O embaixador Russo na Turquia Andrey G. Karlov foi assassinado nesta segunda-feira (19) em uma exposição de arte em Ancara, supostamente pelo oficial de polícia Mevlut Mert Altinas. Segundo relatos, o atirador teria dito: “Faremos vocês pagarem pelo que aconteceu em Aleppo” – segundos antes de disparar contra o embaixador, no que seria uma provável referência ao apoio da Rússia ao governo sírio durante o cerco brutal em Aleppo.
Permanece incerto qual será a resposta do governo russo. Mas dadas as tensas relações entre Ancara e Moscou nos últimos tempos, séculos de rivalidade e animosidade somados a políticas externas conflitantes em relação à carnificina que se tornou a guerra civil síria, temos pelo menos alguns cenários potencialmente problemáticos com os quais nos preocupar.
1. Hackers russos atacariam a Turquia. A Rússia tem uma propensão a causar problemas políticos domésticos por meio de ataques cibernéticos estrategicamente calculados (veja o exemplo do que ocorreu com os Estados Unidos). O governo turco já foi alvo de ataques similares no passado. No último dia 7 de dezembro, o site WikiLeaks divulgou mais de 57 mil e-mails de Berat Albayrak, ministro turco de energia e recursos naturais e genro do presidente Recep Tayyip Erdogan, da Turquia. Se considerarmos os indícios de que a Rússia teria cooperado com o WikiLeaks na publicação de e-mails no passado, hackers russos fariam da Turquia seu próximo alvo, revelando outros segredos infames sobre pessoas próximas de Erdogan.
2. A já frágil relação entre a Rússia e a Turquia chegaria ao fim, levando o governo turco a uma nova onda de pressões econômicas. Foi o que ocorreu em novembro de 2015 quando um caça F-16 turco abateu um bombardeiro russo na fronteira com a Síria. Em resposta, a Rússia embargou um grande número de produtos turcos levando as exportações a despencarem US$ 737 milhões. Além disso, ainda suspendeu a construção do gasoduto que selaria uma “parceria estratégica” entre os dois países. A situação econômica só avistou melhoras quando Erdogan se desculpou publicamente em 2016.
3. O assassinato seria usado como desculpa para promover repressões democráticas em ambos os países. Erdogan prendeu milhares após a fracassada tentativa de golpe contra seu governo em julho passado, golpe este que atentava contra sua vida. Putin chegou ao poder em partes porque reprimiu a violência insubordinada na Chechênia. Independentemente do país, o assassinato não prenuncia nada positivo para a sociedade civil de ambos os países.
4. O cessar-fogo em Aleppo entraria em colapso. Tanto a Rússia quanto a Turquia estão em lados opostos da guerra civil na Síria, mas ambos intermediaram o mais recente cessar-fogo que permitiu com que rebeldes e civis deixassem Aleppo. O assassinato faria com que esse cessar-fogo ruísse por completo, ou levaria a novos confrontos em outras partes da Síria. Tropas russas operam ao nordeste da Síria, não muito distante de onde tropas turcas participaram de ataques em cidades ocupadas pelo Estado Islâmico.
5. A Rússia jogaria com a “carta curda”. A Turquia é membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), o que dificulta a probabilidade da Rússia declarar guerra ao país. Muito provavelmente Karlov não é, em outra palavras, outro arquiduque Franz Ferdinand [cujo assassinato detonou a Primeira Guerra Mundial]. Entretanto, a Rússia poderia usar suas restrições históricas com a população curda insatisfeita na Turquia, possivelmente apoiando militantes curdos levando a mais ataques terroristas. No último sábado, um carro-bomba matou 13 soldados e feriu outros 55 na região central da Turquia. No dia 11 de dezembro, duas bombas explodiram em Istambul matando 39 e ferindo um total de 154 pessoas. Um grupo militante curdo assumiu responsabilidade pelos ataques em Istambul.
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