| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Em 2015, os resultados do setor da construção civil não foram tão bons como em anos anteriores. Ainda assim, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR), José Eugênio Gizzi, se mantém otimista não apenas com relação à disponibilidade de crédito, mas também quanto à evolução das discussões sobre concessões e parcerias público-privadas. Em entrevista à Gazeta do Povo , Gizzi explicou seu otimismo e falou sobre a necessidade de reformulação do setor.

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O senhor havia comentado que deve haver menos recursos para a construção em 2016, mas que o que estiver disponível será suficiente para fazer o setor girar. De lá para cá, houve alguma alteração nesse cenário?

Nós vamos estar com o crédito ajustado à demanda. Tanto é que nesse corte que está sendo anunciado [corte de R$ 10,7 bi no Orçamento do Executivo anunciado em 30 de novembro], o Minha Casa Minha Vida não foi afetado. Esse era o momento que eles poderiam dizer: ‘Não dá, vamos usar esse dinheiro para outra coisa’, mas não, preservaram o MCMV. Da mesma forma, pelo o que eu tenho sentido dos agentes financeiros, principalmente da Caixa Econômica, e com toda essa mobilização em relação ao FGTS, não vai faltar recurso para o setor. Lógico, deve reduzir ainda em relação ao ano de 2015, mas vai estar ajustado à demanda.

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Existe uma expectativa de maior investimento do estado em infraestrutura. O que isso acarreta para o setor?

Esse é o surpreendente do ano. Não vemos isso na União, não temos visto em outros estados. Até vi uma notícia sobre aumento de tributação em diversos estados, corri para procurar o nosso e não o vi. Mas porque ele fez isso antes. Se pelo menos começar a retornar em investimentos, é uma bela aplicação dos recursos. Para o setor significa aumento de empregos. Você se obriga a contratar mais e isso faz toda a cadeia funcionar.

Talvez um dos caminhos seja uma maior participação da iniciativa privada.

José Eugênio Gizzi Presidente do Sinduscon-PR

E como estão as discussões sobre concessões e parcerias público-privadas?

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Na última semana, no RJ, aconteceu um evento patrocinado pela CBIC sobre PPPs e concessões, nos mesmo moldes que nós fizemos aqui no mês de outubro. É a conclusão desse ciclo. Já estou negociando espaço para, entre fevereiro e março, fazermos outro evento só do Paraná, trazendo mais empresas construtoras, mais interessados em investir, bem como os agentes públicos, para que possamos tratar isso de maneira um pouco mais prática. A ideia é trazer exemplos de outros locais, experiências vitoriosas, para ver se não são boas sugestões para os nossos governantes, visto essa incapacidade não só de investimento dos órgãos públicos, como também em relação ao seu inchamento de estrutura. Você sabe que se você vai construir uma creche, por exemplo, o custo de edificação é o menor. O custo de manutenção e com funcionários é muito maior – e é natural que assim o seja. Quando isso acontece, o município tem que contratar mais gente e a forma de contratação não é temporária: são contratações estatutárias sem possibilidade de demissão. Agora vamos pensar o seguinte: o número de nascimento por mulher no Paraná hoje é menor do que dois já. Daqui 20 ou 30 anos vamos ter menor necessidade de creche do que temos hoje. Mas eu tenho que resolver esse problema de hoje, não posso deixar de resolver. Lá na frente, havendo redução de necessidade, não vou poder demitir os funcionários. Vou continuar com eles lá e eles vão continuar custando. Esse tipo de visão que esperamos dos nossos governantes e da própria sociedade. Vamos olhar um pouco para frente ver o que a gente pode fazer hoje para não comprometer o futuro. E talvez um dos caminhos seja uma maior participação da iniciativa privada, que vai adequar seus investimentos, seus custos, seu número de funcionários a uma demanda real existente.

Ao final do balanço, além de falar sobre o cenário e as expectativas para 2016, o senhor comentou que é preciso o setor se rearranjar e reformular. O que é preciso mudar?

Nós precisamos dar mais competitividade para nossas empresas sempre. O que procuramos é a determinação do quanto nós já podemos evoluir, o que já tem disponível que é viável para as empresas fazerem um investimento e melhorarem seus processos e resolverem questões como desperdício, menor impacto no meio ambiente, redução de prazos, menor impacto no raio onde você está atuando. Outra questão é que muitas empresas grandes estão vendendo seus ativos, até para pagar a dívida deixada após as revelações da Operação Lava-Jato. Acredito que o tamanho dessas empresas vai diminuir e que elas se transformarão em empresas como as nossas, que tenham as mesmas condições de agir dentro do mercado. As obras devem ser menores e a gente briga muito por isso: que não saiam só grandes projetos para concessões e PPPs, eles podem ser modularizados. Desde que eles sejam viáveis economicamente, você vai ter uma competitividade maior, um número maior de interessados em participar. Quem vai ser o beneficiário? O cidadão contribuinte que vai receber um produto com a mesma qualidade, ou até melhor, por um preço menor e vai pagar menos por isso. Falar de rearranjo passa um pouco por isso.