A América Latina deixou de lado suas diferenças políticas e até fronteiriças para enviar ajuda humanitária ao Chile, devastado no fim de semana por um dos piores terremotos da história, que deixou 795 mortos e pelo menos 2 milhões de afetados.
Aviões com alimentos, água, tendas, mantas e geradores começaram a chegar de países de toda a região ao aeroporto de Santiago, reaberto parcialmente depois de sofrer graves danos no terremoto de magnitude 8,8.
Na Bolívia, o presidente Evo Morales lançou na terça-feira uma campanha por doações, na qual ele próprio prometeu metade do seu salário, enquanto seus ministros contribuirão com 30 por cento.
Bolívia e Chile há mais de três décadas não mantêm relações diplomáticas, mas desde o começo de 2006 os governos socialistas de Morales e Michelle Bachelet iniciaram um processo de aproximação.
Uma guerra contra o Chile no século 19 levou a Bolívia a perder seu acesso ao oceano Pacífico. No mesmo confronto, uma parte do território peruano foi integrada ao norte chileno.
Morales conclamou os bolivianos a participarem de "uma campanha de solidariedade com dois povos da América Latina, primeiro o Haiti e agora o Chile".
O presidente do Peru, Alan García, liderou por sua vez o envio de dois aviões militares da Força Aérea do seu país e de um Boeing 737, um dos quais com um hospital móvel para atender os feridos deixados pelo terremoto e pelos tsunamis subsequentes.
Peru e Chile mantêm atualmente um litígio em uma corte internacional por causa dos seus limites marítimos, e nos últimos meses os dois governos tiveram fortes atritos, em meio a denúncias de espionagem militar de Santiago contra Lima.
"É uma oportunidade de irmandade sul-americana, de irmandade fraternal, humana, para quem sofreu este desastre que (...) foi horroroso por sua dimensão", disse García antes de embarcar para o Chile. "O que ocorreu lá quase não tem precedentes na América do Sul."
O Peru também tem um histórico de fortes terremotos, e em 2007 sofreu um sismo de magnitude 7,9 na zona costeira central, com saldo de 600 mortos e milhares de imóveis destruídos.
Médicos e telefones
A Argentina, que sentiu o sismo do Chile e suas fortes réplicas, enviou um avião militar Hércules com usinas de purificação de água e geradores. O país também espera mandar alimentos por terra para o outro lado dos Andes.
Especialistas argentinos pretendem ir à localidade chilena de Curicó para montar um hospital de campanha com laboratório, sala de cirurgia, UTI e emergência.
O México recebeu formalmente um pedido de ajuda do governo chileno, que solicitou, entre outros itens, hospitais de campanha, telefones por satélite e sistemas de purificação de água. O governo mexicano está centralizando a ajuda e pretende despachá-la nas próximas horas.
De Cuba, uma brigada com cerca de 30 trabalhadores da saúde se deslocou para o Chile. Ao se despedir do grupo, o ministro da Saúde do regime comunista, José Ramón Balaguer, disse que "prestar ajuda humanitária ao povo chileno nestes momentos difíceis é tarefa de honra, e sabemos que podemos confiar em vocês".
A secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, que se encontra em viagem por vários países da região, chegou na terça-feira a Santiago e conversou com Bachelet para oferecer ajuda nos trabalhos de resgate e reconstrução.
Ajuda brasileira
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva fez na segunda-feira uma rápida visita ao Chile e prometeu a Bachelet o envio de equipes de resgate e material de ajuda.
O governo brasileiro enviará ao Chile, o mais rápido possível, dois helicópteros da Força Aérea Brasileira (FAB), tipo H 60. Nos próximos dias, também serão enviados àquele país equipamentos de diálise e um hospital de campanha da Marinha, cujo transporte será feito através de aeronaves da FAB.
Essas ações atendem às demandas do Chile, segundo informação divulgada na tarde desta terça-feira (2) pela assessoria de imprensa do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que coordena as ações do Gabinete de Crise do Governo Federal, que trata de assuntos ligados ao apoio às vítimas do terremoto ocorrido no Chile.