A menos de um mês da chegada do verão está aberto o período da disputa pelo controle do ar condicionado. Entre muito quente e frio demais, o aparelho pode ser a solução para trazer mais conforto para os ambientes corporativos e residenciais, mas, para muita gente, é mais prejudicial do que agradável.
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Para outros, a aquisição de um ar condicionado é inviável, seja pelos valores – impeditivos a muitos -, seja pela impossibilidade de instalação em determinados ambientes. Mas isso não significa que você precisa sofrer com o calor a estação inteira. Alguns truques simples na decoração e recursos de arquitetura podem ser a solução para refrescar o cômodo sem precisar recorrer à climatização artificial.
De acordo com o arquiteto Renato Andrade, do escritório Andrade & Mello Arquitetura, uma simples reorganização dos móveis já pode refletir em baixa na temperatura, mas existe uma série de outras medidas possíveis. Acompanhe as dicas do profissional. Deixe o vento circular
A entrada de ar fresco é o requisito número um para fazer a temperatura de um ambiente ficar mais amena. Mas, não adianta abrir as janelas se você tem armários e estantes grandes bloqueando a passagem do vento.
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“Às vezes a gente dispõe os móveis de maneira que se criam bloqueios para o ar. Se conseguir criar um fluxo de ventilação dentro do apartamento, dispondo da maneira correta armários altos e eliminando qualquer elemento que crie bloqueios, vou conseguir liberar a ventilação cruzada e, com isso, trazer mais frescor”.
Se o espaço tem janelas grandes, mas muitas divisórias que impedem a circulação do ar, uma alternativa é criar vãos. “Em escritórios, é possível inserir janelas menores na parte superior das divisórias, de forma que se cria uma corrente de ar circulando”.
Evite propagar o calor
Se a brisa que entra pela janela é leve e já quente, ela só vai se tornar ainda mais aquecida se a casa também estiver gerando calor. Muitos equipamentos eletrônicos em uso e lâmpadas amarelas contribuem diretamente com isso. “É importante substituir toda a iluminação do apartamento por lâmpadas de led, frias. Cerca de 90% de uma lâmpada incandescente se transforma em calor. Se a gente tem numa sala seis delas, isso gera um calor que transforma uma sala em um forno”.
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Além das lâmpadas, as cores com que são pintadas as paredes também podem aumentar a sensação de calor. “Pinturas mais claras trazem mais sensação de frescor”.
Segure o sol fora da casa
Quando você quer se proteger contra o sol, o caminho natural é usar um chapéu e recorrer ao protetor solar. Na sua casa, a lógica é a mesma: se não incidir sobre o ambiente, ele vai propagar menos o calor e seus efeitos. Por isso, a dica do arquiteto é impedir os raios de chegarem diretamente ao ambiente interno da casa.
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Para isso, as persianas e cortinas não são suficientes. Segundo ele, estas impedem somente a claridade, uma vez que o sol já entrou. “O ideal é recorrer a brises, quebra sol ou varandas cobertas, elementos que barram o sol, mas permitem a entrada de luz. São muito eficientes, porque entre o edifício e esse elemento, o vento consegue circular e a luz também”.
A natureza como aliada
Trazer plantas para dentro do ambiente residencial é outra dica de ouro quando o assunto é regular a temperatura. Elas “mantêm a umidade e trazem uma sensação térmica mais agradável”, segundo Andrade.
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Mas, para que o efeito seja mais positivo, é preciso que elas estejam presentes em grandes quantidades e em vários cômodos. Espalhar flores e folhagens pela casa, portanto, é sempre indicado, especialmente se elas estiverem localizadas próximas às janelas, em jardins verticais.
Nesta disposição, as plantas serão as primeiras a receber os raios de sol e concentrarão em si o calor. “Se a pessoa conseguir fazer uma proteção vertical com parede com a chamada “unha de gato”, aquela trepadeira que cria uma camada verde na parede, isso ajuda a barrar o calor para dentro do ambiente”, sugere, complementando que cercar a casa por árvores com copas altas também ajuda a diminuir o calor que incide sobre a mesma.
