaram a perspectiva do EAD e a desmistificaram o pré-julgamento. O advogado Luis Gustavo Magnani afirma que o preconceito cede à competência. “Não creio que exista mais isso. Dois de meus colegas são desembargadores do Tribunal de Justiça do Paraná em atividade”, diz. 

A expectativa do mercado é positiva, Pinto explica que, daqui cinco ou dez anos, estejamos falando do ensino a distância muito mais do que do ensino presencial. “Algumas pesquisas dizem que, em 50 anos, teremos apenas três universidades físicas no mundo. Todos os novos negócios estão pontando para a questão da virtualidade, com a educação não seria diferente”, finaliza.