Semana de design

Design

10 tendências e os recados do design de Milão para 2020

Equipe HAUS*
21/07/2020 00:00
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Foto: Divulgação

Em um semestre em que o mundo parou por conta do avanço da pandemia da Covid-19, o design mais uma vez provou a que serve e que nem as dificuldades são capazes de frear a força do setor, que tem na criatividade dos designers sua base para trazer soluções, beleza e bem-estar para a vida cotidiana.
Os impactos, é claro, vieram. Pela primeira vez na história, o Salão do Móvel de Milão, maior, mais concorrido e mais importante evento do setor, não aconteceu. Após o adiamento de abril para junho, a organização decidiu por cancelar a que seria a 59ª edição do evento. As atenções, agora, estão voltadas para o aniversário de 60 anos do iSalone, que será celebrado em uma edição histórica, que pela primeira vez trará Eurocucina e Euroluce juntas, agendada para abril de 2021.
Mas nem tudo foi postergado. O Fuorisalone, mostra paralela igualmente celebrada da Semana de Design de Milão, reinventou-se e apresentou, entre os dias 15 e 21 de junho, sua inédita edição digital. HAUS foi media partner e único veículo em língua portuguesa a cobrir o evento, que reuniu quase 300 marcas em uma celebração ao design.
Faltaram as cores, os aromas, o burburinho das ruas e a surpresa de se ver cara a cara com os mestres pelas exposições e andanças que caracterizam a semana de design. Mas não faltaram lançamentos, apresentados também por marcas consagradas que, mesmo não participando da mostra digital, aproveitaram a agenda para, de forma paralela, dar visibilidade às suas criações.
Sobraram, também, discussões sobre sustentabilidade, consumo, ressignificação do lar e futuro das casas e cidades. A equipe de HAUS, no Brasil e em Milão, acompanhou as discussões e os lançamentos e os traduziu em tendências e temas que nos guiarão nos primeiros passos que daremos dentro do que deverá ser o “novo normal”. Boa leitura!

Linhas e curvas

As linhas aparecem e as formas arredondadas têm suas curvas destacadas em coleções e peças que ilustram no que um bom desenho pode resultar. Mais do que a racionalidade das angulações, ganham destaque os traços orgânicos em propostas fluídas e descomplicadas.
Coleção Taba, por Alfredo
Häberli para Moroso, traz
linhas orgânicas para
responder à multifuncionalidade. Foto: Alessandro Paderni
Fascínio geométrico e visual retrô são elementos-chave da poltrona Romby, por GamFratesi para Porro. Foto: Romby Tessuto
Estante da coleção MOS, por GamFratesi para Gebrüder Thonet Vienna, abusa da forma elíptica. Foto: Divulgação
Mesa lateral Acute, por
Rodolfo Dordoni para
Cassina, mescla couro,
madeira e mármore. Foto: Divulgação
Poltrona Ruff, assinada
por Patricia Urquiola
para Moroso, traz apoios
de braços largos em
peça única. Foto: Alessandro Paderni

Além da estética

Forma, função e conforto. Em 2020, o design ganhou um terceiro sinônimo pelas mãos de profissionais que, menos preocupados com o minimalismo, fazem dos traços de sofás e poltronas um convite ao descanso e relaxamento, seja nos ambientes públicos ou privados. Peças responsivas, que se adequam ao corpo ou formas desejadas pelo usuário, também se destacam.
Sofa Jannis, por Dainelli
Studio para Gebrüder
Thonet Vienna, traz desenho leve com personalidade. Foto: Divulgação
Símbolo da harmonia, o
círculo inspira a coleção
Deep, por Nika Zupanc
para Natuzzi Italia. Foto: Divulgação
Combinando a forma cilíndrica à malha de aço, a designer japonesa
Rie Aruga concebeu um assento moldável. Foto: Divulgação
Chaise Rider, por
Ludovica + Roberto
Palomba para Zanotta,
compõe a coleção “Back
to Emotions. Foto: Divulgação
Cadeira Citizen, por Konstantin Grcic para Vitra, tem assento suspenso por
três cabos que permitem agradável movimento de balanço. Foto: Divulgação

