Curitiba – O cientista político venezuelano da Universidade de São Paulo (USP), Rafael Villa, defende que a aliança de Brasil e Venezuela não provoca desconfiança externa. O motivo é que o Brasil não adota o mesmo grau de discurso populista quanto o presidente venezuelano Hugo Chávez.

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Para Villa, existem diferenças determinantes entre a Venezuela e Cuba, apesar da afinidade ideológica que faz os Estados Unidos associarem Chávez ao presidente Fidel Castro, que está no poder há 45 anos. Ele diz que o líder venezuelano não vem adotando medidas tão rígidas quanto Havana. Confira a análise do especialista, que visita periodicamente seu país, sobre a postura política de Chávez:

Gazeta do Povo – Até que ponto a postura anti-EUA que o presidente venezuelano Hugo Chávez adota o fortalece?

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Rafael Villa – O enfrentamento tão franco com os Estados Unidos como Hugo Chávez adota certamente mantém espaço na mídia e no círculo político. Não sei exatamente se isso traz benefícios objetivos tanto para o país quanto para ele mesmo. Por parte de Chávez não existe, em muitos momentos, dosagem de seu discurso. Isso pode ajudar ou prejudicar. O desgaste da imagem de Chávez ocorre também nos momentos em que ele não tem provas do que afirma e quando o que fala não passa de um discurso radicalizado. Por outro lado, este tipo de enfrentamento acaba sendo prejudicial para a Venezuela, porque alguns investimentos externos ficam em jogo.

Alguns analistas argumentam que a aproximação do Brasil com Chávez é contraditória e prejudicial para as relações exteriores. O senhor concorda?

Primeiro, deve-se analisar que o Brasil não tem o nível de radicalidade de Chávez. Outro ponto é que a aliança com a Venezuela não é de agora. A aproximação com Chávez não provoca desconfiança, porque o Brasil não adota o mesmo grau de populismo.

Em um cenário hipotético, se Chávez permanecesse por mais tempo no poder, poderia ter o mesmo destino de Fidel Castro?

Apesar do autoritarismo de Chávez, não há medidas tão rígidas na Venezuela quanto em Cuba. Isso é uma margem de segurança, mas não quer dizer que a Venezuela não tenha afinidade ideológica com Cuba. Além disso, a oposição na Venezuela é mais atuante, enquanto em Cuba se mantém abafada.

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Como o senhor analisa a postura norte-americana perante Chávez?

Os EUA tiveram uma postura errada ao não avaliar a permanência de Chávez no poder. Ou seja, não houve consideração pela escolha política dos venezuelanos em mantê-lo no poder. Os EUA erraram neste ponto e também ao tratar Chávez como se estivesse no período de Guerra Fria, no sentido ideológico. Outro senão é que os EUA financiaram parte da oposição na Venezuela, que não segue os princípios democráticos. O apoio dos EUA ao golpe de Estado, em 2002, foi o divisor de águas, porque a partir deste momento Chávez passou a ter um discurso ainda mais forte contra os EUA. Esse enfrentamento, de certa forma, dá força para Chávez. Alguns setores sob a perspectiva anti-imperialista o vêem como um herói da resistência, um ícone. (KC)