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Arquitetura
Um modernista contemporâneo: apartamento reformado mantém elementos dos anos 1960

O projeto de Vivian Brune uniu espaços sociais e resgatou a linguagem modernista do apartamento. | Eduardo Macarios/Divulgação
Quando inaugurado em 1963, o Edifício Canadá, projeto do arquiteto Elgson Ribeiro Gomes, importante expoente do modernismo no Paraná, causou furor na cidade. Afinal, era o primeiro edifício com um apartamento por andar na capital paranaense. Outros aspectos da construção chamavam a atenção: as janelas amplas, que acompanhavam as vigas do prédio, eram de inox, outra novidade para a época. Até hoje, quem passa pela Rua Comendador Araújo não fica alheio ao prédio e sua arquitetura, cuja linguagem soou um tanto esquisita para aqueles tempos.


As décadas de história acumuladas deram aos amplos apartamentos de mais de 200 m² modificações internas, e foi desse princípio que partiu a arquiteta Vivian Brune, fundadora do escritório Brune Arquitetura, para o projeto em um apartamento no 19° andar do edifício. “No começo do projeto estudei bastante tentando descobrir quais elementos eram originais. Consegui falar com o filho do Elgson e ele me me deu um livro com todas as suas obras e desenhos originais. Também falei com alguns moradores e encontrei fotos para mapear as modificações”, conta Vivian.

A compra do apartamento pelo cliente da arquiteta também é repleta de memórias: ele sempre passava em frente ao Canadá e ficava encantado com o edifício. Conseguiu negociar o imóvel com um antigo morador e, pela metragem, materiais e acabamentos, conseguiu um preço mais baixo do que comprar um imóvel novo. “Ele viu um valor que apartamentos antigos têm e que muita gente não vê. A planta é mais ampla, a localização é melhor. Ele realizou um sonho e achei legal poder participar disso”, relata a arquiteta.

O cliente trouxe várias ideias para o projeto, que partiu da seguinte premissa: criar uma base neutra para dar mais destaque aos objetos e mobiliário, além de respeitar o conceito modernista do "menos é mais" e da usabilidade. Por isso, as paredes são brancas e contrastam com o chão em taco de madeira, que recebeu tratamento e um processo de queima chamado de ebanização, que deixa o chão na cor preta, mas sem tirar a textura natural da madeira.
Adaptações necessárias

Além de refazer as partes elétrica e hidráulica (segundo a arquiteta, essa reforma é um dos pontos negativos quando se trata de apartamentos antigos), foram retiradas sancas de gesso do teto. “Isso permitiu que o apartamento ficasse o mais original possível, retornando à sua estética modernista”, frisa Vivian. A disposição do apartamento também mudou, acompanhando os novos tempos: em décadas passadas, as divisões dos imóveis eram muito claras entre as áreas consideradas íntimas e as de convívio. Hoje, a necessidade das pessoas é por uma maior integração entre os cômodos. “Modificamos demolindo paredes e unificando espaços sociais”, conta a arquiteta.

Uma das alterações foi na área de serviço, segundo ela, com a melhor vista do apartamento. “Juntamos com a cozinha e transformamos em um espaço de churrasco e convivência, e a área de serviço foi para um dos quartos”, explica. A cozinha traz outro elemento marcante: um painel de azulejo feito pelo artista Rômulo Lass.

O projeto também reaproveitou uma porta de serralheria original dos anos 1960, que dividia a copa e a cozinha, e agora é uma porta de correr entre a sala e o escritório. No mobiliário, a ideia do Brune Arquitetura foi criar ambientes em um estilo galeria, sem muitos móveis planejados, para dar ao cliente a liberdade de adquirir novas peças e combinar os estilos. No apartamento, há peças como cadeiras do mestre do design brasileiro, Sérgio Rodrigues, junto com mobiliários contemporâneos de novas marcas. “O projeto veio para valorizar a construção, que já é icônica, e não competir com a arquitetura marcante e surpreendente. A ideia foi a de complementar”, define Vivian.
