A agência nuclear da ONU teme que a revelação tardia do Irã de um novo local de enriquecimento de urânio signifique que o país esteja escondendo outras instalações nucleares, segundo um relatório obtido pela Reuters na segunda-feira.
O documento afirma que o Irã disse à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que começou a construir o local subterrâneo perto de Qom em 2007, mas a AIEA tem provas de que as obras começaram em 2002, pararam em 2004 e foram retomadas em 2006. O Irã revelou a existência da instalação em setembro.
O relatório diz que o Irã proporcionou acesso total aos inspetores da AIEA em sua primeira visita ao sítio de Qom, há três semanas, mas ainda não forneceu respostas completas e críveis para verificar se a planta se destina apenas a finalidades civis.
"A agência indicou (ao Irã) que sua declaração sobre a nova instalação reduz o nível de confiança sobre a ausência de outras instalações nucleares em construção e dá margem para questões se outras instalações nucleares não foram declaradas à agência", afirma o relatório.
O fato de o Irã não informar a agência sobre sua decisão de construir ou autorizar a construção de uma instalação nuclear tão logo a decisão tenha sido tomada é "inconsistente" com suas obrigações de transparência para com a agência da ONU, diz o documento.
"Além disso, o atraso do Irã em apresentar esse tipo de informação à agência não contribui para a construção de confiança", afirma, acrescentando que o Irã tinha mais questões a responder sobre a cronologia e o propósito do local.
O Irã disse à AIEA que o sítio de Qom foi concebido como um sistema de apoio para preservar o programa de enriquecimento civil, caso o complexo de Natanz, que é bem maior, seja bombardeado por inimigos como Israel.
Diplomatas ocidentais e especialistas em assuntos nucleares dizem que a capacidade planejada do sítio de Qom - 3.000 centrífugas - faz pouco sentido para um centro de enriquecimento civil atuando sozinho, pois seria muito pouco para alimentar uma usina nuclear o tempo inteiro. Ele poderia, entretanto, produzir material físsil para uma ou duas bombas atômicas por ano.
O relatório da AIEA diz ainda que os inspetores descobriram o sítio de Qom em "um estado avançado" de construção, mas sem a existência de centrífugas nem material nuclear. Afirma que o Irã disse à agência que ele seria inaugurado em 2011.
Os inspetores da AIEA também descobriram que o Irã estava enriquecendo urânio com 650 centrífugas a menos - 3.936 - no seu principal complexo nuclear de Natanz, apesar de ter elevado um pouco o número total de máquinas instaladas, para 8.692. Segundo diplomatas ocidentais e analistas, a redução no enriquecimento provavelmente ocorreu por falhas técnicas.