A organização humanitária Anistia Internacional denunciou nesta quarta-feira (19) que o governo interino de Honduras está permitindo a agressão contra civis e as detenções em massa, como forma de "punir" os que se manifestam contra o golpe de Estado, que retirou do poder o presidente Manuel Zelaya. Em um relatório divulgado em Washington, a AI afirmou que, "enquanto as violações de direitos humanos aumentam, a comunidade internacional deve buscar cada vez mais rápido uma solução à crise política".
Como forma de protesto, a ONG publicou em seu site uma série de fotos de pessoas agredidas, afirmando que as imagens são "testemunhas exclusivas que revelam o brutal tratamento dado pela Polícia e pelo Exército a manifestantes pacíficos na capital, Tegucigalpa".
A entidade informa também que as fotos e os depoimentos foram coletados por uma delegação que "se encontrou com muitas das 75 pessoas detidas" na Delegacia Metropolitana número 3 de Tegucigalpa, "depois que a Polícia, com apoio do Exército, reprimiu, em 30 de julho, uma manifestação pacífica".
"A maioria dos presos teve lesões em consequência dos golpes dos policiais, que usavam cassetetes, pedras e outros objetivos", indica o informe que denuncia também que os presos não foram informados "para onde iriam, porque tinham sido presos ou sob quais acusações".
Uma das representantes da AI, Esther Major, afirmou que "as detenções arbitrárias em massa e os maus-tratos contra os manifestantes são hoje motivos de grande preocupação em Honduras".
Nesta semana, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA), também enviou uma delegação para avaliar a situação dos direitos humanos no país. As informações são da agência Ansa.
Zelaya nega que partidários tenham ameaçado Micheletti
Manuel Zelaya negou nesta quarta-feira que seus partidários possam estar relacionados com as ameaças de morte recebidas por Roberto Micheletti, a quem acusou de ver "fantasmas".
Micheletti disse, na segunda-feira, que precisou reforçar sua segurança depois de receber ameaças de morte, as quais sugeriu terem partido de seguidores do seu antecessor.
"As suposições do senhor Micheletti acho que circulam mesmo nos seus fantasmas, que o levaram a cometer esse erro contra os hondurenhos. Os que estão com rifles, com a força das armas, são os golpistas que ele encabeça", afirmou Zelaya a jornalistas no palácio do governo de Lima, onde foi recebido pelo presidente peruano, Alan García.
Ao denunciar as ameaças, Micheletti não aludiu à sua procedência concreta nem aos meios pelo qual foram realizadas.
Zelaya faz atualmente uma viagem pela América Latina para estimular os líderes regionais a manterem sua pressão contra o governo interino e a não reconhecerem os resultados da eleição presidencial marcada para novembro. Ele já esteve recentemente com os presidentes de Brasil, Chile e México.
O presidente deposto afirmou ainda que seu retorno a Honduras é "iminente," mas será pacífico. "Sinto-me de mãos limpas para regressar a Honduras", afirmou.
Apesar de o golpe ter sido condenado pela comunidade internacional, o governo provisório insiste que a destituição de Zelaya foi legítima e que ele será preso se tentar voltar ao país. O golpe teve apoio de empresários, líderes religiosos e vários grupos políticos.
As negociações em torno da crise estão paralisadas, enquanto o governo provisório rejeita a participação do secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, em uma comissão mediadora que tenta dar novo impulso ao chamado Acordo de San José, proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias.
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