Internacionalmente reconhecido como presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara pediu paz depois que seu rival foi preso com a ajuda de forças da França, mas enfrenta uma enorme tarefa para reunificar um país assolado pela guerra civil.
Ouattara, que venceu a eleição presidencial de novembro do ano passado com aval da ONU, pode enfim assumir o posto na nação do oeste africano depois que seu antecessor, Laurent Gbagbo, foi capturado na segunda-feira, encerrando mais de quatro meses de impasse que descambou para um conflito armado.
Gbagbo, que se recusava a renunciar após dez anos no poder, foi preso quando forças francesas invadiram o bunker onde ele se refugiava há uma semana e o entregaram às forças de Ouattara.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu a Ouattara que forme um governo de unidade nacional para ajudar a resolver as divisões do país, segundo o porta-voz dele.
O governo francês anunciou também nesta terça que dará uma ajuda financeira de 400 milhões de euros à Costa do Marfim para ajudar os moradores e reiniciar os serviços públicos em Abidjan.
Ouattara surge assim como líder do país, embora muitos analistas digam que isso pode não bastar para por fim aos combates que mancharam de sangue o maior produtor mundial de cacau nas últimas semanas.
"Peço a meus compatriotas que se abstenham de todas as formas de represália e violência", declarou Ouattara em discurso na tevê TCI no final da segunda-feira, pedindo "uma nova era de esperança".
"Nosso país virou uma página dolorosa de sua história", disse, exortando milicianos jovens entregues a saques a depor as armas e prometendo restaurar a segurança na nação afligida.
A violência étnica vicejou durante o prolongado cabo de guerra de Ouattara com Gbagbo, especialmente no oeste do país, com centenas de mortos dos dois lados do conflito resultantes das atrocidades de ambos contra civis, afirmam grupos de ajuda.
Ouattara disse que Gbagbo, sua esposa e auxiliares detidos enfrentarão a justiça. Mas também prometeu uma Comissão da Verdade e da Reconciliação nos moldes da África do Sul para esclarecer todos os crimes e abusos de direitos humanos.
Um final para o impasse pode pavimentar o caminho de uma rápida retomada da exportação de cacau, e aumenta as esperanças do pagamento já atrasado dos títulos Eurobond da nação, dizem analistas.
Na capital comercial Abidjan, onde as pessoas ficaram trancadas em casa com pouca água e comida durante os dez dias de embates, as forças de Ouattara se deparam com um desafio mais imediato.
Os estoques minguantes, assim como os frequentes cortes de energia e uma carência de medicamentos, alimentaram temores de um desastre humanitário a menos que as autoridades ajam rapidamente.
Como lembrete das tensões ainda fortes, moradores da vizinhança de Yopougon, no norte de Abidjan, disseram que milícias armadas continuam a vaguear pelas ruas.
"Na noite passada houve disparos perto das 23h (horário local)", afirmou Jacques Kouakou, um morador, à Reuters por telefone. "Quando acordamos esta manhã, descobrimos que 14 jovens da vizinhança haviam sido mortos a tiros."
"Ouattara precisa lidar com isso com cuidado, para administrar as tensões em casa, aplacar os apoiadores de Gbagbo e assim resolver não somente a disputa eleitoral, mas uma guerra civil que existe de fato há 10 anos", disse Mark Schroeder, da consultoria de risco político Stratfor.
O pleito de novembro deveria ter posto fim à guerra civil de 2002-3 que dividiu o país. Em vez disso ele reacendeu o conflito, matando mais de mil pessoas e deslocando um milhão. O saldo final de mortes deve chegar aos milhares.
A legitimidade de Ouattara pode ser afetada pelas acusações de que suas forças mataram centenas enquanto varriam o país a caminho de Abidjan, o que seus auxiliares negam.
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