Eternos

Um bom design é um design que perdura. O consenso universal encontrou ressonância entre as marcas que investiram em reedições de peças clássicas ou que trazem referência direta dos profissionais nos quais foram inspiradas fazendo mais atuais do que nunca itens que carregam bons anos de história e sucesso.
Cadeira Chaise Tout
Bois, de 1941, por Jean
Prouvé, produzida pela
primeira vez pela Vitra. Foto: Divulgação
A poltrona Vanity
Fair, de 1930, é revisitada e teve suas proporções adaptadas ao
estilo de vida contemporâneo por Roberto Lazzeroni para
Poltrona Frau. Foto: Divulgação
Figuras icônicas do
universo de Piero
Fornasetti inspiram a
coleção de mosaicos
da Bisazza. Foto: Divulgação
Outro clássico dos anos
1970 é o Camaleonda,
de Mario Bellini, relançado em versão contemporânea pela B&B Itália. Foto: Divulgação
Para celebrar o centenário de Vico Magistretti, a
Cassina reeditou o clássico Maralunga, de 1973. Foto: Divulgação

Nada básico

Não é de hoje que as cores trazem ainda mais vida à semana de design de Milão, e neste ano não foi diferente. Paletas e tons vibrantes aparecem em coleções ou peças que atraem o olhar e garantem personalidade a qualquer ambiente, sozinhas ou em composições.
Gabinete Chhau Donna, por Elena Salmistraro para Scarlet Splendour, é inspirado nas danças da Índia. Foto: Divulgação
Poltrona da coleção
LEO, por Daria
Zinovatnaya para
Adrenalina. Foto: Divulgação
Marca registrada da
Missoni Home, as cores
aparecem em um equilíbrio perfeito com o design e as texturas dos tecidos. Foto: Divulgação
Tapete da coleção “Greetings from the
city of Belgium”, do estúdio belga Kiiv em
colaboração com a Ora Pro Nobis. Foto: Divulgação
A Cedit também apostou nas cores de Elena Salmistraro
para a Chimera, sua coleção de revestimentos. Foto: Divulgação

Mais do que iluminar

2019 foi o ano da Euroluce, mas nem por isso as marcas abandonaram as luminárias em 2020. Pendentes e arandelas com desenhos minimalistas ou repletos de detalhes tiveram seu espaço garantido entre os lançamentos, com propostas que transitam do clássico ao contemporâneo.
Mesa lateral da coleção Heco, pela Nendo para Flos.
Do céu ao chão, a luminária Origine, por Giorgio Rava e Davide Groppi.
Rio Lamp, Marcantonio para Seletti.
Joy Lamp, por Nika Zupanc para Natuzzi Italia.
Pendente Hubble Bubble, por Marcel Wanders para Moooi.

A ordem é mudar

A necessidade de adaptação nunca esteve tão evidente como agora. E, coincidentemente ou não, muitas das peças apresentadas durante a semana de design têm a flexibilidade de composição ou a mobilidade entre as principais de suas características.
Sofá modular Click,
por Toni J. Castaño, do
estúdio Sancal, traz
versátil sistema de
assentos seccionais. Foto: Divulgação
Sistema modular MexHi, por Piero Lissoni
para Cassina, permite
personalizar a composição de assentos, encostos e apoios de braço. Foto: Divulgação
Sofá In Situ, por Anderssen & Voll para Muuto,
possibilita diversas configurações ao móvel. Foto: Divulgação
Adaptable Sofa, por
Olivier Vitry para
Claisse Architectures,
permite a composição
dos módulos. Foto: Divulgação

Coração da casa

Ela sempre foi o centro da casa e seria o centro das atenções da Rho Fiera, caso os pavilhões da Eurocucina pudessem ser abertos em 2020. Modernas e arrojadas, as cozinhas ganham destaque nas coleções apresentadas pelas gigantes do design mundial, assinadas por nomes igualmente estelares.
Combine Evolution, por
Piero Lissoni para Boffi,
traz blocos de preparo e
trabalho conectados por
estrutura metálica. Foto: Divulgação
As coordenadas inspiram a cozinha XY, por
Francesco Meda para
Dada, com sistema
modular e flexível por
meio de trilhos. Foto: Divulgação

