| Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

“A população deixou bem claro que quer um transporte público de qualidade com um preço acessível. Esses são os dois pontos em que devemos nos concentrar para buscar a recuperação do número de passageiros perdidos entre 1995 e 2005, quando tivemos um decréscimo que chegou a 30% dos usuários em todo país”, resume o diretor executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Marcos Bicalho dos Santos.

Veja vídeo: reconquistando passageiros

A preocupação em atender essas duas demandas, expressa pela população nas manifestações que se espalharam pelo Brasil em junho de 2013, segue refletida em números atuais sobre os usuários do transporte coletivo: de 2014 para 2015, os ônibus deixaram de transportar 900 mil passageiros diariamente em 16 grandes cidades, ou seja, uma retração de 4,1%, segundo a NTU. É o quarto ano seguido de perdas no setor.

O que fazer

Conheça algumas medidas que aumentam a velocidade do transporte, diminuem o custo da tarifa e tornam o transporte coletivo mais competitivo em relação ao carro

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Reverter esse quadro é um dos grandes desafios de empresários e gestores públicos; não só por questões econômicas, mas, principalmente, para que as cidades não parem. “Com o grande volume de carros nas ruas, houve uma queda na velocidade dos ônibus da Região Metropolitana de Curitiba [RMC]. Nas cidades vizinhas, a velocidade média é de 30 km/h; chegando à capital, cai para 12 km/h. Essa redução compromete a qualidade, sobe os custos. Aumentando a velocidade, voltamos a conquistar mais gente para o transporte porque se reduz o custo, aumenta a qualidade e a pontualidade, competindo com os atrativos do automóvel”, diz o assessor técnico da Comec (Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba), Euclides Rovani.

Além de intervenções urbanas, como a criação de novas vias, corredores exclusivos e BRTs (bus rapidtransit, ou “transporte rápido por ônibus”), é necessário que o passageiro não pague sozinho a tarifa e que haja investimento tecnológico para ampliar a qualidade do serviço, explica LessandroZem, presidente da Metrocard, associação que gerencia a bilhetagem do transporte na RMC. “Há necessidade de subsídio do poder público e outras formas de taxas sobre o transporte individual, em favor do coletivo. Investindo massivamente em sistemas de bilhetagem eletrônica, mira-se em possibilidades futuras de redução de alguns custos do sistema, aumenta-se a segurança com a diminuição de recursos financeiros dentro dos coletivos”, destaca.

4% na RMC

Foi o aumento de passageiros nas linhas da Região Metropolitana de Curitiba, segundo levantamento da Comec. Enquanto no último trimestre de 2015 foi registrada uma média mensal de 7,5 milhões de passageiros pagantes, entre março e abril deste ano, a média subiu para 7,8 milhões.

- 8% em Curitiba

Foi a taxa registrada de queda de passageiros entre 2014 e 2015 na capital, a maior redução entre 16 cidades pesquisadas pela NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos). Em 2014 foram cerca de 231,7 milhões de passageiros e no ano seguinte, cerca de 18,6 milhões de usuários a menos (213,1 milhões no total).

-4,1% no país

Foi a redução média de usuários do transporte coletivo entre 2014 e 2015 nas 16 cidades pesquisadas pela NTU. Depois de Curitiba, a maior retração foi em Goiânia (-7,9%), seguida de Teresina (-7,9%) e Belo Horizonte (-6,5%). São Paulo teve um decréscimo de 0,9% e Rio de Janeiro, de 0,4%. Nenhuma das cidades no estudo teve aumento no período avaliado.

2,4 milhões de veículos

circulam por Curitiba e RMC atualmente, em uma média de um automóvel para cada dois habitantes. Nos últimos dez anos, a frota aumentou 88%, taxa que colabora para o aumento dos congestionamentos nas ruas. Em média, cada carro é ocupado por duas pessoas, enquanto um ônibus, transporta, em média, 70 passageiros.

Comec estuda obras para melhorar tráfego na RMC

Desde adaptações de baixo custo a grandes obras, tudo o que priorize o transporte público sobre o individual é caminho para que o fluxo do trânsito nas cidades melhore e, consequentemente, torne os ônibus mais velozes, pontuais e atrativos para novos públicos.

“Muitas vias de entrada na capital estão estranguladas, mas pensamos em obras que podem resolver isso: como a ampliação da Linha Verde, beneficiando os municípios da região Norte, como Colombo, Pinhais, Bocaiúva, Quatro Barras e Campina Grande do Sul, e da região Sul, como Fazenda Rio Grande, Mandirituba, Quitandinha, Araucária e Contenda. Para favorecer a população de Almirante Tamandaré, Rio Branco do Sul, Itaperuçu, é necessário uma obra urgente utilizando a linha férrea que corta essa região”, lista o assessor técnico da Comec, Euclides Rovani.

Para tirar essas obras do papel, explica, é preciso consensos legais e financeiros entre os municípios envolvidos e o governo estadual, o que seria facilitado com a formação de um consórcio metropolitano, em fase de estudo pela Comec. (AB)