Casa dos Sentidos
Design
Casa brinca com sentidos para aproximar visitantes do universo dos autistas
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As paredes pretas da Caixa Sensorial representam a solidão da pessoa autista diante da incompreensão do mundo sobre sua condição. | Divulgação
Cada pessoa percebe o mundo à sua maneira, mas algumas têm um jeito ainda mais particular de conhecê-lo. É o caso dos autistas, cuja condição costuma afetar os sentidos e torná-los muito mais sensíveis aos estímulos externos. Essa diferença é o ponto de partida para a exposição Casa dos Sentidos, que abre suas portas no ParkShoppingBarigui no próximo dia 1º e fica em cartaz até 24 de abril, com entrada gratuita e visitas agendadas guiadas por especialistas em terapias cognitiva.
Idealizada pela Montenegro Produções e executada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a mostra reproduz, no meio do shopping, uma casa em que os ambientes representam como o Transtorno do Espectro Autista pode impactar a percepção por meio dos sentidos. O objetivo é usar a arte para promover a inclusão, permitindo que pessoas típicas entendam um pouco melhor como autistas sentem e se relacionam com o mundo.
“Queremos mostrar que a arte pode transformar a percepção do público no que diz respeito à inclusão e à diversidade. Ao mesmo tempo, é um projeto que tem a arte como matriz conceitual, então ele traz releituras artísticas de um universo que é excluído da sociedade”, explica a gestora da Montenegro Produções Culturais, Carolina Montenegro.
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Para atingir esses objetivos, o projeto envolveu uma pesquisa com artistas - que são os responsáveis pela criação de cada ambiente da casa - e crianças que estão no espectro autista. “Uma das oficinas envolveu foto, por exemplo. Entregamos a câmera para a criança e o fotógrafo entendeu como ela usava a câmera para enxergar o mundo”, exemplifica Carolina. A partir dessa interação, os artistas criaram suas interpretações daquilo que aprenderam com as crianças sobre suas sensações e percepções.
Uma casa, quatro ambientes
A Casa dos Sentidos conta com uma entrada - a Caixa Sensorial - e quatro ambientes, cada um deles relacionado a um sentido. O formato da casa foi inspirado no quebra-cabeça de quatro partes que é símbolo do autismo.
A Caixa Sensorial dá um “choque” no visitante: luzes, sons e imagens ativam de uma só vez vários sentidos do visitante, que precisa lidar com o excesso de estímulos. A proposta é gerar empatia e sensibilidade para ampliar a percepção para o restante dos cômodos da Casa dos Sentidos.

A partir disso, ele passeia pela sala de estar, que trabalha as percepções através do tato; pela sala de jantar, que traz sensações relacionadas ao paladar; a cozinha, que brinca com a audição; e o quarto, que apresenta uma outra perspectiva relacionada à visão.
“Há autistas que não conseguem diferenciar as coisas quando observam algo. Uma floresta, por exemplo: ou ele vê uma árvore, ou ele vê árvores, céu, mar, tudo misturado. Por isso, temos uma floresta azul no quarto, porque há uma mistura do mar com a floresta”, explica a arquiteta da Montenegro Produções Culturais, Nonnie Fenianos, que criou o ambiente do quarto ao lado da artista Veronica Fukuda.
Além de Nonnie, participaram da criação dos espaços os arquitetos Givago Ferentz, Mariana Saltini, Guta Nagano e Jorge Teixeira Júnior, que trabalharam com os artistas André Coelho, Daniélle Carazzai, Guilherme Zawa e Eduardo Ramos, respectivamente. Eles utilizaram técnicas como fotografia, cerâmica e ilustração para dar vida aos diferentes ambientes.

A estreia da exposição acontece justamente no início do mês de conscientização sobre o autismo. Para ser acessível e inclusiva, a Casa dos Sentidos terá um robô responsável pela audiodescrição de cada um dos ambientes da exposição, além de uma visita gratuita guiada por um tradutor de libras no dia 5 de abril, com agendamento prévio pelo Sympla.
Depois desta primeira temporada, a mostra deve ser levada a outras cidades, como São Paulo e Brasília, para então desembarcar na Califórnia, nos Estados Unidos, onde tem o apoio da Universidade de San Diego. A circulação, porém, depende da captação de novos recursos.
*As imagens ilustram os projetos para cada ambiente, mas não mostram exatamente como eles serão na exposição.