Proteção

Intencionalmente ou não, foram diversos os lançamentos que fazem paralelos às necessidades de proteção social e doméstica contra o contágio viral. O que não significa peças estéreis e sem vida, mas sim obras que ressignificam o substantivo por meio de traços, formas e cores únicas.
Divisória Flaneur,
por Matteo Cibic para
FusinaLab, tem
traços elegantes e
discretos. Foto: Divulgação
Biombo Paravento Balla, por
Giacomo Balla para Cassina, reedita desenho de 1917 destacando o colorido artístico da peça. Foto: Divulgação
O sistema modular 6x6, de Nicholas Bewick em colaboração com a Mantova Cesare Roversi, permite personalizar divisórias com diversos acabamentos e acessórios. Foto: Divulgação
Pensada para o dormitório, a linha de
acessórios Stay
Collection, por
Neri&Hu para
Cassina, pode ser
adaptada para halls
e demais ambientes. Foto: Divulgação
As divisórias em
alumínio Free, da
Safe by Medit, são
“revestidas” com
Agavir, um tecido
higienizante. Foto: Divulgação

Design para trabalhar

Antes tido como tendência, o home office tornou-se realidade -que deve perdurar, inclusive, quando passada a pandemia. Mais do que conforto e ergonomia, os lançamentos fazem das peças aliadas para uma decoração que compõe qualquer ambiente com estilo.
Mesa Era Scrittoio, por
David Lopez Quincoces
para Living Divani, traz
linhas gráficas e combinações de materiais. Foto: Divulgação
Nova coleção da Lago
Spa revisita produtos da
marca e apresenta
novas peças e acessórios para áreas de trabalho domésticas. Foto: Divulgação
A estante The Perfect
Bookshelf, pelo designer Alain Chennaux,
ganhou novas cores e
acabamentos. Foto: Divulgação

Sustentável

A sustentabilidade já deixou de ser promessa e se tornou característica indispensável para muitos fabricantes. Entre os lançamentos de 2020, ela aparece em pesquisas tecnológicas de matéria-prima, reaproveitamento de materiais e tecidos e preenchimentos mais ecológicos.
À base de lignina, a
tecnologia Bloom,
apresentada pela Fenix,
reduz em 50% a quantidade
de fenol incluído na
composição das resinas, Foto: Divulgação
O designer Piero Lissoni e a Salvatori, em parceria
com a Food for Soul, apresentam peças
produzidas com pedra natural e mármore
descartados de pedreiras abandonadas. Foto: Divulgação
A nova versão da
cadeira Remind, da
Pedrali, está entre as
primeiras peças da
marca feitas
integralmente em
polipropileno reciclado. Foto: Divulgação

Lar, doce lar

"Um lar do mundo real”. A frase de Giuliano Mosconi, presidente da italiana Zanotta, sintetiza o recado que fica da semana do Fuorisalone Digital. Uma casa acolhedora, que seja sinônimo de proteção e que faça sentido diante de um mundo (e de uma vida) repleta de incertezas. Afinal, nunca antes a maioria de nós, moradores, teve um contato tão próximo com a casa como o que vivenciamos agora, por mais contraditório que isso pareça.
E o questionamento desta “identidade doméstica”, como destaca o arquiteto Fabio Novembre, invariavelmente nos levará (se já não nos tem levado) a reavaliar fluxos, espaços e objetos. A fazer com que a decoração e os móveis sejam ferramentas para contar nossas histórias, para mostrar, de maneira física, quem somos ou queremos ser, enfatizando a personalidade ao modismo. “Sem isso, que lar é esse?”, provoca.
Nesta linha, a ideia de casa perfeita, na qual tudo é milimetricamente disposto, cai por terra. Afinal, a casa é viva. Mais do que nunca, ela responde prontamente às nossas necessidades de adaptação e se torna, assim como nós, multitarefa: escritório, sala de ginástica, spa e restaurante onde antes havia apenas cozinhas, dormitórios e salas de estar.
E as marcas estão atentas a estes movimentos e às mudanças que eles provocam. Mais do que embelezar, as peças são pensadas para serem efetivamente utilizadas. Para trazer conforto, satisfação e aconchego de maneira ética e sustentável. O conceito, que foi estendido para além da matéria-prima e dos modos de produção, passou de diferencial a item obrigatório entre as mentes e indústrias que ditam o que entrará pelas nossas portas para fazer parte de nossas vidas. E talvez indique o caminho que devamos buscar no pós-pandemia: o equilíbrio das necessidades humanas por conexões reais, sejam elas econômicas, sociais ou ambientais.
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