Bairros como Portão, Bacacheri e Boqueirão são verdadeiras cidades dentro da cidade. É possível encontrar praticamente de tudo, de escolas a shopping centers. Apesar do acesso rápido ao Centro, muitos de seus moradores raramente vão até lá. Ir para quê? A existência de lugares assim mostra que, nas últimas décadas, Curitiba trocou o crescimento natural por algo mais refinado. A mudança chegou a tempo: em 1940, a cidade possuía 127 mil habitantes; em 1970 eram 610 mil e, hoje são 1,7 milhões um crescimento de mais de 1000%. "Sem planejamento urbano, a vida aqui seria muito complicada", avalia Lourival Peyerl, coordenador de dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).
O desenho das cidades dentro da cidade nasceu nos anos 60, com a elaboração do Plano Diretor (de 1966). Os urbanistas viram que a cidade poderia crescer linearmente a partir de determinadas ruas e avenidas. Em 1972, a lei de zoneamento definiu os setores estruturais Norte, que ia da Avenida João Gualberto à Avenida Paraná, e Sul, dos bairros Cristo Rei a Pinheirinho. Nestes setores foram implantados os "trinários", sistemas de circulação formados por uma canaleta para o transporte coletivo, duas vias de tráfego lento e duas vias de tráfego contínuo as vias rápidas. "O trinário envolveu ao mesmo tempo circulação viária, transporte coletivo e uso do solo. Isso reduziu os custos com infraestrutura", diz Peyerl. Desde então, os 19 bairros cortados pelos eixos Norte e Sul foram gradativamente ocupados por moradias, comércio e serviços (é o chamado adensamento).
Nos anos 70 e 80 Curitiba ganhou outros eixos: a ligação Centro-Boqueirão via rua Marechal Floriano e a Conectora Cinco, que vai do Campina do Siqueira à CIC. Hoje, o desafio da prefeitura é "domar" a região cortada pelo trecho urbano da BR-476 (a antiga BR-116), entre o Atuba e o Pinheirinho. O projeto, que ganhou o nome de Eixo Metropolitano, pretende transformar 18 quilômetros da antiga rodovia em uma avenida e garantir uma ocupação inteligente da região.