Depois da desaceleração da oferta de lançamentos e da valorização dos imóveis, é a vez do crédito dar sinais de que o setor imobiliário vive um novo momento. O volume de empréstimos para a construção e aquisição de imóveis em fevereiro somou R$ 6,5 bilhões, redução de 27% em relação ao mesmo mês de 2014. O valor é o segundo menor dos últimos dois anos e só ganha do registrado em fevereiro de 2013, quando o crédito liberado foi de R$ 5,8 bilhões. No comparativo com janeiro deste ano, o recuo foi ainda maior e chegou aos 29,4%. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Para especialistas, o aumento da taxa de juros e do fator de risco para os bancos privados –decorrentes da percepção de mercado recessivo e da incerteza sobre a estabilidade financeira do mutuário –, além da fuga da poupança, são outros aspectos que impactaram a liberação do crédito. “A poupança, hoje, capta menos do que no passado. Os bancos olham para os seus saldos da caderneta e reduzem seu apetite de conceder crédito”, acrescenta Paulo de Paula Abreu, presidente da Barigui Securitizadora. Nos dois primeiros meses de 2015, a captação líquida da poupança foi negativa em R$ 9,3 bilhões.
Bimestre
No primeiro bimestre de 2015, R$ 15,6 bilhões foram destinados para a aquisição e construção imobiliárias. O valor é 8,2% inferior ao do mesmo período do ano passado. Nem mesmo a oferta recorde de R$ 9,1 bilhões em janeiro – melhor para o mês na série histórica do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo – foi suficiente para frear a desaceleração. “Neste período, a curva do volume de entregas estava ascendendo, o que aumentou o volume de repasse dos financiamentos das construtoras para os bancos”, explica Fábio Tadeu Araújo, diretor de Pesquisa de Mercado da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR).
Cenário
A tendência de redução do crédito imobiliário deverá se manter durante o ano, na opinião de Abreu. A Caixa Econômica Federal afirmou, em nota, “que 2015 será o ano de preparar para crescer em 2017”. No segmento habitacional, a prioridade do banco será para o financiamento do segmento popular, custeada em sua maior parte pelo FGTS. Para a habitação de mercado, que utiliza recursos da caderneta, o foco serão os imóveis novos enquadráveis no Sistema Financeiro da Habitação (SFH) – com valor de até R$ 750 mil (Brasília, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) e R$ 650 mil nos demais estados.
O Banco do Brasil, por sua vez, pretende manter o crescimento da oferta de crédito em R$ 8 bilhões em 2015. Para isso, segundo Hamilton Rodrigues da Silva, diretor de crédito imobiliário do BB, o banco aposta em um mix de recursos que vão além da poupança. “Comparado ao que tínhamos há dez anos, o crédito é muito bom. É importante entender que o cenário não é de maravilha, mas que estamos longe da tragédia”, pontua Araújo.
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