Raízes
Design
Arte tupiniquim é o novo highlight na decoração

Os Gêmeos (2013), do artesão Véio: tinta acrílica e madeira (85 x 72 x 124 cm). Disponível no Acervo Banco Itaú. | Divulgação
O design nacional percorreu um caminho nebuloso, vivendo na linha tênue entre artesanato e arte popular. De maneira alguma são segmentos menos importantes, no entanto o que deveria ser a materialização artística da nação, ao pé da letra o que significa “ design nacional”, perdeu seu protagonismo para a visão generalista do mais do mesmo.

Nós adquirimos o hábito de olhar para fora na hora de buscar quais são as tendências e o que guiará nosso ano. Como uma trindade incontestável, sabemos que Cannes dita o cinema, Milão, o design e Paris, a moda. A paleta de cores fortes dos anos 1970 e o naturalismo já chegaram aqui e você mal percebeu, não é mesmo?
Nossa herança colonial nos impregnou o hábito quase inconsciente de acreditar que só o que é de fora é bom, e por longos anos nomes como Irmãos Campana, Rosenbaum e Ronaldo Fraga foram precursores em atrair a atenção do mundo para o que estava acontecendo com o design brasileiro.

A ideia de que não precisamos ir longe para encontrar peças icônicas e criações expressivas é nova, e como uma nação jovem nós amamos a novidade. Com a globalização das redes ampliamos nosso olhar para outras regiões brasileiras. Somos um país com diversos povos que pertencem à cultura “popular-raiz”. Essa parcela produziu sua própria arte e artesanato sem muita ou nenhuma interferência estrangeira, são expressões que sempre estiveram aqui, mesmo antes do descobrimento europeu.
Fazendo um recorte da nossa cultura, encontramos os mestres artesãos nordestinos e artistas de Cordel. São exemplos de artistas que utilizam técnicas da escultura e gravura para expressar características mais puras enraizadas em nossa cultura, imprimindo e esculpindo mitos do folclore e necessidades regionais.
Neste sentido, recomendamos o trabalho do Mestre artesão Cícero Alves dos Santos. O Véio, como é conhecido, nasceu no interior do Sergipe e mesmo nunca tendo estudado arte decidiu dedicar sua vida à produção de suas esculturas. Sua obras já foram para Bienal de Veneza e Seeds, em Londres.

Além dele, o gravador José Francisco Borges (conhecido como J. Borges) é um dos principais nomes quando falamos em cordel. Suas xilogravuras e as matrizes de madeira entalhada se tornaram artigos de desejo para quem quer colecionar ou decorar com arte brasileira. Elas podem ser encontradas tanto em museus como lojas que enaltecem o design brasileiro.
Esses são apenas dois exemplos de uma infinidade de artistas que antes só seriam encontrados em feiras locais e que, neste processo de reconhecimento regional, tiveram seus trabalhos alçados de simples souvenirs de uma viagem ao nordeste a objetos de desejo na decoração. Agora encontramos essas obras em exposições de grandes museus e leilões de arte, feiras de design brasileiro e, principalmente, dentro das nossas casas.
Assim, com certo saudosismo, podemos dizer que não estamos mais em processo de descoberta da cultura brasileira, como no movimento da tropicália. Já temos pleno conhecimento do que são nossas raízes, e de como expressá-las.
*Katheriny Mendes e Igor Dantas são sócios do Estúdio.