Um endereço na figueira
A casa da árvore na propriedade da empresária de moda Desiree Galvão Bueno, em Londrina, tem diversas finalidades, dependendo de quem a utiliza. Se a família recebe os amigos, é um espaço para happy hour, curtir o pôr-do-sol ou um luau sob as estrelas. "Fazemos questão de levar os convidados para a casa na árvore. Muitos ficam surpresos com o tamanho. Às vezes tem sorteio para saber quem pernoitará lá", conta.
A construção de uma cabana com estrutura de bambu e cobertura de folhas de bananeira, no alto de um abacateiro, a 5 metros do chão, marcou e deu rumo à vida do administrador Ricardo Brunelli. Foi em 1976, no município de Rolândia, no Norte do Paraná. Ele e dois amigos até conseguiram passar uma noite na frágil estrutura, mas choveu, a casa molhou por todas as partes e o sonho dos meninos desmoronou. "Fiquei com aquilo na cabeça e disse a mim mesmo que um dia iria construir uma casa na árvore de verdade", conta Brunelli, que foi mais longe e é proprietário da empresa Casa na Árvore, em Londrina. O administrador realiza o desejo de crianças e inclusive de adultos, que um dia sonharam em ter a casa na árvore para se aventurar e usar como esconderijo na hora das brincadeiras e momentos de mau humor.Na residência onde mora, Brunelli caminha 40 passos, sobre uma passarela, do quarto até o home office de 32 metros quadrados, localizado na casa da árvore. "É um privilégio trabalhar em um ambiente tranquilo e acompanhar a vida dos pássaros daqui de cima", revela, do alto de seu refúgio. A mulher, Denise, aproveita o espaço como um local para leitura, e a filha, Giovana, tem sua própria casa na árvore, de 14 metros quadrados, logo abaixo, bem mais próxima do chão.
Público
As crianças são grandes "clientes" de empresas como a de Brunelli, mas nem sempre é um casal com filhos que encomenda o produto. Geralmente em fazendas, chácaras, sítios e condomínios fechados com ampla área verde, é utilizada como um local para admirar a vista, relaxar e encantar os visitantes. "É um resgate da infância e o desejo de ter mais contato com a natureza", afirma o arquiteto Fred Benedetti.
Um de seus projetos, em parceria com a arquiteta Fernanda Abs, é uma casa na árvore de 35 metros quadrados, criada para uma mostra de decoração. É um ambiente sem divisórias, com cozinha acoplada e terraço. "Ela é inteira de madeira, com paredes duplas para ligação de luz e água, cobertura de vidro e chuveiro ao ar livre", descreve Benedetti. A casa, com toda a decoração, foi vendida por R$ 40 mil e está em uma fazenda em Araras, no interior de São Paulo.
Check-up antes de construir
Não existe uma lei que proíba a construção de casas na árvore, desde que não haja cortes, mas diversos fatores implicam na montagem para garantir a durabilidade da estrutura e saúde da espécie, de maneira que passe de geração para geração.
Entre os quesitos, os profissionais verificam se o tronco foi alvo de cupim em algum momento da vida e até que ponto afetou a saúde dela; se os galhos estão com alguma infiltração; e se a base tem um diâmetro de pelos menos 80 centímetros, o que garante uma árvore madura. "Somente depois de toda uma lista de itens de avaliação é que conseguimos fazer um orçamento, antes é muito difícil", revela Brunelli.
Outro fator importante é pensar no que será levado para cima. Se o dono quiser móveis, por exemplo, deve haver apoio reforçado no solo. O ideal, avalia o engenheiro civil Peter Heinrichs Júnior, proprietário da The Log Artefatos em Madeira, em Curitiba, é utilizar madeiras roliças (mourão) presas ao solo, que farão a sustentação da casa.
Para as infantis a 1,5 metro do chão , ele sugere complementar com escorregadores; para adultos, mais altas, um mirante. A construção pode ser em madeira de lei, como cumaru, angico-preto, angelim pedra, peroba-rosa e jatobá; madeiras de reflorestamento e demolição.
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