Repercussão
Comunidade internacional se mostra cautelosa
Agência Estado
O acordo para troca de combustível com o Irã, firmado após conversas entre o presidente Lula, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, foi recebido com cautela pela comunidade internacional.
Para a diretora do escritório de Relações Exteriores da União Europeia (UE), Baroness Ashton, trata-se de "um movimento na direção correta, mas não responde a todas as preocupações levantadas sobre o programa nuclear do Irã".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, afirmou que o acordo "não resolve o problema fundamental, que são as sérias suspeitas que a comunidade internacional tem sobre as intenções pacíficas do programa nuclear do Irã."
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) quer uma "notificação por escrito" de Teerã sobre o acordo por escrito. "Estamos agora esperando uma notificação por escrito do Irã de que concorda com as relevantes cláusulas incluídas na declaração", afirmou Tudor.
O Reino Unido repetiu a afirmação do secretário-geral da ONU. "O Irã tem a obrigação de garantir à comunidade internacional suas intenções pacíficas", disse o alto funcionário da chancelaria britânica, Alistair Burt.
Já o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, defendeu o acordo. "Precisamos fazer consultas com todos os lados, incluindo o Irã e então determinar o que fazer em seguida."
O acordo nuclear anunciado ontem por Brasil, Turquia e Irã não bastou para convencer os EUA das intenções pacíficas do programa atômico iraniano. A Casa Branca afirmou que seguirá pressionando por novas sanções do Conselho de Segurança da ONU a Teerã.
"Dadas as repetidas vezes em que o Irã falhou em cumprir suas promessas e a necessidade de lidar com questões fundamentais relacionadas ao programa nuclear iraniano, os EUA e a comunidade internacional continuam a ter sérias preocupações, afirmou Robert Gibbs, porta-voz da Casa Branca, ecoando reações semelhantes de outros membros permanentes do conselho.
Para o governo americano, o entendimento anunciado ontem é "vago sobre a disposição do Irã de se reunir com os países do P5 + 1 [EUA, Reino U nido, França, Rússia, China e Alemanha] para lidar com as preocupações internacionais acerca de seu programa nuclear.
No acordo mediado pelos governos brasileiro e turco, o Irã se comprometeu a entregar seu estoque de urânio pouco enriquecido para a Turquia no prazo de um mês após a aceitação do trato pela AIEA (agência atômica da ONU).
O documento foi assinado ontem em Teerã na presença dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Mahmoud Ahmadinejad e do premiê turco, Recep Tayyip Erdogan.
O acordo tem como base a proposta apresentada pela AIEA em outubro, que prevê o envio de 1.200 quilos de urânio do Irã para o exterior em troca do elemento enriquecido em nível adequado para abastecer um reator nuclear de Teerã usado em pesquisa médica.
Mas o texto assinado ontem inclui alterações significativas que levaram o Irã a aceitá-lo. A principal mudança é que a Turquia, e não a França ou a Rússia, seja depositária do urânio iraniano.
Enriquecimento continua
O acordo deixa no ar alguns pontos obscuros. Não está clara, por exemplo, qual a quantidade real de estoque de urânio de Teerã não se sabe se 1.200 quilos representam dois terços do estoque total, como era estimado em outubro, ou pouco mais de metade.
O texto também não impede que o Irã continue enriquecendo o resto do estoque ontem mesmo um porta-voz da Chancelaria iraniana anunciou que o país seguirá enriquecendo urânio a 20% dentro do país. Esse anúncio foi citado pelos EUA como um motivo para desconfiar da eficácia do acordo Brasil/Turquia/Irã.
Visão do Brasil
As preocupações americanas não encontram eco na diplomacia brasileira. "Aquelas garantias que [as potências ocidentais] desejam para poder começar uma conversação séria e para deixar de lado o caminho das sanções estão totalmente preenchidas, disse o chanceler Celso Amorim, afirmando que o acordo serve para "criar confiança".
A mesma posição foi defendida por Ahmadinejad. "É hora de iniciar diálogo com o Irã com base na honestidade, justiça e respeito mútuo.
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