Quando em maio passado o ministro indiano da Energia se levantou para falar ao Parlamento, o plenário repentinamente ficou escuro, causando uma gargalhada no recinto.
Apagões intermitentes são parte do cotidiano da Índia, onde a produção elétrica é incapaz de atender à demanda de uma economia que cresce com rapidez e de uma população que está em ascensão econômica. Mas nesta semana, quando uma enorme parcela do país passou dois dias no escuro, ninguém viu motivo para rir.
Três das cinco redes indianas de transmissão entraram em colapso na terça-feira, afetando Estados onde vivem mais de 670 milhões de pessoas, o que é mais de metade da população. Esse blecaute, um dos piores já ocorridos no mundo, ocorreu após uma situação semelhante na véspera no norte do país.
Não ficou claro o que provocou as falhas.
O governo central acusa governos estaduais de ultrapassarem sua cota de acesso às redes elétricas, e há também quem culpe as chuvas excepcionalmente fracas na temporada das monções, que teriam obrigado os agricultores a recorrerem à irrigação artificial, elevando a demanda por energia.
Mas problemas arraigados na geração e distribuição indicam que o fiasco desta semana pode se repetir. "Muitas coisas foram ignoradas. Tantas coisas não foram feitas. É falta de iniciativa e iniciativa errada, política errada e política nenhuma", disse o ex-ministro de Energia Suresh Prabhu, hoje na oposição.
Prabhu afirmou que o setor energético está caótico e pode sofrer um colapso se nenhuma medida for tomada rapidamente.
A Índia tem uma capacidade instalada de 205 gigawatts, cerca de 35 por cento a mais do que há cinco anos, graças a um agressivo programa governamental de ampliação. Mas isso ainda representa apenas um quinto da capacidade da China, único país mais populoso que a Índia. Nas horas de pico há um déficit energético de até 10 por cento na Índia, e isso que cerca de um terço dos indianos não tem acesso à rede elétrica nacional.
Esforços para acelerar o ritmo da expansão têm sido afetados por obstáculos que atrapalham a aquisição de terrenos e os licenciamentos para projetos energéticos, por questões regulatórias e ambientais.
Dados do governo mostram que a demora média na construção de usinas termoelétricas está em cerca de 15 meses, mas que algumas delas estão há anos paradas nas pranchetas.
É o caso do bilionário projeto de Anil Ambani para instalar uma usina de 7,48 gigawatts no Estado de Uttar Pradesh (norte). Uma década depois do anúncio do projeto, ele continua fora de operação, por causa de protestos de agricultores locais contrários às desapropriações, e de um processo judicial que continua tramitando na Suprema Corte.
A escassez de carvão e gás natural também atrapalha a instalação de novas usinas e faz com que muitas unidades existentes operem abaixo do seu potencial. Estima-se que haja uma capacidade ociosa em torno de 15 gigawatts.
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