O governo britânico e a Anistia Internacional criticaram o Irã por exibir pela TV a confissão de uma mulher condenada à morte por adultério, e disseram que Teerã aparentemente está inventando uma nova acusação de homicídio contra ela.
Sakineh Mohammadi Ashtiani, que atraiu solidariedade internacional após ser condenada à morte por apedrejamento, apareceu na quarta-feira na TV iraniana, aparentemente confessando o adultério e falando sobre o assassinato de seu marido.
A chancelaria britânica se disse nesta quinta-feira assustada com a confissão televisionada, e preocupada com a acusação, feita por um advogado de Sakineh, de que a confissão teria sido obtida sob tortura.
"Convidamos as autoridades iranianas a realizarem uma profunda revisão do caso dela, e pedimos que cumpram as obrigações internacionais relativas aos direitos humanos, às quais independentemente aderiram", disse a chancelaria em nota.
A entidade de direitos humanos Anistia Internacional disse que "confissões" pela TV têm sido repetidamente usadas pelas autoridades iranianas. Muitos dos acusados posteriormente recuaram das confissões, declarando que haviam sido coagidos a fazê-las, às vezes sob tortura, disse a nota.
"Parece que as autoridades do Irã orquestraram essa 'confissão', seguindo o apelo de uma revisão judicial, e agora parecem estar inventando novas acusações de ter matado o marido dela", afirmou Hassiba Hadj Sahraoui, subdiretora do programa de África do Norte e Oriente Médio da Anistia.
"Declarações feitas nessas conversas televisionadas não deveriam ter valor no sistema jurídico iraniano, nem o apelo pela revisão do seu caso. Este novo vídeo mostra nada além da falta de provas contra Sakineh Ashtiani."
Sakineh, mãe de dois filhos, recebeu 99 chibatadas por ter relações ilícitas com dois homens. O apedrejamento foi suspenso à espera de uma revisão judicial, mas uma fonte da Justiça disse que essa pena não está descartada.
A Anistia disse ter entendido que um advogado da ré apresentou na semana passada um pedido de revisão judicial, cujo resultado era esperado por volta de 15 de agosto.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu asilo no Brasil para a mulher, que no entanto foi rejeitado pelo Irã.