Arquitetura
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100 anos de Rubens Meister, o arquiteto dos ícones modernos do Paraná

O arquiteto e engenheiro Rubens Meister celebraria 100 anos nesta segunda-feira, dia 31 de janeiro de 2022. | Arquivo/Gazeta do Povo/Paula Martins
O próprio sobrenome do arquiteto e engenheiro Rubens Meister (1922-2009) o delata. Meister, do alemão, significa mestre. E de fato o foi. E nesta segunda-feira, dia 31 de janeiro de 2022, celebram-se os 100 anos de seu nascimento. De sangue suíço, nasceu em Botucatu, no interior de São Paulo, durante uma viagem da família. Mas esse seu pedigree paulista é só uma formalidade. Viveu a vida toda em Curitiba. Foi um dos fundadores e principais articuladores do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1962 e é responsável por dezenas de edifícios singulares que marcam a paisagem da capital paranaense. Como o Teatro Guaíra, o prédio da Caixa Econômica Federal, o edifício do extinto Bamerindus, o Centro Politécnico da UFPR, a Rodoferroviária de Curitiba, o Palácio 29 de Março, o restauro do Palácio Avenida, o SESC da Esquina, o Terminal do Guadalupe, o edifício ASA e várias casas.
“É o arquiteto paranaense que mais fez edifícios interessantes, além do Elgson Ribeiro [1922-2014]. Se pegar uma cidade do interior do Paraná, por exemplo, e houver um prédio público importante ou de algum órgão estadual, tem grande chance de ter dedo dele”, avalia o arquiteto Henrique Zulian, do escritório Austral Studio, que estudou Meister durante o mestrado na Universidade de São Paulo (USP).

O arquiteto Fábio Domingos Batista, da Grifo Arquitetura, que também leciona na FAE Centro Universitário, vai além. “Ele é o primeiro arquiteto moderno que materializa obras de relevância urbana em Curitiba e o primeiro que insere a capital paranaense na discussão da arquitetura moderna nacional”, decreta o especialista em Meister, que atualmente estuda o arquiteto no doutorado na USP e que escreveu o livro “Rubens Meister: projeto e obra”, em conjunto com Deborah Carvalho e Paulo Chiesa.
Mas e a casa de Frederico Kirchgässner [1899-1988], considerada a primeira obra moderna da cidade? Batista explica que Kirchgässner foi um herói solitário, de essência moderna, mas com uma linguagem de transição ainda com elementos do Art Déco, sem interlocutores, não conseguindo impactar na paisagem da cidade. “Nesse sentido, o Meister era conectado”, diz o professor da FAE, exemplificando que Meister dialogava com Artigas e Rino Levi, com especialistas estrangeiros, com industriais, empresários e políticos.

Projeção tímida
Apesar de todo seu vulto – mais de 400 projetos concebidos – e das dezenas de obras presentes no dia a dia das paisagens urbanas do Paraná e de Santa Catarina, Meister ainda é pouco conhecido pela população e pelas escolas de Arquitetura e Urbanismo. “Tudo que é feito fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo é batizado de arquitetura regional. E tudo que é feito dentro do eixo é chamado de arquitetura nacional. Então é necessário pluralizar o conceito do que é arquitetura nacional”, defende Zulian.
O arquiteto Paulo Chiesa, professor da UFPR e também autor do livro sobre Meister, aventa a mesma teoria para a pequena projeção de Meister. “É deixado de lado tudo que é feito no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais, em Pernambuco, no Mato Grosso do Sul e no Paraná. Existem vários outros engenheiros e arquitetos que também não tiveram resgate e reconhecimento à altura de suas obras”, constata Chiesa.

E tem mais um fator importante: Meister não fazia questão de
aparecer. “Era reservado, muito simples. Embora sempre o procurassem para
entrevistas, ele nunca fez questão. Não era marqueteiro”, confidencia a
professora de sueco Janice Pettersen Meister, 70 anos, uma das três filhas do
arquiteto, do casamento com Heliante Pettersen Meister, hoje com 97 anos.
aparecer. “Era reservado, muito simples. Embora sempre o procurassem para
entrevistas, ele nunca fez questão. Não era marqueteiro”, confidencia a
professora de sueco Janice Pettersen Meister, 70 anos, uma das três filhas do
arquiteto, do casamento com Heliante Pettersen Meister, hoje com 97 anos.
Sofrimento e amor à vida
Um problema de saúde assombrou Meister durante a vida toda. Foi vítima da poliomielite com apenas dois anos e, por volta dos sete anos, teve um problema coxofemoral quando uma carga pesada de tecidos caiu sobre as pernas enquanto brincava no depósito de uma tia. Ficou engessado por seis meses e nunca recuperou totalmente os movimentos da perna direita. Por ter experimentado a dor tão frequente, Meister sabia da importância de valorizar os instantes da vida. Conseguia dar atenção para quem quer que encontrasse sem ansiedade, com foco total no momento presente.

“É importante vibrar com a vida. Essa era uma das frases favoritas dele”, conta o arquiteto Claudionor Beatrice, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), amigo pessoal do arquiteto e seu último associado. “Ela tinha um duplo sentido: esse vibrar significava que era importante estar vivo e valorizar cada detalhe da vida. Só que esse vibrar, como o bom admirador de música e conhecedor de acústica que era, também se referia às vibrações que tocam o espírito, como Hegel dizia. E as cores provocam os mesmos sentidos no espírito”, esclarece Beatrice.
“Nunca vi ele falar mal de alguém”, assegura o arquiteto da UTFPR. “Com a pesquisa que fiz sobre a vida dele para o meu doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, descobri que muitas pessoas o trapacearam, e ele nunca falava mal delas.”

O que tem a arquitetura deMeister?
O escritório de Meister estabeleceu um padrão do que hoje se considera um projeto de arquitetura de alta qualidade, como lembra Chiesa. Todos os especialistas ouvidos pela reportagem concordam que o arquiteto era bem pragmático e racionalista, prezando pela melhor solução para o uso dos espaços.
Em comum, dos prédios gigantes às casas de bairro: detalhamentos exímios, domínio dos métodos construtivos, critérios de economia, desenhos rigorosos e bem claros, circulações bem pensadas, presença do tal “fazer cantar os pontos de apoio”, diálogo com o entorno, espacialidade para enxergar o projeto, tijolo a vista, madeira pura, concreto aparente, projeto sensível para luz e ventilação naturais.

Em resumo, segundo Beatrice, obras impecáveis de “proporções gostosas, escalas adequadas, materiais resistentes e máximo aproveitamento com o mínimo de material”.
Batista cita um exemplo emblemático. "No Teatro Guaíra, por exemplo, a caixa de palco tinha que ser alta. Mas como você vence um grande vão? A melhor forma é a parábola [a parte mais alta e curva do teatro]. Ele se fez valer da melhor solução, e isso determinou a volumetria do edifício", ensina o arquiteto da Grifo.
Confira outras das principais obras de Rubens Meister em Curitiba!
Casa Renaux

Auditório da Reitoria

Edifício Barão do Rio Branco

Edifício Lydio Paulo Bettega

Edifício Avenida

Edifício da Caixa Econômica Federal

Banco Bamerindus

Residência Rosenmann

Sesc da Esquina

Palácio Avenida
