Após a série de protestos contra o governo interino do Egito nesta sexta-feira (16), no que foi chamado "dia da fúria" pela Irmandade Muçulmana, os partidários do presidente deposto Mohammed Mursi convocaram mais uma semana de protestos pelo país começando a partir de amanhã.
"Chamamos o povo egípcio e as forças nacionais para protestar diariamente, até que o golpe acabe", diz o grupo islâmico em um comunicado, em alusão ao ato que derrubou o presidente islâmico em 3 de julho.
Os islamitas anunciaram também o fim dos protestos de hoje, que já deixaram pelo menos 72 mortos e dezenas de feridos. "As manifestações acabarão com as últimas orações da noite (previstas para por volta das 15h de Brasília), que serão seguidas de orações pelos mortos", afirmou à agência France Presse Gehad al-Haddad, porta-voz do grupo.
O governo egípcio disse que enfrenta um "plano terrorista" da Irmandade Muçulmana e convocou os cidadãos à unidade nacional, apelando para que não atendam as chamadas das divisões islamitas.
No Cairo, milhares de islamitas ocuparam as principais ruas, pontes e praças em direção à praça Ramsés. No ponto de encontro, islamitas e a polícia trocaram tiros e as forças de segurança disparam gás lacrimogêneo.
O fotógrafo da Folha Joel Silva, 47, foi atingido por um disparo de raspão na cabeça. Ele fotografava protestos de islamitas ao redor da cidade quando houve um confronto entre apoiadores e opositores de Mursi.
Na segunda maior cidade egípcia, Alexandria, pelo menos cinco pessoas morreram e mais de 40 ficaram feridas. Também houve cinco mortos e 70 feridos na cidade de Fayoum, no sul egípcio.
As manifestações foram convocadas dois dias após o massacre ocorrido na operação policial que desalojou dois acampamentos da Irmandade Muçulmana, entidade a que Mursi é filiado, que deixou pelo menos 638 mortos e mais de 4.000 feridos.
Munição
As marchas acontecem após o governo interino do Egito autorizar oficialmente ontem o uso de armas e munição letal contra tentativas de depredar prédios do governo e ataques às forças de segurança. A polícia disse na quarta que havia usado apenas balas de borracha na ação que terminou no massacre.
O grupo de ativistas Tamarod, que deu início aos protestos que derrubaram Mursi em julho, pediu, em rede nacional, que cidadãos tomem as ruas para proteger o povo egípcio dos manifestantes islamitas, em especial impedindo que se repitam os ataques a mesquitas e igrejas.
Enquanto isso, o governo interino cercou a praça Tahrir, uma das principais do Cairo e onde estão militantes liberais, contrários a Mursi e partidários do governo estatal. A intenção é evitar que os islamitas invadam a região.
As Nações Unidas pediram que ambas as partes usem "máxima contenção", diante da perspectiva de ser deflagrada no Egito uma guerra civil. O massacre de quarta-feira está sendo considerado o dia mais violento na história moderna do Egito.
A crise política foi iniciada em 3 de julho, com a deposição do presidente islamita Mohammed Mursi, hoje detido em local desconhecido. Após milhões terem ido às ruas pedindo sua renúncia, diante do fiasco econômico, as Forças Armadas tomaram a si a tarefa de impor uma transição política no país.Veja fotos dos conflitos nesta sexta