Entrevista
Usuário precisa criar cultura de segurança
Emerson Luiz Baranoski, major do Corpo de Bombeiros do Paraná
As diretrizes da norma de segurança americana não são exclusivas dos países que a adotam integralmente. O major Emerson Luiz Baranoski, do Corpo de Bombeiros do Paraná, diz que tanto ela quanto a norma europeia serviram de referência para a elaboração do Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico dos Bombeiros do Paraná, em vigor no estado. "Hoje, o nosso código é muito próximo das normas internacionais, pois é uma mescla das normatizações brasileira, americana e europeia", conta. O major comentou sobre a adoção do sistema americano em entrevista à Gazeta do Povo.
Por que a adoção da norma americana se tornou um diferencial?
Para uma seguradora internacional fazer o seguro de uma empresa, por exemplo, uma exigência é que o prédio atenda as normas do país de origem. Uma edificação que não utilize a norma americana não estará insegura. A reformulação do nosso código, em 2011, trouxe um avanço significativo em relação às questões de segurança. Hoje, as normas são complementares.
O Corpo de Bombeiros vê com maus olhos a utilização da norma americana?
Pelo contrário, sempre incentivamos quando há uma medida que pode melhorar ainda mais a segurança de um empreendimento. O que precisa ficar claro é que uma edificação precisa atender o código do Paraná, que fixa as condições mínimas de segurança. As medidas adicionais ficam a critério do responsável técnico pela obra.
O que pode ser aprimorado no que se refere à segurança dos empreendimentos?
É preciso criar uma cultura de prevenção a incêndios. De nada adianta aplicar normas mais rigorosas se um dos principais agregadores, que é o próprio usuário da edificação, não sabe utilizar os equipamentos de forma correta, não faz a manutenção deles ou não sabe como agir em casos de incêndio.
Depois das questões relacionadas à sustentabilidade, aspectos ligados à segurança dos empreendimentos são a bola da vez nos projetos imobiliários, principalmente de prédios corporativos. Nesse contexto, a adoção de sistemas e diretrizes com padrões americanos vem ganhando destaque.
Conhecida como Life Safety Code, a norma NFPA 101 é o código americano que determina as diretrizes de segurança nas construções e incorpora aos projetos parâmetros mais rigorosos para as respostas do prédio em casos de acidentes, como as saídas de emergência, por exemplo. Mas a norma americana não é totalmente nova por aqui, lembra o presidente da Associação Paranaense dos Engenheiros de Segurança (Apes),Flávio Freitas Dinão. A norma de procedimento técnico do Corpo de Bombeiros do Paraná que trata sobre as saídas de emergência já incorpora aspectos da norma americana.
Na capital, um dos empreendimentos que adotou o sistema americano é o Curitiba Office Park (COP), no Prado Velho. A segunda torre do condomínio, concluída em maio, foi projetada para atender as principais exigências da norma americana. Eduardo Schulman, diretor da Top Imóveis incorporadora do prédio juntamente com a BP Empreendimentos , conta que a opção foi resultado da filosofia de inovação da empresa e do desejo de responder às necessidades das multinacionais. "Buscamos atender o nível de exigência dessas empresas, que têm uma cultura muito forte na prevenção de acidentes e no cuidado com as pessoas. Para isso, precisávamos de um produto com padrão internacional", completa Roberto Pimenta, diretor de operações da empresa.
O que diz a norma?
O arquiteto Flávio Schiavon, responsável pelo projeto do COP 2, explica que o dimensionamento, o número das saídas de emergência e a estratégia de posicionamento delas dentro do empreendimento estão entre as principais diretrizes da norma americana. Nela, são levados em consideração o trajeto a ser percorrido pela pessoa até a escada e a distância entre as rotas de fuga, por exemplo. "Pela NFPA 101, cada sala também deve ter, no mínimo, duas rotas de fuga, localizadas em extremidades opostas dentro da unidade", acrescenta o arquiteto. A normatização utilizada no Paraná, por sua vez, tem como principal premissa a distância entre a pessoa e a escada.
Outro ponto de destaque do código americano se refere à exigência de que pelo menos uma das escadas de emergência do prédio levem diretamente a uma área externa. Segundo a norma utilizada no estado, as escadas de emergência podem desembocar em ambientes internos.
Os sistemas de combate a incêndio, como os sprinklers dispositivos fixados no teto que funcionam como um chuveiro , são outros equipamentos que têm sua utilização destacada pela norma americana, principalmente nos empreendimentos corporativos, lembra Schiavon. Vale ressaltar que as características referentes às distâncias e aos equipamentos a serem utilizados para a segurança, seja pela norma americana ou pela adotada no estado, variam de acordo com as dimensões e o uso de cada empreendimento.
Uso da norma americana interfere no projeto
A adoção das normas americanas reforça a segurança, mas também pode impactar os custos. O arquiteto Flávio Schiavon, responsável pelo projeto da segunda torre do Curitiba Office Park (COP 2), diz que é necessária a realização de uma pesquisa extensa para conhecer as exigências da norma. "Como o objetivo é atender as grandes empresas, precisamos analisar as exigências dessas corporações em manuais que descrevem o que o edifício deve conter e verificar o que disso é realmente relevante para o empreendimento que será construído", conta.
Outro ponto, segundo o arquiteto, é quebrar a resistência cultural que pode existir entre as pessoas envolvidas com o projeto, como incorporadores e técnicos, para que eles possam ser convencidos sobre a importância do acréscimo de determinados sistemas, que podem gerar aumento de custos. "Nós, como arquitetos, oferecemos a alternativa de adequação também à norma americana para os projetos que percebemos ter esse potencial de atendimento a grandes empresas", diz.
No COP 2, por exemplo, a adoção da norma resultou num acréscimo de 5% nos custos do empreendimento, segundo Eduardo Schulman, diretor da Top Imóveis. "Curitiba oferece uma qualidade excepcionalmente boa de prédios corporativos. Nesse horizonte, qualquer investimento em inovação traz mais competitividade", afirma.