As pesquisas voltadas às fontes limpas de energia são uma das frentes mais importantes na luta contra as mudanças climáticas e na busca por um futuro sustentável. E uma solução vinda das Filipinas parece mostrar um caminho promissor não apenas para a geração de eletricidade, mas também para o acabamento e o apelo estético dos ambientes e edifícios, sejam eles residenciais ou corporativos.

Trata-se do AuREUS, um sistema de painéis solares produzidos a partir de resíduos de alimentos e desenvolvido pelo estudante de Engenharia Carvey Ehren Maigue, da Universidade Mapúa, localizada na capital, Manila. Diferente dos tradicionais painéis fotovoltaicos, o revestimento lembra uma membrana fina e maleável, disponível em diversas cores e aplicável como uma espécie de cobertura fluorescente em janelas e fachadas.
"AuREUS é na verdade um material, ou tecnologia, que permite que outros dispositivos capturem luz ultravioleta e a convertam em eletricidade. [Ele] é baseado em um material plástico, por isso pode ser moldado em diferentes formas", explica Maigue, em entrevista ao Prêmio James Dyson 2020, do qual foi vencedor na categoria Sustentabilidade com o projeto.

Além disso, o AuREUS é capaz de produzir energia durante cerca de 50% do tempo, de acordo com testes preliminares, contra os aproximadamente 15% a 22% dos painéis convencionais. Isso ocorre porque, ao contrário destes, que só funcionam em condições claras e posicionados de frente para os raios solares, uma vez que dependem da luz visível para produzir energia, o sistema desenvolvido por Maigue é capaz de absorver energia dos raios UV invisíveis que passam pelas nuvens. O AuREUS também captura os raios refletidos em pavimentos e fachadas de edifícios vizinhos de onde as placas estão instaladas, o que potencializa a quantidade de energia que o sistema é capaz de produzir.
Inspiração na natureza
O nome AuREUS é uma referência à aurora boreal, e não por acaso. Assim como na física que explica o fenômeno, no qual partículas luminescentes presentes na atmosfera absorvem raios UV ou gama, degradando-os e os remetendo como luz visível, o sistema faz uso destas mesmas partículas, mas das derivadas de resíduos de colheitas agrícolas. Para isso, as frutas e vegetais são triturados ou tem seus sucos extraídos para que sejam posteriormente filtrados, destilados ou macerados. As partículas luminescentes, então, são suspensas em resinas e depois moldadas no formato do revestimento, que converte a luz ultravioleta em luz visível, refletida para as bordas do painel e convertida em eletricidade para uso direto ou armazenamento.

"Embora o AuREUS tenha como objetivo gerar eletricidade a partir de recursos naturais, também quero mostrar que, mesmo que queiramos nos tornar mais sustentáveis, não é apenas a geração futura que se beneficiaria, mas também nós, a geração presente. Com o AuREUS, aumentamos o ciclo das safras dos agricultores que foram atingidos por desastres naturais, como tufões, que também são um efeito das mudanças climáticas. Fazendo isso, podemos olhar para o futuro e resolver os problemas que estamos enfrentando agora", sentencia.
Para as próximas etapas do desenvolvimento do sistema de geração de energia, Maigue pretende crias fios, tecidos e placas curvas, para que roupas, carros, aviões e barcos possam produzir eletricidade.
"Da mesma forma que os computadores eram usados apenas pelo governo ou pelos militares e agora a mesma tecnologia está em nossos smartphones, quero que a captação de energia solar seja mais acessível", conclui o estudante de engenharia na entrevista.