Para quem quer ir ainda mais além, a sugestão do arquiteto é a de implementar um telhado verde, com o uso de plantas no teto da casa. “Nessa situação, 50% do calor que chega é dissipado e a radiação que ainda consegue ultrapassar fica menos potente. Neste caso, a gente consegue baixar de 2 a 3 graus a temperatura interna”, completa.
Tecidos, texturas e umidade
Segundo o arquiteto, é possível usar a decoração como aliada para a regulagem da temperatura. Além das plantas, o morador pode optar por espalhar itens que ajudem a conservar a umidade, mas que sejam decorativos – uma fonte artificial ou aquário, por exemplo, fazem as vezes de utilizar a água e embelezar uma casa, sem necessariamente recorrer a um umidificador de ambientes artificial.
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A escolha dos tecidos de sofás, poltronas e cadeiras também tem um papel neste tecido. “Tecidos sintéticos como veludo, corino e até o couro, são muito quentes. A melhor escolha é o algodão, que é natural, evita o aquecimento no toque. Muita gente acha que a seda é uma boa opção, mas ela traz essa sensação de conforto num primeiro momento, mas depois esquenta. Então ela é gelada no inverno e quente no verão, o que faz da seda uma opção chique, mas não tão eficiente do ponto de vista térmico”.
Revestimentos orgânicos
Dar uma nova roupagem para as paredes e para o piso durante uma reforma também pode ser uma oportunidade para reequilibrar a temperatura da sua casa. Revestimentos cimentícios costumam reter mais o calor, então a sugestão do arquiteto é optar por opções mais orgânicas. “Um tijolo de barro, por exemplo, pode ajudar muito na questão do calor. Colocar tijolos em uma parede onde bate o sol ajuda a segurar o calor. Já a cerâmica funciona como piso, vai resfriar o ambiente, mas no inverno pode ser fria demais”.
Para ele, no entanto, o uso da madeira também pode ser uma boa alternativa, se bem aplicada. “No piso, a madeira é incomparável, é boa no verão e no inverno. Há quem diga que, do ponto de vista das sensações, ela desperta o calor. Mas, do ponto de vista termofuncional, ela é a melhor escolha”.
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Já quando o assunto é a área externa, para as fachadas, “existe a possibilidade de colocar um revestimento de fachada dupla, você estrutura perfis metálicos para afastar o revestimento da parede, então cria uma bolsa de ar entre esta camada e a parede, onde o vento consegue circular”, explica.
Vai construir? Vá de bioarquitetura
Para quem mora em regiões quentes e com pouca ventilação, a forma como a casa é pensada pode fazer toda a diferença sobre a necessidade futura de implantação de um aparelho de ar condicionado.
Na linha de construções sustentáveis e com economia de recursos, a bioarquitetura surge como um conjunto de técnicas que busca harmonizar o espaço com o ambiente em que está inserido. “A gente consegue fazer isso no projeto levando em consideração o posicionamento desse edifício com relação à movimentação do sol. No Brasil, as fachadas norte e oeste recebem muito calor durante o dia e às vezes até o início da noite. Se o quarto estiver voltado para essas fachadas, à noite essa parede transfere calor dentro do quarto. Pensando nisso, posso jogar os quartos para o leste”, diz.
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O mesmo vale para a circulação do ar: o projeto pode incluir situações de ventilação cruzada. “Às vezes se resolve um problema de aquecimento fazendo uma segunda abertura no sentido contrário de uma janela e isso já torna o ambiente bem mais fresco”.
Pé direito mais alto, para evitar o efeito de criação de uma bolha de calor dentro de um cômodo, posicionamento de cômodos de uma maneira estratégica e opção por uma laje com impermeabilização ou finalização de argila, onde a troca de calor não chega na laje, também são sugestões aplicáveis na hora da construção e que ajudam a tornar o espaço mais fresco.
“Telhas de barro são uma técnica antiga, mas super termorresistentes, fazem a contenção da temperatura. Se não tiver muita altura para fazer a inclinação, há um tipo de telha acústica com camada interna de poliuretano, que é um isopor que barra o calor”, completa.