Mais de 11,5 milhões de documentos analisados por um consórcio de jornalistas investigativos mostram como funciona a corrupção mundial e como políticos, chefe de estados e criminosos utilizam paraísos fiscais e offshores para ocultar recursos. De acordo com O Estado de S. Paulo, foram analisados 40 anos de registros financeiros da empresa Mossack Fonseca, que tem sede no Panamá e escritórios em outras 39 localidades. A reportagem publicada pelo Estadão mostra que o acervo de documentos expõe uma rede de offshores utilizada por líderes políticos mundiais - entre eles 12 chefes de Estado, antigos e atuais, como o presidente Russo Vladimir Putin. De acordo com a apuração, pessoas próximas a Putin teriam movimentado U$ 2 bilhões por meio de de bancos e outras empresas.
A reportagem faz parte da série Panamá Papers e foi conduzida por um Consórcio de Jornalistas Investigativos, que reúne mais de 100 organizações de mídia. Os milhões de documentos foram analisados por mais de um ano e mostram detalhes de acordos financeiros entre a Mossack Fonseca e 128 políticos e funcionários públicos ao redor do globo. Além de políticos, o acervo também liga as práticas fraudulentas a traficantes, bilionários e celebridades. De acordo com o Estadão, companhias offshores são controladas pelos primeiros-ministros da Islândia e Paquistão, além dos filhos do presidente do Azerbairjão e o rei da Arábia Saudita.Os documentos ainda mostram que 33 pessoas envolvidas no esquema fazem parte de uma “lista negra” dos Estados Unidos por fecharem negócios com traficantes mexicanos, organizações terroristas ou com a Coreia do Norte ou Irã.
Entre os líderes identificados pela reportagem estão primeiros-ministros e ex-primeiros ministros da Georgia, Islândia, Iraque, Jordânia, Catar e Ucrânia, além do presidente da Ucrânia, Argentina, Emirados Árabes Unidos, o ex-presidente do Sudão, o rei da Arábia Saudita e o Emir do Catar. O presidente da Argentina, Maurício Macri, foi vice-presidente de uma companhia gerenciada pela Mossack Fonseca nas Bahamas. A reportagem ainda identificou 58 parentes e pessoas próximas à reis, primeiros-,ministros e presidentes.
A empresa
A Mossack Fonseca é uma das maiores criadoras de empresas de fachada e, as informações coletadas mostram mais de 214 mil offshores ligadas a pessoas de mais de 200 localidades. O jornal ainda destaca que os arquivos trazem detalhes de escândalos como o da FIFA e de roubo de ouro na Inglaterra. Seus criadores são figuras influentes no Panamá. O imigrante alemão Jürgen Mossack se mudou para o Panamá depois da Segunda Guerra Mundial. Ramón Fonseca atua como conselheiro do presidente do país e, de acordo com o Estadão, se afastou do conselho diretivo da empresa após a eclosão da Operação Lava Jato no Brasil e quando os jornalistas responsáveis pela investigação passaram a questionar sobre as atividades da empresa.
A Mossack Fonseca afirmou ao jornal não realiza operações ilegais e que, em 40 anos de atividade, nunca foi acusada de delito criminal.
Como funciona o esquema
Ainda de acordo com o jornal, grandes empresas de advocacia e bancos atuam na venda de sigilo para a realização destas transações. Os arquivos ainda mostram que a Mossack Fonseca era procurada por pessoas físicas ou por intermediários, como os bancos ou escritórios. A empresa então oferecia uma lista de países onde a offshore poderia ser instalada, dependendo do grau de sigilo que o cliente buscava. Desta forma, é possível adquirir uma empresa totalmente constituída e ocultar a verdadeira identidade do dono, que controla de fato os bens. Desta forma, a empresa poderia abrir contas em bancos e adquirir propriedades em qualquer lugar do mundo.
Os documentos apresentados pelo Estadão mostram a existência de pelo menos 15.600 empresas abertas por bancos para seus clientes. Milhares delas criadas por bancos internacionais como o UBS e o HSBC, diz o jornal.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura