No mundo todo internautas se comoveram com as fotos do menino sírio Aylan Kurdi, que morreu afogado após um bote de refugiados afundar enquanto tentava chegar na ilha de Kos, na Grécia. O choque causado pelas imagens levou muita gente a questionar as razões para que a imprensa publicasse um retrato de tamanha tristeza. Alguns criticaram por entender que a imagem valorizava a exposição de uma criança morta; outros viram sensacionalismo e uma voraz sede de audiência dos veículos de comunicação. A decisão de publicar as fotos, entretanto, foi acertada.
Em uma das fotos, o corpo de Aylan Kurdi está de bruços na areia da praia, sendo observado por um guarda costeiro turco. Em outra, o corpo de Aylan Kurdi está sendo carregado pelo guarda. O fato retratado nas imagens é relevante e comovente. Tanto merece destaque que chamou atenção de boa parte da opinião pública para um problema que vinha aparecendo de forma fragmentada e pouco contextualizado.
Evidentemente as fotos geram desconforto em quem as vê e traz à tona uma série de emoções e sentimentos contraditórios – compaixão e tristeza (pela morte do menino), raiva (do Estado Islâmico, responsável pela fuga de parcela expressiva do povo sírio); indignação e desapontamento (da burocracia e dos obstáculos impostos pela União Europeia, para a migração); impotência (diante da brutalidade dos fatos que atingem inocentes) e solidariedade (o que podemos fazer para mudar isso).
O problema dos refugiados sírios que vão chegando em ondas todos os meses na Europa agora não mais terá como ser deixado para decisão futura. Governos europeus – sob a liderança suave da chanceler alemã, Ângela Merkel – se mobilizam para rever políticas migratórias que já não funcionam mais.
Neste momento é importante não esquecer de outra foto de Aylan Kurdi e seu irmão. Eles aparecem ao lado de um urso de pelúcia sorrindo. Essa imagem, potencializada pelo trágico conhecimento das outras duas, lembra ao mundo que a vida de Aylan não precisava ter chegado ao fim de forma tão brutal. É essa imagem da alegria que não se pode esquecer. Traz à consciência aquilo que poderia ter sido.