A preocupação com a sustentabilidade é um tema recorrente na construção civil. O desejo (e a necessidade) por obras sustentáveis estimula o desenvolvimento e a disseminação de novos produtos e sistemas construtivos e faz de um velho conhecido, o bambu, uma das principais promessas para o setor.
O uso desta matéria-prima ainda é tímido e esbarra em questões relacionadas ao fornecimento, desconfiança e à falta de normatização do produto, como lembra o engenheiro agrônomo Danilo Cândia, sócio-diretor da Bambu Carbono Zero, especializada na cadeia produtiva do bambu. Em visita a Curitiba na última semana, ele falou à Gazeta do Povo sobre as vantagens e o futuro do sistema.
O bambu é um material milenar em países como o Japão e a China. Pode-se dizer que a construção civil está vivendo uma redescoberta deste material?
Por incrível que pareça, a tradição de construção civil pesada com bambu estrutural está mais na América Latina do que no Oriente. Toda a tecnologia utilizada no Brasil vem da Colômbia, que é a Meca da estrutura em bambu. Acredito que existe um movimento mundial em torno desta matéria-prima por conta da sustentabilidade. Na América Latina todos os países estão começando a mexer com bambu, nos Estados Unidos e na Europa ele também está entrando e o Inbar (International Network for Bamboo and Rattan) coordena ações de divulgação e de normatização do produto em todo o mundo.
Quando você colhe uma madeira na Amazônia destrói um indivíduo de 50, 100, até 500 anos. Quando corta um bambu, ele tem cerca de sete anos e, antes que a obra acabe, já terá brotado outro.
O Brasil já iniciou esta cultura da construção em bambu?
Ela está começando, mas ainda é incipiente. Trabalhamos em pequena escala, o que torna o produto ainda caro e destinado, na maioria das vezes, a obras de alto padrão. Obras econômicas ainda não saem com bambu, mas ele tem uma vocação enorme para isso. De Norte a Sul do país temos associações de bambu sendo montadas, programas governamentais incentivando o bambu, o que deve fazer com que ele se torne um material construtivo popular em uma ou duas décadas. Hoje, não temos bosques para sustentar um movimento enorme de construção civil. Vai vir do mercado o pedido para se plantar e, quando a corrida do plantio começar, ele vai se tornar um material corriqueiro. O bambu é a madeira do século 21, só que estamos no começo do século, então, precisamos dar um tempo para ele chegar lá.
Além da sustentabilidade, o bambu tem outros atrativos?
O bambu tem um apelo de beleza plástica, mas o principal atrativo, hoje, é a sustentabilidade. Ele é uma planta de crescimento muito veloz e de brotações infinitas, o que faz com que seja absolutamente renovável. Quando você colhe uma madeira na Amazônia destrói um indivíduo de 50, 100, até 500 anos. Quando corta um bambu, ele tem cerca de sete anos e, antes que a obra acabe, já terá brotado outro. Já existe tecnologia chinesa para produzir madeira quadrada, cerrada, de bambu. Isso faz com que ele desponte como o melhor material para substituir a madeira de lei.
Quais são suas possibilidades de uso do bambu como material construtivo?
É possível fazer piso, parede, viga, pilar, andaimes, telhado, móveis. Tudo o que a madeira faz pode ser perfeitamente substituível pelo bambu. Há, inclusive, a pretensão de substituir o aço dentro do concreto armado por bambu. O bambu ainda é uma matéria-prima. Sua obra é artesanal, lenta e cara, mas está começando um movimento para se criar sistemas construtivos de bambu.
O bambu apresenta alguma desvantagem?
Ele ainda tem problemas de fornecimento e, como madeira oca e roliça, apresenta possibilidade de trincas e rachaduras, por isso precisamos transformá-lo rachando-o em réguas. Um problema que já foi resolvido refere-se ao tratamento contra cupins e brocas.
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