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Panorama

Anfitriã da Cúpula, Colômbia tenta superar estigma de caos e violência

O estereótipo da Colômbia - violenta, caótica, atrasada - parece ter nascido nos tempos atuais, conforme o exército e as guerrilhas combatiam entre si no interior e sombrios matadores assassinavam ativistas proeminentes.

Mas essa Colômbia parece mais distante a cada dia. Durante o encontro de presidentes e empresários na Cúpula das Américas neste final de semana, vai se falar de uma outra Colômbia: próspera, um ímã de investimentos, cada vez mais urbana e moderna.

É essa Colômbia que atraiu recorde de investimentos, cuja economia cresceu quase 6% no ano passado e que foi premiada com uma nota positiva de investimentos e agora pode pegar dinheiro emprestado mais barato do que alguns países da Europa ocidental.

Também é o mesmo país que finalmente está começando a se espelhar em vizinhos como o Brasil ao passar por uma expansão da classe média, que pode se transformar em um importante mercado consumidor, subproduto de ser o terceiro país mais populoso da América Latina, com 46 milhões de pessoas.

O Ministro das Finanças colombiano, Juan Carlos Echeverry, que se lembra de como ele era constantemente perturbado com perguntas sobre o tráfico de drogas quando ele estudou em Nova York, na década de 90, diz que, agora, ele tenta conquistar investidores estrangeiros conversando sobre "o milagre colombiano".

As projeções econômicas e demográficas, diz o ministro, mostram que a Colômbia vai ultrapassar a Argentina em alguns anos, tornando-se a segunda maior economia da América do Sul.

"As pessoas querem vir para a Colômbia", disse Echeverry, que foi assistente do presidente do Banco Central americano, Ben Bernanke, quando estudou economia na Universidade de Nova York. "Houve essa imensa, tectônica mudança no estereótipo da Colômbia, de terra prometida para terra desolada."

Mas a maioria dos colombianos não vê isso apenas como um estereótipo: na década de 80 e começo dos anos 90, o chefe do tráfico Pablo Escobar e seu bando assassinaram policiais e membros do alto escalão do governo e detonaram uma bomba em um avião. Doze anos atrás, estrategistas políticos temiam que um poderoso grupo rebelde pudesse tomar o poder. Colombianos ricos e educados fugiam do país. A economia sofria.

País cativa investidores

As mudanças desde então podem ser vistas de imediato nos aeroportos reformados, nos terrenos em construção em grandes cidades e nos negócios bilionários de companhias colombianas que operam na Bolsa de Valores de Nova York. Seguindo a tendência do Brasil e do Chile, companhias colombianas estão crescendo no exterior.

No ano passado, por exemplo, o conglomerado de Bogotá Suramericana bateu pesos-pesados do mercado de seguros como o Metropolitan Life e a Prudential para ganhar o controle das operações da ING em vários países latino-americanos, um negócio de US$ 3,7 bilhões (R$ 6,8 bilhões). O conglomerado de alimentos Nutresa instalou uma importante base no Caribe, com 30 mil funcionários. E a companhia de papel e impressão Carvajal S.A. se tornou, com aquisições no México e no Chile, a segunda maior companhia do setor na América Latina.

"A Colômbia começou a se tonar um protagonista na América Latina", disse o presidente da Suramericana, David Bojanini. "Companhias que operavam no limite há alguns anos começaram a focar recentemente em alcançar um nível internacional para competir em um mundo globalizado."

Dinheiro e tecnologia também estão entrando, uma mudança acentuada em relação a uma década atrás, quando o país estava imerso em conflitos e menos de US$ 2 bilhões (R$ 3,7 bilhões) em investimento direto de estrangeiros chegavam dentro de um ano. No ano passado, a soma alcançou US$ 14,5 bilhões (R$ 26,7 bilhões), um recorde, e membros do governo dizem que o número pode chegar a US$ 16 ou 17 bilhões (R$ 29,4 ou 31,3 bilhões) neste ano.

O chefe do departamento de pesquisa da América Latina, Clinton Carter, diz que ainda há uma "mentalidade atrasada" em relação à Colômbia, mas que está ficando cada vez mais fácil convencer investidores do potencial do país. O Frontier Strategy Group trabalha com mais de 500 companhias, a maioria com investimentos substanciais na região.

Carter listou as vantagens da Colômbia - um acordo de mercado livre com os Estados Unidos, a sua localização no centro do hemisfério, instituições mais estáveis do que em outros países vizinhos e uma mão de obra qualificada.

Renda cresce, desigualdade persiste

Ainda existe, claro, outra Colômbia, da pobreza e violência. O país está entre um dos mais injustos de uma região com a maior taxa de desigualdade social do mundo.

E embora as guerrilhas marxistas tenham perdido força, elas ainda são uma ameaça em estados remotos, apesar da longa ofensiva militar contra eles, parcialmente bancada por sucessivos governos americanos. Em algumas regiões, violência de traficantes ou de milícias pouco conhecidas, mas muito bem armadas, permanecem algo comum.

Mesmo assim, economistas e governantes dizem que a Colômbia está retirando pessoas da pobreza e que a classe média está se expandindo. É fácil encontrar evidências - os colombianos compraram seis vezes mais carros do que na década passada, enquanto também adquirem eletrodomésticos e computadores.

"Isso significa que famílias colombianas estão se capitalizando e têm agora uma renda maior", apontou o diretor da Associação Nacional de Empreendedores da Colômbia, Luis Carlos Villegas. "Acho que é a melhor renda que eles já tiveram na nossa história."

O presidente Santos disse que quase 1 milhão de empregos foram criados no ano passado e que uma variação nos impostos, além de outras reformas, foi planejada para diminuir o abismo na distribuição de renda.

"Se elas funcionarem", disse o presidente sobre as reformas "então vai haver uma incrível fonte de crescimento no mercado interno da Colômbia."

Entre companhias que estão se beneficiando do novo clima econômico é a desenvolvedora B.D. Promoters, que projeta um complexo no centro de Bogotá que vai incluir um shopping, escritórios, um hotel e duas torres, uma delas de 66 andares.

O diretor das operações da empresa na Colômbia, o catalão Emilio Borrella, contou que a companhia acredita que o projeto e outros similares vão servir como um catalisador na atual revitalização do centro da capital.

"Nós estávamos procurando por projetos para desenvolver no Leste Europeu", disse Borrella enquanto acompanhava as equipes de operários na obra - mas nada nos convenceu. Na Colômbia, não precisamos nem pensar duas vezes. Tudo que precisamos fazer foi chegar e dar uma olhada.

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