Há condições de afirmar que Israel está sendo eficaz em enfraquecer o Hezbollah?
Vejo esse conflito como a doutrina (do presidente dos EUA, George W.) Bush em operação no coração do Oriente Médio. Antes essa doutrina estava em áreas periféricas, no Afeganistão e no Iraque. Agora, com esse episódio, ela está se expandindo.
Então essa não é uma ação independente de Israel?
Ela tem uma dinâmica que lhe é peculiar, mas não está fora da doutrina Bush. Bastava uma pressão dos EUA para regular o conflito, e essa pressão teria efeito quase que imediato sobre Israel.
Dentro do Líbano, que grupos ou pessoas estão interessados no enfraquecimento do Hezbollah?
O Hezbollah é cria indireta da ação israelense no passado, que expulsou os palestinos. Quem for controlar o Hezbollah pela força das armas, seja quem for, vai pagar um preço caro. Dentro do Líbano, nenhuma força política ou militar tem condição de se contrapor à força do Hezbollah.
E isso não torna legítimo o ataque de Israel ao Hezbollah?
Israel está atacando as consequências daquilo que ele mesmo provocou. Existe um Estado que possui um papel muito importante nesse aspecto todo, inclusive sobre o Hezbollah e o Líbano, que é a própria Síria. Parece que a Síria é o verdadeiro alvo dessa ação israelense. Talvez esse seja um processo de longo prazo, de mostrar que a Síria também é um Estado terrorista.
Mas com que intenção, por que a Síria financia o Hezbollah?
A Síria é um Estado rebelde dentro do contexto da "ocidentalização" do Oriente Médio. É como se você tivesse que derrubar um dominó. Derrubar a resistência palestina, derrubar o Saddam (Hussein, em julgamento no Iraque), derrubar agora a Síria, que tem influência sobre o Hezbollah e, por último, o desafio mais complexo, que é derrubar o Irã.
O senhor acredita num cessar-fogo a curto prazo?
Acho que não. O ataque vai continuar porque o Hezbollah tem uma grande estrutura subterrânea no Líbano. O objetivo do Exército de Israel é tentar neutralizar esse grupo, mas o preço será a destruição do Líbano, pelo menos é isso que a gente está vendo.