Aproximação

Funeral reunirá de príncipe a ditador

O funeral do presidente venezuelano Hugo Chávez vai reunir em Caracas um amplo leque de dignitários que vai de tradicionais aliados do regime bolivariano a desafetos tentando uma reaproximação.

O governo da Espanha, por exemplo, vai enviar o príncipe Felipe, em uma tentativa de estreitar os estremecidos laços com a Venezuela. Um dos últimos a confirmar a presença foi Alexander Lukashenko, que governa a Bielorrússia com mão de ferro desde 1994, o que lhe valeu o título de último ditador da Europa.

O cubano Raul Castro, anfitrião de Chávez durante seu tratamento contra o câncer, chegou ontem à Venezuela. O governo de Barack Obama será representado por dois congressistas – um deles aposentado – e seu encarregado de negócios em Caracas.

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Autor de Populismos latinoamericanos: los tópicos de ayer, de hoy y de siempre, entre outros livros, o argentino Carlos Malamud é, na Espanha, um dos mais prestigiosos analistas políticos especializados em América Latina. Principal pesquisador do Real Instituto Elcano de Estudos Internacionais e Estratégicos, Malamud diz que, para o chavismo se perpetuar, é essencial que seus seguidores encontrem a medida certa para tratar a memória do líder morto, evitando, sempre, cair no ridículo.

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O chavismo sem Chávez é possível?

Possível é, mas dependerá de uma série de variáveis. O requisito básico é o sentimento de lembrança forte de uma boa parte do povo. Aparentemente isso existe, mas, caso o chavismo ganhe as próximas eleições presidenciais, é preciso que haja uma gestão do governo de acordo com as expectativas, ou seja, que não condene o projeto de Chávez ao fracasso e ao ostracismo.

Se a ameaça para perpetuar o chavismo não parece estar nas ruas, onde está?

A principal ameaça está na divisão do movimento, no afã de "protagonismo" de líderes — como Nicolás Maduro, Diosdado Cabello, Adan Chavez, Elias Jaua —, e, principalmente, na possibilidade de que uma má gestão de governo coloque em questão tudo o que foi feito até agora.

Acredita que os venezuelanos obedecerão ao desejo de Chávez de eleger Maduro?

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Tudo indica que sim. De fato, apesar da divisão do otficialismo, o desejo de manter o poder funciona como um cimento aglutinador que não existe no caso da oposição. A oposição se encontra, hoje, fora de forma para enfrentar um desafio dessa natureza.

Se ganha Maduro, ele governaria em nome de Chávez?

Tudo o que Maduro faça, pelo menos nos primeiros meses ou anos, será em nome de Chávez, em lembrança de Chávez, para cumprir os desejos de Chávez.

Mas e o carisma e a liderança?

São intransferíveis, e isso será um desafio. A comparação com Chávez é inevitável, e Maduro está a anos-luz de Chávez. Maduro costuma usar muitos dos argumentos de Chávez, mas na boca de Chávez tinham uma força e uma capacidade de comunicação que não têm na de Maduro.

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Nesta fase pré-eleitoral, quais os pontos mais delicados para a continuidade do chavismo?

É muito importante encontrar um discurso que mantenha viva a lembrança de Chávez sem cair no ridículo, sem ficar meloso.