| Foto: THAER MOHAMMED/AFP

Uma menina de 7 anos usa o Twitter para narrar seu cotidiano – inclusive os bombardeios que testemunha – em Aleppo, na Síria, cidade onde vive com a família. Bana al-Abed ganhou mais de 200 mil seguidores no Twitter, enquanto ela e a família documentavam a luta para sobreviver em Aleppo, devastada pela guerra. Ela ganhou mais atenção depois que sua mãe, Fatemah, alertou sobre bombardeios no bairro em que a família vive. Um ‘sumiço’ temporário da rede social também alarmou seus seguidores.

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Tudo começou com uma mensagem angustiante no domingo (4), em apenas três frases curtas: “Temos certeza de que o Exército vai nos capturar agora. Nós nos veremos outro dia, querido mundo. Tchau.” O tuíte foi assinado por Fatemah. A família já havia fugido de um bairro na semana anterior, depois que a casa em que viviam foi destruída por um bombardeio. No domingo (5), a mãe fez um novo alerta na conta de Bana. “Sob ataque. Nenhum lugar para ir, cada minuto parece a morte. Rezem por nós. Tchau”, dizia o recado.

Na manhã de terça-feira (6), outra mensagem chegou de Aleppo, mais esperançosa e escrita por Bana. “Olá meus amigos, como estão? Estou bem”, tuitou Bana, dizendo estar recuperada de uma gripe. “Estou ficando melhor, já sem remédios, mas com muito bombardeio. Sinto falta de vocês.”

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Na quarta-feira (7), Fatemah voltou a usar a conta, para alertar sobre mais um bombardeio. “Nossa casa e bairro caíram para o exército. Estamos presos sob bombas que não param desde a última noite”, relatou.

A mãe criou o perfil no Twitter no final de setembro, e Bana – uma criança com cabelos longos e escuros, grandes olhos castanhos e uma voz melodiosa – rapidamente se tornou o mais novo símbolo dos horrores que ocorrem na Síria. Ela compartilhou o medo dos bombardeios noturnos, tuitou fotos de edifícios destruídos e também faz desabafos sobre como é viver em meio à guerra. Usuários das redes sociais e a imprensa internacional tomaram conhecimento de Bana.

Diário virtual

Mais de 70 anos depois que uma adolescente holandesa escreveu o diário que narrou a vida de sua família escondida dos nazistas, Bana tornou-se a Anne Frank da guerra civil síria – com a diferença de que, desta vez, o mundo está assistindo à história se desdobrar no presente, momento a momento, sem nenhuma ideia de como o conflito terminará.

Morta num campo de concentração, Anne Frank nunca soube o quanto se tornou famosa. Mas Bana, segundo a mãe dela disse a jornalistas, sempre entendeu que estranhos seguiam suas palavras. As mensagens não são reflexões privadas, mas um grito público de socorro. Em um vídeo postado em outubro, a menina olha para uma cidade escura, enquanto bombas são despejadas. “Olá mundo, você ouviu isso?”, murmura ela. As mãos tapam as orelhas. A cada explosão, seu pequeno corpo se encolhe.

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